Em apresentação histórica do Nirvana, Kurt Cobain usou vestido, cuspiu na câmera e mostrou o pênis para transmissão
Wallacy Ferrari Publicado em 23/06/2022, às 20h20 - Atualizado em 11/09/2022, às 17h00
Em 1993, o festival Hollywood Rock trazia ao Brasil, em duas capitais, algumas das maiores bandas da história de maneira inédita ao Brasil; tratava-se da primeira passagem dos rapazes do Alice in Chains, Red Hot Chilli Peppers e Nirvana em terras tupiniquins, configurando uma das maiores plateias da história destes conjuntos.
O Nirvana, liderado pelo vocalista Kurt Cobain, chamou ainda mais atenção por sua trajetória, tanto no primeiro show, realizado no Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o popular Morumbi, em São Paulo, quanto no segundo, realizado na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, com este último contando com transmissão televisiva pela TV Globo e ao vivo pelo Multishow.
A apresentação já iniciava em uma situação contrastante; repleto de jovens, o festival era patrocinado por uma marca de cigarros, além de contar com uma banda underground, ou seja, que fazia questão de se desvincular com a mídia popular, ironicamente como atração popular, tocando para mais de 100 mil pessoas, sendo a maior plateia já enfrentada pelo trio.
Tal ocasião transformou a esperada apresentação em um protesto no palco, com direito aos membros da banda usando vestidos femininos, destruição de instrumentos musicais e, sendo o ponto alto do choque, Kurt Cobain cuspindo na câmera da Globo instalada no palco e, em seguida, a abaixando em direção a sua região pélvica e mostrando o pênis, cena que foi cortada a tempo na transmissão.
Mesmo assim, o ato foi capaz de causar polêmica e estampar páginas de jornais, gerando revolta na classe conservadora e, em especial, em parlamentares que ocupavam cadeiras no Congresso Nacional Brasileiro, fazendo questão de subir ao palanque para manifestar repúdio em relação a passagem dos roqueiros no Brasil.
Na semana seguinte do show, realizado em 23 de janeiro de 1993, um sábado, o tema ainda estava em pleno debate, conforme levantado na Câmara dos Deputados pela primeira vez pelo então deputado federal Antônio de Jesus, representante de Goiás.
Sua fala, descrita pelo Diário da Câmara dos Deputados do dia 28 de janeiro do mesmo ano, foi a primeira a manifestar repúdio ao ato, inicialmente com uma crítica aberta a veículos de imprensa e ao festival no geral.
"A transmissão do Hollywood Rock, por exemplo, deixou muitas famílias perplexas, sem saber os efeitos degenerativos desses acontecimentos. Muitos perguntam se os Deputados não vão tomar uma medida contra o que vem acontecendo em algumas programações televisivas, que chegam às raias da aberração”, afirmou o deputado.
A publicação seguinte, datada de 2 de fevereiro de 1993, contou com críticas mais incisivas no palanque do Congresso, estas partindo do deputado João de Deus Antunes, representando do Rio Grande do Sul na época. Iniciando sua fala ao classificar a televisão brasileira como "lixo", ele critica a banda de Seattle diretamente, deixando claro que não é conservador, mas que a televisão interfere na constituição moral da família brasileira.
Ao bel-prazer de um câmera apresenta-se, Sr. Presidente, aquela cena grotesca, horrenda, em que os integrantes do grupo Nirvana, no show "Hollywood Rock", no Rio, tiram a roupa e depois se masturbam em frente às câmeras de televisão. Isso, Sr. Presidente, não quer dizer que somos o Terceiro Mundo, mas que'estamos no baixo mundo. Isso é uma vergonha? Não temos palavras para classificar esse ato”, manifestou.
Por fim, o deputado sugere que as cenas "dantestas, grotescas, como as da apresentação desse grupo Nirvana" não sejam mais replicadas ou ocorridas no país. Mesmo sendo uma solicitação, as palavras do político se concretizaram devido ao fim da banda no ano seguinte, em decorrência do falecimento precoce do vocalista, aos 27 anos.
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