Enquanto espalha tensão pela Ásia, Coreia do Norte sustenta um regime de adoração pelo presidente atual
Maria Beatriz Mussnich Pedroso Publicado em 18/12/2009, às 05h26 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36
Quando morreu, em 1994, o ditador norte-coreano Kim Il-sung foi levado para o céu sobre as asas de centenas de cegonhas. Dez dias depois, as aves, impressionadas com as lágrimas dos cidadãos, devolveram o líder ao povo. Acabou sucedido por seu filho, Kim Jong-il, cujo nascimento foi saudado por dois arco-íris. Certa vez, Jong-il estava num campo nevado quando ganhou um buquê. Começou a agitar as flores até que a neve derretesse.
Essas histórias fictícias são narradas a todas as crianças norte-coreanas em idade escolar. E o povo as repete como verdades. No país mais fechado do mundo, os dois Kim, pai (o "grande líder", que depois de morto ganhou o título de "presidente eterno da nação") e filho ("o líder querido"), são tratados como heróis sobre-humanos. Aos 68 anos, Kim Jong-il parece novamente disposto a desestabilizar o relacionamento com os vizinhos Coreia do Sul, China e Japão. Em um prazo de poucos dias, o presidente lançou mísseis balísticos, realizou dois testes nucleares e declarou que não se obriga a cumprir o cessar-fogo em vigor com a Coreia do Sul desde 1953 (quando os dois países interromperam uma guerra de três anos e criaram na fronteira uma zona desmilitarizada).
Na terra de Kim Jong-il, o metrô da capital, Pyongyang, tem as estações "glória" e "paraíso". Uma estátua de bronze de 15 metros de altura, que homenageia seu pai, é passagem diária de peregrinos. O ano zero do calendário é 1911, data de nascimento do líder anterior. As praças são ocupadas com treinamentos de evacuação ou por crianças ensaiando danças para as festividades nacionais. Nas madrugadas, o silêncio é interrompido de hora em hora por canções patrióticas. Enquanto isso, na falta de comida, famílias do interior cozinham cascas de árvore com argila.
A Coreia é habitada há 5 mil anos e já foi território dos maiores impérios asiáticos. Desde 1945, a península está rachada em duas. A nova onda de agressividade pode esconder uma transição. Kim Jong-il está doente e tem um sucessor: Kim Jong Un, seu filho de 26 anos. "O regime prega a coletividade, mas mantém a mesma família no poder", diz Luis Rebelo Fernandes, professor de Relações Internacionais da PUC-RJ.
Fome, frio e armas
A rotina do país de Kim Jong-il é marcada pelas dificuldades
23 milhões de habitantes (pouco mais que em Minas Gerais) vivem em...
120 mil Km2 de território (pouco menos que o Amapá)
1700 dólares é a renda per capita anual dos norte-coreanos (6 vezes menor que a brasileira)
1,2 milhão de militares formam o quarto maior Exército do mundo
44% das crianças são subnutridas
20ºC negativos é a temperatura mínima no inverno
2 milhões morreram em uma crise de fome nos anos 90
9 milhões de pessoas estão separadas da família desde a Guerra da Coreia, interrompida em 1953
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