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Muito além do Titanic

Operação de busca dos destroços do famoso navio tinha interesse militar

Guilherme Gorgulho Publicado em 01/08/2008, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

Em pleno período da Guerra Fria, a missão que encontrou os destroços do Titanic, e que oficialmente não tinha nenhum propósito militar, na verdade, era apenas um estratagema para uma incumbência maior: localizar e investigar os restos de dois submarinos nucleares americanos.

A operação de busca do cruzeiro, desaparecido em 1912, com 1,5 mil pessoas a bordo, foi coordenada em 1985 pelo oceanógrafo americano Robert Ballard. Ele foi bancado pela Marinha dos Estados Unidos, com a condição de que o estudioso investigasse antes o local que abrigou, no fundo do mar, os submarinos USS Thresher e USS Scorpion, que afundaram com quase 230 tripulantes na década de 1960. “Eu não podia dizer a ninguém. Havia muita pressão sobre mim. Era uma missão secreta. Achei que era uma troca justa para ter a chance de procurar o Titanic”, declarou Ballard ao jornal britânico The Times.

Uma das principais motivações dos militares americanos era saber como se comportavam os reatores nucleares dos submarinos depois de tanto tempo imersos no fundo do oceano Atlântico. “Entregamos as informações aos especialistas. Eles nunca nos disseram a que conclusão chegaram”, disse Ballard.

A Marinha financiou duas expedições do oceanógrafo, uma para encontrar o Thresher perto da costa leste dos EUA, a outra para localizar os destroços do Scorpion na porção oriental do Atlântico. Considerado o mais avançado submarino militar de seu tempo, o Thresher afundou com todos os 129 tripulantes, em abril de 1963, ao realizar testes de navegação, após alguns reparos. Uma falha no sistema de resfriamento do reator nuclear fez que a embarcação perdesse propulsão e descesse a uma profundidade tão grande, que provocou a implosão do casco.

Sumiço misterioso

Cinco anos depois, o Scorpion desapareceu misteriosamente com 99 homens, em um episódio que levantou a suspeita de que o naufrágio pudesse ter sido causado por um ataque das forças da União Soviética. No entanto, segundo Ballard, uma análise visual do que sobrou do submarino mostra que a causa mais provável da destruição tenha sido um mau funcionamento de um torpedo do próprio Scorpion.

Com apenas 12 dias para iniciar a busca do Titanic depois de cumprir as duas missões secretas, Ballard utilizou um conhecimento obtido com a investigação dos submarinos – sobre os efeitos das correntes marítimas em destroços – para poder localizar o cruzeiro. Sabendo que as partes mais pesadas afundam primeiro, o oceanógrafo traçou uma trilha com os vestígios seguindo o curso das correntes e chegou em tempo recorde ao Titanic. Sua hipótese de que o cruzeiro havia se partido em dois e deixado um rastro de destroços acabou se comprovando.

 

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