Depois de vários erros históricos sobre onde D. Pedro, de fato, declarou a Independência do Brasil, especialista chegou à conclusão sobre o local preciso
Redação Publicado em 03/08/2022, às 15h24 - Atualizado em 06/09/2022, às 16h20
Em 7 de setembro de 1822, Pedro de Alcântara, então príncipe regente do Brasil, recebeu correspondências do Rio de Janeiro trazidas pelo mensageiro Paulo Bregaro enquanto estava na colina do Ipiranga, em São Paulo.
A esposa do nobre, Maria Leopoldina, recomendava que o marido prestasse atenção no que José Bonifácio havia escrito na outra carta, em que estavam descritas as ameaças de Portugal — que havia ordenado seu retorno ao país pouco tempo antes. No texto, Bonifácio recomendava ainda a Pedro que se tornasse imperador do Brasil.
Demorou apenas alguns minutos para que a decisão fosse tomada e, em posição de combate, D. Pedro I declarasse a independência.
A proclamação veio após uma conversa com o padre Belchior, que o acompanhava na viagem, e aconteceu em meio a Guarda de Honra e do seu cortejo pessoal. A declaração teatral foi narrada mais tarde pelo ajudante de ordens Canto e Melo.
Embora seja um episódio extremamente importante para a história do Brasil, ao longo dos anos, muitos especialistas questionaram a romantização do evento e o que realmente aconteceu naquela época. Mais importante ainda: onde isso aconteceu, de fato?
Pesquisadores se mobilizam há décadas para confirmar onde exatamente aconteceu o célebre grito da proclamação da independência dado por Dom Pedro I, cuja localização já foi erroneamente definida algumas vezes.
Embora não exista erro em afirmar que tudo ocorreu "às margens do Ipiranga", como é declarado na maioria dos livros de história, faltam detalhes sobre a localização precisa.
O episódio não teria acontecido na Casa do Grito, nem mesmo na região ocupada pelo Monumento à Independência, áreas conhecidas da região, geralmente atribuídas como os locais onde "Independência ou Morte" teria sido ecoado por Pedro.
Em estudo divulgado no ano passado, o engenheiro especializado em cartografia histórica Jorge Pimentel Cintra, ligado à Escola Politécnica e ao Museu do Ipiranga, sugeriu um novo ponto para esse evento histórico, após uma longa investigação.
É importante ressaltar que a pesquisa não levou em consideração a famosa e icônica tela pintada por Pedro Américo em 1888 — que romantiza o evento histórico e não tem como principal característica o realismo.
A decisão fora anunciada por Pedro na área onde hoje está a ala esquerda do parque da Independência para quem está de frente para o museu, situada entre a Casa do Grito e a rua dos Patriotas, onde há somente árvores, segundo apuração exclusiva da Folha de S. Paulo.
Para que pudesse chegar à nova conclusão, o pesquisador se baseou na ata de uma sessão da Câmara Municipal de São Paulo de setembro de 1825, em que havia sido realizada uma discussão para marcar o ponto exato.
Os vereadores paulistas chamaram Canto e Melo e outras testemunhas para que pudessem demarcar com precisão o local, onde uma baliza foi fincada. Mas isso não durou muito, pois 40 dias depois, por motivos desconhecidos, ocorreu um erro e a baliza foi retirada.
Para tentar reparar o problema, uma pedra foi colocada a cerca de 200 metros ao sul do lugar correto, causando uma imprecisão que não foi corrigida até então. O objeto possuía função de marco histórico e ficaria situado onde hoje está o jardim francês.
Já no começo do século 20, outra imprecisão acabou dificultando ainda mais essa história, quando o primeiro diretor do Museu do Ipiranga, o alemão Hermann von Ihering, decidiu que seria implementado um mastro de madeira no ponto certo após pesquisas perceberem a falha na localização.
Aquela poderia ter sido a chance de descobrirmos onde aconteceu o “Independência ou Morte”, mas uma remodelação na região do parque entre 1920 e 1922, em ocasião do centenário da Independência, fez com que o marco fosse removido.
Como as obras fizeram com que nada fosse colocado em seu devido lugar novamente, não adiantou: ficou por aquilo mesmo. E, segundo destacou Cintra, desde aquela época, não houve mais pesquisas registradas sobre o tema.
A partir da ata daquela primeira sessão dos vereadores, o especialista foi capaz de descobrir que o local estava a 184 braças da cabeceira da ponte sobre o riacho do Ipiranga, o que, nas medidas de hoje, equivale a 404,8 m, visto que uma braça é 2,2 m.
Depois de obter os dados através do documento, Cintra confrontou as informações com mapas antigos reproduzidos em programas de cartografia digital, usando, ainda, um GPS no terreno para ter a experiência completa.
A investigação do pesquisador já foi entregue ao secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo de Castro, responsável pela administração do parque da Independência e está sob avaliação.
A saga do coração de Dom Pedro I é relembrada no podcast 'Desventuras', apresentado pelo professor de História Vítor Soares. Confira abaixo!
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