Tal pai, tal filho. E no caso da mãe, a expressão também se encaixa muito bem
Vítor Soares, professor de História Publicado em 06/12/2021, às 21h00 - Atualizado em 25/03/2022, às 08h00
Carlos Marighella hoje é um dos nomes de esquerda que mais anda na boca das pessoas. O filme biográfico sobre o homem que não teve tempo de ter medo, foi dirigido por Wagner Moura e estreou em 2019. Mas no Brasil, só foi pôde ser lançado em 2021.
Segundo o diretor houve uma clara perseguição ao lançamento do filme por parte de membros do atual governo. Mas independentemente do lançamento, o protagonista interpretado pelo músico e ator Seu Jorge é uma figura que divide opiniões.
Tendo lutado contra duas ditaduras diferentes, sendo preso algumas vezes e defendendo a luta armada como uma solução para as arbitrariedades do Estado, Marighella deixa claro que era uma pessoa incendiária.
Mas ao estudarmos um pouco mais sobre a sua história, percebemos que talvez essa revolta seja algo que esteja literalmente em seu DNA.
O pai de Marighella o italiano Augusto Marighella, que veio ao Brasil como imigrante e a mãe era a baiana Huassás Maria Rita do Nascimento. Os Huassás eram negros de origem muçulmana que foram sequestrados do atual norte da Nigéria, para serem escravizados aqui no Brasil. A grande maioria foi para a Bahia e Pernambuco.
A mãe de Marighella trabalhou boa parte da sua vida como empregada doméstica, trabalhando em uma casa de franceses. Maria Rita nasceu livre, justamente em 1888 - ano em que a escravidão era oficialmente proibida no Brasil. Mas seus pais de origem muçulmana foram escravizados por praticamente toda a vida.
Os Huassás serão um dos principais personagens durante a Revolta dos Malês, uma revolta de pessoas escravizadas em Salvador, em 25 de janeiro de 1835 — no fim do Ramadã. Mais de 600 pessoas escravizadas se mobilizaram. Mas além dos Huassás, também estavam os nagôs (adeptos de religiões de matriz africana). Inclusive, a palavra Malê é uma abrevição da palavra Imalê que é uma expressão em Iorubá que significa muçulmano.
Dentre os revoltosos, estavam os avós de Marighella, correndo em suas veias o sangue do inimigo número 1 da Ditadura.
Temendo que acontecesse no Brasil algo parecido com o que havia acontecido no Haiti em 1791, as punições aos revoltosos foram severas. Prisões, açoites, deportações e execuções ocorreram aos montes pelos próximos dias em Salvador. Felizmente, os avós de Marighella sobreviveram.
De acordo com o jornalista Mário Magalhães, autor do livro "Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo", por mais que Augusto Marighella não tenha participado de movimentos políticos, ele era anticlerical e crítico ferrenho dos militares.
Quando Augusto veio ao Brasil e conheceu Maria Rita, o casal fez questão de estimular o desenvolvimento intelectual do pequeno Carlos Marighella, o primeiro dos sete filhos.
É notório que o jovem rapaz teve uma educação privilegiada. Aos 4 anos de idade já era alfabetizado e mais tarde no ginásio, respondeu uma prova de física com versos.
A influência dos pais na vida de Marighella se torna ainda mais clara quando descobrimos um pouco sobre o seu passado. A revolta e o sentimento incendiário já estavam dentro do homem que não teve tempo de ter medo, antes mesmo dele começar a falar.
No episódio de hoje do podcast ‘Desventuras na História’, o professor de História Vítor Soares, dono do podcast 'História em Meia Hora', resgata a história de Carlos Marighella, em um especial dividido em duas partes.
No 'Desventuras na História', você também pode conferir a trajetória de Maria Antonieta, Dante Alighieri, Alexandre, O Grande, Gengis Khan e Dom Pedro I.
Abaixo, você confere o episódio 'A intensa saga de Carlos Marighella' #Parte 1 e #Parte 2:
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