Um dia antes de sua morte, o ativista pediu a união dos negros e defendeu o protesto não violento
Letícia Yazbek Publicado em 03/04/2020, às 08h00
Em 3 de abril de 1968, o ativista americano Martin Luther King Jr. proferiu o discurso I've Been to the Mountaintop (“Eu Estive no Topo da Montanha”, em tradução livre), no Mason Temple, sede mundial da Igreja de Deus em Cristo, em Memphis.
Em seu discurso, King apoiou uma greve de saneamento que ocorria na cidade e pediu que os ativistas negros se unissem e protestassem de forma não violenta. “Em algum lugar eu li sobre a liberdade de reunião. Em algum lugar eu li sobre a liberdade de expressão. Em algum lugar eu li sobre a liberdade da imprensa. Em algum lugar eu li que a grandeza da América está no direito de protestar por direitos”, declarou à multidão.
King também defendeu boicotar os produtos “de brancos” como meio de protesto não violento. Segundo ele, um negro sozinho não tem força econômica, mas, juntos, vários negros têm o poder de impedir o apoio a empresas racistas. “Saia e diga aos seus vizinhos para não comprarem Coca-Cola em Memphis. Vá e diga-lhes para não comprar leite Sealtest.”
Perto do fim do discurso, King falou sobre a morte e sobre as ameaças à sua vida – naquele dia, seu voo para Memphis havia atrasado devido a uma ameaça de bomba em seu avião. O ativista parecia prever sua morte, mas afirmava que não tinha medo dela:
“Bem, eu não sei o que vai acontecer agora. Nós temos alguns dias difíceis pela frente. Mas isso realmente não importa para mim agora, porque eu já estive no topo da montanha. E eu não me importo. Como qualquer um, gostaria de viver uma vida longa. [...] Eu só quero fazer a vontade de Deus. E ele me permitiu subir a montanha. E eu olhei. E eu vi a Terra Prometida. Eu não posso chegar lá com vocês. Mas quero que vocês saibam hoje à noite que nós, como povo, chegaremos à Terra Prometida! E estou feliz esta noite. Eu não estou preocupado com nada. Eu não estou com medo de homem algum. Meus olhos viram a glória da vinda do Senhor.”
Após o discurso, Martin Luther King Jr. foi para o Lorraine Motel, onde estava hospedado. No dia seguinte, 4 de abril de 1968, por volta das 18 horas, enquanto conversava com amigos na sacada do quarto, levou um tiro no pescoço. Levado ao hospital, King passou por uma cirurgia torácica, mas faleceu às 19h05.
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