Caso surpreendente foi descrito em artigo publicado na revista científica Alzheimer's & Dementia, da Associação de Alzheimer
Giovanna Gomes Publicado em 05/03/2025, às 14h26
Pesquisadores da Universidade de Pittsburgh e da Universidade da Califórnia em Irvine estão analisando um caso raro de uma mulher com Alzheimer que não desenvolveu demência, um quadro associado à perda cognitiva. O caso foi descrito em um artigo publicado na revista científica Alzheimer's & Dementia, da Associação de Alzheimer.
A paciente, diagnosticada com síndrome de Down (SD), fazia parte de um grupo com mais de 90% de risco de desenvolver Alzheimer ao longo da vida. Durante uma década, ela foi acompanhada por pesquisadores das universidades, sem apresentar sinais da doença.
De acordo com o portal O Globo, após seu falecimento, por volta dos 60 anos, seu cérebro foi doado para exames de ressonância magnética de alta resolução na Universidade de Pittsburgh. Segundo Jr-Jiun Liou, pesquisadora do departamento de bioengenharia da instituição, o objetivo inicial era investigar mecanismos cerebrais ligados à síndrome de Down.
“Estávamos interessados em tentar estabelecer uma ligação entre neuroimagem e neuropatologia, porque queremos usar informações de conjuntos de dados neuropatológicos para orientar critérios diagnósticos e terapêuticos para indivíduos com síndrome de Down antes de seu falecimento”, explicou Liou em um comunicado.
No entanto, os resultados surpreenderam os cientistas. Apesar de a paciente não ter demonstrado declínio cognitivo, exames revelaram alterações cerebrais típicas do Alzheimer, incluindo o acúmulo da proteína beta-amiloide.
“Antes de ela falecer, todas as avaliações clínicas realizadas ao longo dos anos indicavam que ela estava cognitivamente estável, o que torna este caso tão fascinante”, afirmou Liou. “Apesar de a patologia de seu cérebro indicar Alzheimer, acreditamos que sua estabilidade cognitiva pode estar relacionada ao seu alto nível educacional ou a fatores genéticos subjacentes.”
Os pesquisadores mencionam que o caso contribui para o crescente debate sobre a resistência ao declínio cognitivo em indivíduos com neuropatologia de Alzheimer. Entre as possíveis explicações, destacam-se três hipóteses principais:
Reserva cognitiva – Pessoas com maior nível educacional tendem a apresentar menor comprometimento cognitivo. No caso da paciente, seu nível educacional era notavelmente superior ao de outros indivíduos com síndrome de Down de sua geração, o que pode ter contribuído para uma maior resistência ao Alzheimer.
Vantagem genética – Algumas mutações podem conferir resistência ao desenvolvimento da demência, o que pode ter ocorrido com a paciente.
Reserva cerebral – Indivíduos com maior densidade sináptica e mais neurônios saudáveis podem necessitar de um maior acúmulo da doença para manifestar sintomas.
Os pesquisadores acreditam que estudos como esse podem melhorar ferramentas de diagnóstico e auxiliar na inclusão de pacientes com patologias "ocultas" do Alzheimer em ensaios clínicos para novos medicamentos.
“Ensaios clínicos geralmente possuem critérios de aceitação restritos, mas, se mais indivíduos com esse tipo de patologia ‘oculta’ do Alzheimer forem incluídos, os tratamentos podem se tornar mais eficazes”, destacam os autores do estudo.
Além disso, a análise de casos como esse pode ajudar a identificar fatores genéticos e de estilo de vida que contribuem para a preservação cognitiva.
“Se conseguirmos identificar as bases genéticas ou os fatores de estilo de vida que permitiram que seu cérebro funcionasse bem apesar da patologia, poderemos descobrir estratégias que beneficiem outras pessoas”, afirmou Elizabeth Head, professora de Patologia e Medicina Laboratorial da Universidade da Califórnia em Irvine, que acompanhou a paciente. “Este estudo demonstra como a participação de apenas uma pessoa na pesquisa pode levar a descobertas profundas.”
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