Dividida em seis episódios, a série documental 'Hitler e o Nazismo: Começo, Meio e Fim' estreia nesta quarta, 5; veja detalhes
Fabio Previdelli Publicado em 04/06/2024, às 18h00
Dois terços da geração millennial (nascidos entre 1982 e 1994) não sabem o que é Auschwitz. O dado alarmante foi divulgado em 2018 por um estudo da Conferência sobre Reivindicações Materiais Judaicas Contra a Alemanha, repercutido pelo The Washington Post.
O fato gerou uma enorme preocupação no cineasta Joe Berlinger e gerou um questionamento: será que as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial por Hitler e pelo Terceiro Reich estão perdidas na memória moderna?
"Fico chocado com o grau em que as pessoas desconhecem ou esqueceram esta história", disse Berlinger ao Tudum, da Netflix. "Este é o momento certo para recontar esta história para uma geração mais jovem como um conto de advertência — e em escala global".
Vale ressaltar, porém, que essa não é a primeira vez que surge o alerta sobre os perigos de esquecermos as lições deixadas pelo Holocausto. Tal preocupação já havia sido levantada logo após o fim do conflito.
Sendo assim, em 1960, o jornalista William L. Shirer publicou 'A Ascensão e Queda do Terceiro Reich'. Com 1.250 páginas, mergulha na história de Hitler e seu regime cruel. A obra vendeu milhões de cópias em todo o mundo e ganhou o National Book Award.
Agora, nesta próxima quarta-feira, 5 de junho, a Netflix lança a série documental 'Hitler e o Nazismo: Começo, Meio e Fim', dirigida por Berlinger e baseada na perspectiva de Shirer.
Esta série documental mostra a ascensão de Adolf Hitler e do regime nazista desde antes da Primeira Guerra Mundial até o Julgamento de Nuremberg, passando pelo Holocausto", diz a sinopse. Saiba mais sobre 'Hitler e o Nazismo: Começo, Meio e Fim'!
'Hitler e o Nazismo: Começo, Meio e Fim' é enquadrada pelos Julgamentos de Nuremberg — que processou, julgou e executou a sentença de 24 altos membros da liderança nazista — do qual Shirer acompanhou de perto; explora a chocante ascensão, que chegou ao poder por meio de campanhas alimentadas por propaganda, censura e antissemitismo; além da queda do líder do Terceiro Reich.
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Na opinião de Berlinger, é justamente o testemunho do jornalista o diferencial da produção, afinal, William L. Shirer foi um dos últimos profissionais de imprensa ocidentais a deixar a Alemanha — ele saiu do país apenas no final de 1940, ou seja, quando a Segunda Guerra já completava um ano. Assim, podemos dizer que ele narrou a ascensão de Hitler ao poder sentado na primeira fila.
Sentimos agora, mais do que nunca, que era importante dar vida às suas palavras", disse Berlinger, ainda ao Tudum.
Para isso, a produção utilizou a tecnologia da Inteligência Artificial para permitir que Shirer "falasse" como narrador ao longo de seis episódios pelos quais o documentário foi dividido.
"Esses eventos ocorreram numa época em que dependíamos de repórteres e jornalistas estacionados em países estrangeiros para relatar as notícias ao público americano, e William Shirer estava em uma posição única como um dos poucos correspondentes americanos que reportavam da Alemanha durante os anos cruciais de A ascensão de Hitler e os primeiros anos da guerra", contextualizou o diretor.
Muitos dos seus relatórios foram censurados na Alemanha, mas ele teve a coragem de contrabandear os seus diários correndo grande risco pessoal".
Além de dar uma nova perspectiva aos relatos de Shirer, 'Hitler e o Nazismo: Começo, Meio e Fim' apresenta materiais inéditos sobre o tema: como recriações cinematográficas, imagens de arquivo e testemunhos de áudio, nunca ouvidos, de Nuremberg.
Outro ponto que chama a atenção e torna a narrativa ainda mais emocionante e cativante é sua trilha sonora, visto que grande parte das músicas usadas na série são composições de vítimas do Holocausto.
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Segundo Berlinger, a ideia partiu de um amigo de sua esposa, o produtor musical Ira Antelis; que havia realizado um concerto no Carnegie Hall que deu vida a composições criadas por músicos judeus mortos no Holocausto.
Na sequência da nazificação, das Leis Raciais de Nuremberg e dos horrores do Holocausto, a criação musical tornou-se uma forma de os judeus europeus expressarem a sua humanidade", explicou o diretor.
"Não foram apenas os sofrimentos dos judeus sob o regime nazista que se refletiram nas letras ou na composição de suas músicas — temas de sobrevivência, fé, liberdade e esperança surgiram nos guetos e campos de concentração", relatou.
Para isso, importante ressaltar, Berlinger e sua equipe fizeram a diligência para encontrar os detentores dos direitos de muitas das músicas apresentadas na partitura, que variavam de compositores conhecidos que escreveram músicas antes de entrar nos campos de extermínio até pessoas comuns que compuseram as canções enquanto estavam nos campos.
A trilha sonora foi reorquestrada para a série por Antelis, ao lado do compositor Serj Tankian do System of a Down. "[Tankian] passou a sua carreira defendendo o reconhecimento do genocídio armênio, um precursor do Holocausto. É algo que lhe dá uma conexão espiritual profunda com o material", conta.
Diretor de 'O Paraíso Perdido: Assassinatos de Crianças em Robin Hood Hill' e da série 'Conversando com um Serial Killer' (da própria Netflix, onde apresenta os casos de Jeffrey Dahmer, Ted Bundy e John Wayne Gacy), Joe Berlinger também possui uma ligação sentimental com o tema.
À Variety, o diretor se descreveu como "um homem cultural e etnicamente judeu" que cresceu em um "lar muito secular". Indicado ao Oscar na categoria Melhor Documentário de Longa Metragem por 'Paraíso Perdido 3' (2012), ele diz que sua trajetória no cinema se deve "à minha obsessão pela história alemã".
"Quando eu era adolescente, fui exposto a algumas das imagens da libertação do Holocausto que estão no programa", disse Berlinger. "E como qualquer jovem que vê aquela filmagem, fiquei absolutamente horrorizado".
Depois de ver essa filmagem, fiquei obcecado com a ideia de que, se eu tivesse nascido naquela época, teria sido preso e assassinado. Então, eu queria entender como tal mal poderia ter acontecido, a tal ponto que me formei em alemão na faculdade e me tornei fluente no idioma".
"Isso me levou a uma oportunidade de trabalhar para uma agência de publicidade americana em seu escritório em Frankfurt, onde me encontrei em sets de comerciais de TV — foi aí que me apaixonei pelo cinema", finalizou.
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