Esculturas Vênus de Milo e Diadúmeno - Getty Images
Arqueologia

Esculturas greco-romanas eram perfumadas no passado, revela estudo

As famosas esculturas greco-romanas em mármore branco que podem ser vistas em museus pelo mundo, no passado, eram coloridas e perfumadas; entenda!

Éric Moreira Publicado em 17/03/2025, às 11h52 - Atualizado em 18/03/2025, às 07h10

Há muito tempo, estudiosos já sabem que as famosas estátuas greco-romanas, que já foram escavadas aos montes e podem ser vistas em diversos museus pelo mundo, não eram inteiramente em mármore branco como as conhecemos hoje. No passado, elas eram pintadas com cores ricas, decoradas com tecidos e joias e, segundo um novo estudo, eram até mesmo perfumadas.

Em um novo estudo publicado no Oxford Journal of Archaeology, a arqueóloga Cecilie Brøns, curadora do museu Glyptotek, em Copenhague, na Dinamarca, recorreu a textos e inscrições clássicas, contemporâneas às esculturas, com a intenção de explorar os significados que essas estátuas perfumadas poderiam ter nas antigas práticas religiosas e culturais.

E no estudo, é enfatizada a importância do perfume no adorno das estátuas, em especial as de divindades. Por exemplo, em suas fontes literárias, o orador romano Cícero indica a prática da unção de estátuas com óleos perfumados; em Segesta, na Sicília, a estátua de Ártemis também já recebeu pomadas aromáticas em meio a atividades rituais.

Há também referências à prática em inscrições do Santuário de Delos, na Grécia, que falam sobre os custos e ingredientes para os perfumes das estátuas de Ártemis e de Hera, incluindo azeite de oliva, cera de avelha, natrão ou carbonato de sódio com perfumes de rosas.

O poeta Calímaco também já mencionou fragrâncias em uma estátua da rainha Berenice II, do Egito, acrescentando que ela estava "úmida com perfume" — o que ainda indica que a tradição não era exclusiva a divindades, mas até à realeza.

Escultura 'Gaulês moribundo' / Crédito: Getty Images

 

Experiência sensorial

Segundo o Archaeology News, além do valor religioso, as esculturas perfumadas forneciam aos adoradores e expectadores uma experiência multissensorial, que era valorizada em diferentes aspectos. Por exemplo, em festivais como o Floralia em Roma, eram adicionadas guirlandas perfumadas de rosas e violetas a elas.

Para preservar os aromas, escultures e assistentes antigos empregavam técnicas próprias. Uma delas era chamada de ganosis, e consistia em misturar ceras e óleos, e espalhá-los nas estátuas. Autores clássicos como Vitrúvio e Plínio, o Velho, referem-se também ao uso de cera pôntica e óleos especiais para reter o brilho e coloração das esculturas, ao mesmo tempo que exalavam uma fragrância agradável.

Outra prática documentada era chamada de kosmesis, que ia além da perfumação, cobrindo as estátuas com tecidos finos e joias. O geógrafo grego Pausanias, por exemplo, relata que a famosa Estátua de Zeus em Olímpia era regularmente ungida com azeite de oliva, o que protegia seus componentes de marfim do clima úmido da região.

Por mais que esses perfumes tenham desaparecido há muito tempo, antes mesmo das pinturas, exames científicos das estátuas revelaram que, de fato, há evidência que apoiam esses relatos, como traços de cera de abelha no retrato da rainha Berenice II, e a existência de oficinas de perfume em Delos.

Dessa forma, o trabalho de Brøns coloca em questão a antiga crença de que as esculturas clássicas eram objetos puramente visuais. Em vez disso, ela sugere que as estátuas eram acompanhadas por uma experiência sensorial mais rica e imersiva, acrescentando maior profundidade religiosa, fazendo-as serem consideradas como personificações vivas de deuses e outras figuras reverenciadas.

Com isso, a nova descoberta fomenta uma reconsideração sobre como era o envolvimento com a arte pelo público antigo. Agora, reconhecendo que as esculturas não eram apenas observadas, mas até mesmo cheiradas, historiadores e arqueólogos têm uma compreensão mais profunda sobre o papel sensorial na antiguidade.

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