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Cinema

Qual foi a primeira exibição de cinema no Brasil?

O dia 5 de novembro, quando a sétima arte chegou em terras canarinhas, é de se comemorar pelos entusiastas do cinema

Daniel Bydlowski, cineasta Publicado em 06/11/2022, às 16h00

Comemoramos o Dia do Cinema Nacional em 19 de junho, mas em 5 de novembro também há muito que celebrar e se considera comemorativa ao tema também; a data marca a primeira exibição pública cinematográfica no Brasil, que ocorreu em 1896.

A apresentação realizada apenas para a elite carioca continha oito pequenos filmes, com mais ou menos um minuto cada um, e aconteceu na Rua do Ouvidor. Ainda, outros dizem que a data de celebração em novembro seria por conta do aniversário de Paulo César Saraceni, cineasta brasileiro renomado que nasceu em 1932.

A primeira obra oficial considerada como contribuição brasileira ao cinema foi o longa ‘Chegada do Trem em Petrópolis’, de 1897. Apesar de que há rumores que as gravações não foram feitas na estação carioca, mas sim na Europa.

A produção cinematográfica no Brasil sempre foi muito volátil, e nem tanto compreendida pelos próprios brasileiros e pelo mundo. Para entender as obras, precisamos considerar as raízes nacionais de cada história, afinal, os cineastas canarinhos tendem a retratar o que acontece com o povo que aqui habita.

No início, o documentário era o gênero que mais tinha evidência, podemos considerar que ‘A Vista da Baía de Guanabara’ (1898), por Affonso Segretto – imigrante italiano, motivo pela comemoração do dia 19 de junho, foi o primeiro documentário feito, nele o cinegrafista filmou sua chegada ao Rio de Janeiro de navio. Porém, não há nenhuma cópia da produção preservada e muitos chegam a questionar sua existência. Já em 1917, ‘Rituais e Festas Borôro’, de Major Thomas Reis, narrou costumes indígenas de bororo.

Avançando um pouco no tempo, o Instituto Nacional de Cinema Educativo (Ince), criado nos anos 30, foi palco para a produção de diversos documentários, que acabaram por ser utilizados como críticas sociais, principalmente a partir dos anos 60, como exemplos, ‘Aruanda’ (1959) de Linduarte Noronha e ‘Arraial do Cabo’ (1960) de Paulo Saraceni.

Atualmente, o Brasil é um dos países que mais produzem documentários e, além disso, se tornou uma referência para o gênero. As Chanchadas também tomaram conta do espaço nas telonas, entre os anos de 1930 e 1960, que também explorava a cultura nacional com mistura de drama e comédia, de forma extremamente exagerada. Inclusive, Carmen Miranda foi consolidada com gênero, ao fazer Alô, Alô, Brasil (1935) e Alô, Alô, Carnaval (1936).

Finalmente, na década de 60 chegamos ao Cinema Novo, que aborda uma corrente muito mais politizada. Alvo de censura durante a Ditadura Militar, as produções denunciavam as desigualdades e pobreza da população brasileira. Alguns exemplos são: ‘O Desafio’ (1965), ‘Terra em Transe’ (1967) e ‘O Bravo Guerreiro’ (1968).

E para comemorar um dia tão importante para a arte brasileira, vou elencar uma produção de cada gênero que realmente ajuda a celebrar o cinema nacional:

Documentário

O ‘Edifício Master’ (2002) é a primeira vez que o diretor Eduardo Coutinho ganha notoriedade. O documentário mostra a vida de 37 moradores de um conjunto na praia de Copacabana de perto. Os temas abordados são muitos e as falas dos entrevistados são expostas sem cortes, música de fundo, ou mesmo sobressaltos. A premissa é entender como se mantem um lugar onde mora tantas pessoas livre de preconceitos nos espaços comuns. A produção mostra um olhar sem julgamentos.


Chanchada

‘O Homem do Sputnik’ (1959), de Carlos Manga, nos traz um dos melhores momentos do gênero. Um homem simples acredita que um satélite russo caiu em um galinheiro, mas a notícia se espalha mais do que deveria e causa uma perseguição com muitos espiões, que inclusive um deles é interpretado pelo então novato Jô Soares. A comédia fica extremamente evidente e muito bem elaborada, um filme a frente do seu tempo, sem dúvidas.


Cinema Novo

Em ‘A grande cidade’ (1965), de Cacá Diegues, misturou o olhar ao sertão e às grandes cidades. A narrativa em torno de quatro personagens que tem a vida entrelaçada uma com a outra, tem uma perspectiva bastante contestadora de Alagoas e do Rio de Janeiro, especificamente o Morro da Mangueira. Descobertas e um pouco de vida sofrida, este, de fato, é o Cinema Novo.


Sobre o autor

O cineasta brasileiro Daniel Bydlowski é membro do Directors Guild of America e artista de realidade virtual. Faz parte do júri de festivais internacionais de cinema e pesquisa temas relacionados às novas tecnologias de mídia, como a realidade virtual e o future do cinema. Daniel também tenta conscientizar as pessoas com questões sociais ligadas à saúde, educação e bullying nas escolas. É mestre pela University of Southern California (USC), considerada a melhor faculdade de cinema dos Estados Unidos.

Atualmente, cursa doutorado na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. Recentemente, seu filme Bullies foi premiado em NewPort Beach como melhor curta infantil, no Comic-Con recebeu 2 prêmios: melhor filme fantasia e prêmio especial do júri. O Ticket for Success, também do cineasta, foi selecionado no Animamundi e ganhou de melhor curta internacional pelo Moondance International Film Festival.

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