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Guerra do Golfo: vitória inevitável

Os Estados Unidos conseguiram derrotar os iraquianos com o apoio de aliados, mas não prenderam Saddam

01/01/2006 00h00 Publicado em 01/01/2006, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

Não era exatamente uma boa hora para invadir o Kuwait. Sem a ajuda dos vizinhos árabes – apenas Jordânia e Iêmen deram apoio, sem mandar soldados –, Saddam Hussein comprou uma briga difícil.

Para complicar o cenário, George Bush logo conseguiu a colaboração de 33 nações. Algumas forneceram médicos, outras mandaram soldados, a maioria deu dinheiro. A estratégia, as tropas e o comando eram americanos, mas os Estados Unidos pagaram apenas 12% dos cerca de US$ 70 bilhões, o custo total da guerra. O Kuwait, a Arábia Saudita e demais países do golfo Pérsico responderam por mais da metade do dinheiro – US$ 36 bilhões.

Uma das mais importantes batalhas foi vencida por George Bush no segundo dia de guerra, no campo diplomático: ele convenceu Israel a não reagir aos mísseis Scud lançados pelo Iraque. Depois da primeira noite de bombardeios, Saddam viu que as tropas da Coalizão eram superiores a seu exército, considerado, então, o quarto maior do mundo. Se Israel entrasse no conflito, os países árabes iriam para o lado do Iraque. E, com eles do outro lado da trincheira, a história seria diferente.

Sete Scuds foram lançados contra Telavive e Haifa no dia 18 de janeiro, deixando mais de 50 pessoas feridas. Bush pediu ao primeiro-ministro israelense, Yitzhak Shamir, que não reagisse e mandou o exército lancar mísseis antiaéreos Patriot para interceptá-los em Israel. Cinco dias depois, outro Scud atingiu Telavive, matando 3 pessoas. A eficiência do Patriot foi questionada. Bush conteve o ânimo dos israelenses até o fim da guerra.

A propaganda das armas high-tech de precisão cirúrgica não foi favorável aos americanos. A idéia de uma guerra limpa, sem a morte de inocentes, foi bem-recebida em todo o mundo. Não foi o que aconteceu.

Morreram aproximadamente 100 mil iraquianos na Guerra do Golfo. O governo de Saddam declarou que mais de 30% eram civis. Os Estados Unidos garantem que o número de civis mortos não passou de 5 mil. É difícil dizer o número exato, já que milhares de corpos foram enterrados em valas comuns no deserto e na cidade. Cerca de 150 mil militares desertaram e outros 70 mil viraram prisioneiros de guerra sob o controle da Arábia Saudita. Do Kuwait, morreram 30 mil pessoas, entre civis e militares. Dos Estados Unidos e dos demais países da Coalizão, o número de militares mortos não passou de 500.

Com a cooperação internacional garantida, a superioridade militar e uma estratégia eficaz, os americanos acabaram vencendo a guerra no golfo Pérsico. “Imagine o Iraque como um corpo humano. O que acontece se você tira as habilidades de alguém para pensar e se comunicar com o resto do corpo? O que acontece se você corta a coluna vertebral de alguém? Ele não pode funcionar, certo?”, disse o coronel David Deptula, um dos responsáveis por selecionar os alvos estratégicos que a Coalizão destruiu no Iraque e no Kuwait, em entrevista para a PBS (Public Broadcasting Service) 5 anos depois do conflito.

Alvos-chave, como instalações elétricas e pontes, foram os primeiros a ser atacados. Os óbvios, como os soldados na fronteira, foram os últimos. A lista de endereços estratégicos a ser bombardeados passou de 84 para 480 em apenas 2 semanas de guerra. Na reta final, 1,2 mil alvos iraquianos preestabelecidos foram atingidos. O país acabou esmagado, mas Saddam Hussein saiu ileso. Como os mísseis inimigos não o encontraram, ele se considerou vitorioso.

Como vingança por ter sido expulso do Kuwait, Saddam mandou seu exército incendiar mais de 700 poços de petróleo, destruindo toda a produção local. Meio milhão de toneladas de poluentes aéreos provocaram uma chuva ácida no Irã e na Arábia Saudita e ondas de neve negra na região da Cachemira. Antes da invasão, a produção do Kuwait era de 2,4 milhões de barris por dia. No fim da guerra, não havia mais nada. Foram necessários três anos e mais de US$ 5 bilhões para sua total recuperação. Atualmente, o país já superou essa marca, chegando a 2,5 milhões de barris diários.

O Kuwait teve sua recuperação acompanhada de perto pelos Estados Unidos. Já Saddam incomodaria os EUA e o próprio Iraque por mais uma década.

 

Saddam livre!

Ele era o principal alvo dos ataques aéreos na Guerra do Golfo. Nos primeiros bombardeios a Bagdá, seu palácio foi atingido. Depois de se esconder em abrigos antibombas, saiu ileso do conflito. Em abril de 1991, a ONU determinou que Saddam teria de permitir a inspeção e destruição de suas instalações de armas químicas e nucleares e parar a repressão contra xiitas e curdos. Nada foi cumprido. O Iraque sofreu embargos econômicos e ataques aéreos. Em 1996, os EUA bombardearam de novo o país, quando o exército de Saddam invadiu a região de minoria curda. Os iraquianos assistiram a tudo mais empobrecidos. Saddam continuou no poder por mais de uma década, contra todas as expectativas.

Fogo nos poços de petróleo

Durante a Guerra do Golfo e a volta para casa, as tropas de Saddam Hussein atearam fogo em mais de 700 poços e abriram depósitos cheios de petróleo do Kuwait, derramando 6 milhões de barris no golfo Pérsico. O país ficou sob uma nuvem de fumaça que até hoje é responsável por câncer e problemas respiratórios e cardíacos na população. Centenas de lagos de petróleo surgiram no deserto. Uma mancha de 1 000 km2 tomou conta do mar do golfo Pérsico, destruindo aproximadamente 1,3 mil quilômetros de praias e matando milhares de corais, peixes, pássaros e tartarugas.

Diante da indignação internacional, Saddam acusou os Estados Unidos de não estar preocupados com o meio ambiente numa entrevista à CNN em 1991: “Se minhas tropas usarem o petróleo como uma arma, estarão agindo em legítima defesa, já que os americanos foram os primeiros a destruir o meio ambiente, atacando nossas instalações petrolíferas e afundando todos os nossos navios”. Em setembro de 1995, o Kuwait apresentou a conta da Guerra do Golfo: US$ 385 milhões por crime ambiental.

 

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