Para historiador, americanos terão de rever a política externa
Clarice Spitz Publicado em 17/06/2009, às 07h47 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36
Em tempos de pânico nos mercados, o governo americano tem pela frente o desafio de colocar a economia nos eixos. Para isso, será necessário contar com o apoio de outros países - e isso vai obrigar os Estados Unidos a mudar sua política externa. Nesse contexto, a eleição de Barack Obama veio em boa hora. É assim que pensa o historiador Pierre Mélandri. Professor da Universidade Paris III, na Sorbonne, ele acaba de lançar na França o livro Histoire des États-Unis Contemporains ("História dos Estados Unidos contemporâneos", sem edição em português).
A eleição de Obama é sinal de uma verdadeira mudança?
Sim, representa uma ruptura essencial na imagem do país. As pessoas que detestam os americanos acreditam em um imperialismo branco, ao qual se atribui um número considerável de injustiças. A chegada ao poder do filho de um africano valoriza uma das características mais positivas do país: os Estados Unidos são a primeira nação universal da História.
A economia vai dominar a agenda do novo presidente?
O essencial será impedir que a situação se degrade e, se possível, melhorá-la. Para isso, Obama terá que contar com os outros países. Os Estados Unidos estão endividados, e quando você deve dinheiro não pode mais ignorar o ponto de vista de seus credores estrangeiros.
A crise financeira tende a mudar a política externa americana?
Sem dúvida. Por exemplo: quando se injeta 1 trilhão de dólares para salvar o sistema bancário, será que ainda é possível continuar a conduzir indefinidamente as operações no Iraque, que custam cerca de 100 bilhões de dólares todos os anos? Estamos acostumados a ver os Estados Unidos como uma superpotência. Isso até pode ser verdade no plano militar, mas bem menos nas esferas econômica e financeira.
É possível manter a hegemonia militar sem o respaldo da economia?
Evidentemente não. Obama não se cansa de repetir que será difícil para os Estados Unidos preservarem sua influência internacional se o governo não colocar ordem na situação interna. A questão é saber se, à medida que a "Pax Americana" não poderá mais ser a mesma, a comunidade internacional conseguirá estabelecer as bases de uma nova ordem multilateral.
O recente colapso das Bolsas se parece com o de 1929?
Há diferenças reais, assim como semelhanças evidentes. A primeira diferença é que o sistema internacional não é mais o mesmo. Após a Grande Depressão, a economia americana se dotou de mecanismos estabilizadores. É pouco provável que se repita o nível de miséria da década de 1930. Além disso, agora os governos reagem rápido para minimizar os danos.
E as semelhanças?
São duas crises globais em períodos de avanços tecnológicos: a difusão do uso da eletricidade e do petróleo como fontes energéticas da década de 1920 e, nos anos 1990, a revolução da informática. Ambos criaram um sentimento de euforia, e com ela a ilusão de que se poderia escapar de crises.
SAIBA MAIS
Livros:
Histoire des États-Unis Contemporains, Pierre Mélandri, André Versaille, 2008 - Explica os Estados Unidos hoje a partir dos fatos mais marcantes de seu passado.
A História dos Estados Unidos desde 1895, Pierre Mélandri, Edições 70, 2006 - Descreve como o país saiu arrasado da Guerra Civil e, décadas depois, já era uma grande potência.
Oswaldo Aranha: O brasileiro que presidiu a assembleia que determinou a partilha da Palestina
Quando enganar o outro virou “conto do vigário”?
Otan x Pacto de Varsóvia: Mundo já esteve refém de suas trocas de ameaças
10 particularidades sobre a Guerra do Paraguai
Georgi Zhukov: o homem que liderou as batalhas mais importantes da URSS na Segunda Guerra
Liberdade, Igualdade, Fraternidade: Há 230 anos, era aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão