Criador de universos fantásticos, amizade de Lewis com a verdadeira Alice se tornou assunto
Pamela Malva Publicado em 16/05/2020, às 09h00
Existe aquele tipo de pessoa que, independentemente da idade, tem uma alma infantil e uma facilidade incrível em lidar com o lúdico. Na Era Vitoriana, Lewis Carroll era o maior expoente dessa personalidade quase inocente.
Realmente apaixonado por crianças e por sua criatividade, o famoso autor criou um universo novo e o chamou de País das Maravilhas. Poucos sabem, no entanto, que a história da menina que caiu em um poço foi inspirada em uma Alice do mundo real.
A relação bastante próxima entre Lewis e a menina, além de dar vida à um sonho fantástico, gerou diversas polêmicas e questionamentos. Alice, ao final das contas, tinha apenas dois anos de idade quando conheceu o escritor.
O homem por trás da fantasia
Charles Dodgson nasceu em Daresbury, uma vila da Inglaterra, em 1832. Terceiro dos onze filhos de um clérigo anglicano, o menino passou grande parte de sua vida criando histórias para seus irmãos mais novos.
Aos 18 anos, matriculou-se em Oxford e, ao conquistar seu diploma, passou a lecionar matemática na faculdade. Estudioso e levemente recluso, Charles virou um reverendo, diácono da Igreja Anglicana, seguindo os passos do pai.
Solteiro desde os tempos da faculdade, Charles virou o estereótipo de um tio cuidadoso e carinhoso enquanto cuidava dos filhos de seus amigos. Ele tinha um verdadeiro dom para cuidar de crianças, que, por sua vez, adoravam o personagem.
Uma nova família
Em meados de 1855, a família Liddell chegou à igreja de Charles. Com filhos lindos, verdadeiramente angelicais, Henry e Lorina se aproximaram do reverendo, um homem gentil que parecia adorar crianças.
Charles logo criou uma relação próxima com Harry, o filho mais velho dos Liddell. Com a confiança dos pais, o clérigo planejava jogos, passeios e piqueniques com o menino e suas irmãs mais novas. Ele se divertia com a inocência e carismo pequenos.
A amizade se manteve por anos e, durante uma tarde, Charles contou à Alice, irmã de Harry, sobre uma história que ele criara, em 1862. Os olhos da menina brilharam assim que ela descobriu o nome da protagonista: era o mesmo que o dela.
A musa de um livro
Alice Liddell, aos 10 anos, ficou encantada com o mundo criado por Charles e pediu que ele fizesse um livro sobre a história. Assim, em 1865, sob o pseudônimo de Lewis Carroll, o autor publicou o primeiro exemplar de Alice no País das Maravilhas.
Entretanto, a pequena Alice não era a inspiração de Lewis apenas para suas criações literárias — biógrafos afirmam que ele ainda escreveu poemas sobre a menina. Ela ainda era sua modelo fotográfica favorita.
Aspirante à fotógrafo, Lewis fez aproximadamente 3 mil imagens durante toda sua vida. Destas, pouco mais da metade são de crianças. Algumas delas têm Alice e seus irmãos como protagonistas. Outras, cerca de 30 fotos, contam com crianças nuas ou semi-nuas — um costume comum para a sociedade vitoriana.
A máscara de um criador
Apesar da relação harmoniosa entre Lewis e os Liddell, o autor parou de se encontrar com a família de forma abrupta, em 1863. Os nomes dos pequenos sumiram dos seus diários de repente e eles não se falaram durante meses.
Enquanto os registros históricos não dizem muito sobre o período, diversos biógrafos, como Morton N. Cohen, afirmam que o motivo é simples. Lewis teria demonstrado interesse romântico por Alice e, frente à uma resposta negativa, se afastou da família.
Para Will Brooker, autor de Alice no País das Maravilhas: Lewis Carroll na Cultura Popular, o escritor criativo nunca foi um homem exemplar. Segundo o biógrafo, Lewis era o tipo de pessoa que “você não gostaria que seus filhos conhecessem”.
Da década de 1930 em diante, dezenas de biógrafos passaram a analisar o relacionamento de Lewis e Alice. Para muitos, o autor, morto em 1898, demonstrava inclinações para a pedofilia, ainda que nada tenha sido comprovado. Os três trabalhos mais conhecidos eram os de Donald Thomas, Michael Bakewell e Morton Cohen.
Anne Clark, a biógrafa de Alice Liddell, afirmou que os familiares da menina tinham a impressão de que Lewis queria se casar com ela. Para Karoline Leach, no entanto, o autor se interessava apenas por mulheres mais velhas, incluindo Lorina Liddell.
Em 1934, Ame Goldschmidt, estudante de Oxford, publicou o ensaio Alice no país das maravilhas psicanalisado. Na obra, o escritor afirma que Lewis suprimia seus desejos sexuais por Alice. Segundo o autor, diversos símbolos do interesse de Carroll foram representados na obra infantil de 1865.
*Com informações da Smith Sonian Magazine;
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