Com apenas nove semanas, Millvina Dean era a pessoa mais nova a bordo do RMS Titanic, que naufragou na madrugada entre 14 e 15 de abril de 1912
Éric Moreira Publicado em 03/03/2024, às 13h00
No dia 10 de abril de 1912, o então maior navio de passageiros do mundo, o "inafundável" RMS Titanic, pariu do porto de Southampton, na Inglaterra, em uma viagem rumo à Nova York, nos Estados Unidos. Porém, o percurso foi interrompido na madrugada entre os dias 14 e 15, após embarcação colidir com um iceberg, resultando no naufrágio mais famoso de toda a história.
Estima-se que, das 2.224 pessoas a bordo do RMS Titanic, 1.517 morreram logo após o navio afundar, menos de três horas depois de atingir o iceberg. Fora estes, 1.160 corpos nunca foram encontrados, e outros 340 na superfície, utilizando coletes salva-vidas, mas que não sobreviveram. 705 sobreviventes foram resgatados.
Essa história foi razão para tanto fascínio desde que aconteceu, a ponto de nunca ser esquecida, e ter virado referência quando falamos sobre naufrágios. Outra razão para ser lembrado até hoje é, por exemplo, o filme 'Titanic' (1997), de James Cameron.
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Assim como retratado no filme, quando as pessoas foram evacuadas do navio, mulheres e crianças eram prioridades, de forma que muitos dos sobreviventes se enquadravam nesses grupos.
Nesse contexto, surgiu a história de Millvina Dean, a criança mais jovem a bordo — e, também, foi por um bom tempo considerada a última sobrevivente do Titanic, até sua morte em 31 de maio de 2009, aos 97 anos. Veja seus relatos abaixo!
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Filha de Bertram Frank Dean e Georgette Eva Light, Millvina e sua família — que também contava com seu irmão mais velho, Bertram Jr. — eram passageiros da terceira classe do RMS Titanic.
Eles migravam com direção aos Estados Unidos em busca de uma nova vida no Kansas. Porém, tudo mudaria na fatídica madrugada entre 14 e 15 de abril daquele ano.
Ouviram um tremor, um barulho tremendo, e meu pai disse: 'Vou subir no convés para saber o que aconteceu'. Ele voltou e disse: 'Aparentemente o navio bateu em um iceberg. Tire as crianças da cama e coloque-as no convés o mais rápido possível'", disse Dean.
"E acho que foi isso que nos salvou. Tanta gente dizia: 'O navio não vai afundar, é inafundável', então não se importaram. Mas não meu pai", disse Millvina em entrevista ao Belfast Telegraph, pouco antes de sua morte, recordando das histórias de sua mãe.
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Infelizmente, o pai de Millvina morreu na tragédia, segundo o Belfast Telegraph, e, por um momento, pensou-se também que seu irmão tivesse desaparecido. "Meu irmão tinha menos de dois anos”, disse ela.
“Minha mãe entrou no bote salva-vidas e descobriu que ela me pegou, mas não ele. Mas ela não podia fazer nada a respeito. Era uma noite extremamente fria. Ela tinha que me manter aquecida."
De qualquer forma, quando fomos apanhados pelo Carpathia (o navio que respondeu ao pedido de socorro do Titanic), lá estava ele. Ele havia sido retirado por outro passageiro. Isso deve ter sido absolutamente adorável para minha mãe."
Millvina conta também que, após o incidente, sua mãe passou muito tempo sem falar sobre o que aconteceu. "Minha mãe nunca falava nisso, porque era o marido dela e eles só estavam casados há quatro anos. Ele era incrivelmente bonito. Eu não sabia nada sobre isso até os oito anos. E, então, minha mãe se casou novamente. Foi quando ouvi pela primeira vez sobre o Titanic, sobre o naufrágio, do meu pai e tudo o mais."
Eles perguntam que efeito isso teve em mim, e acho que fui uma criança bastante estranha, porque não teve efeito algum. Eu morava na fazenda com um avô que me adorava, e para mim ele era meu pai, e eu o adorava. Então, quando falaram sobre a morte do meu pai, honestamente, eu não poderia me importar menos — ele era um estranho", complementa.
Ainda assim, ela conta que, mesmo anos depois, não conseguia assistir a nenhuma cena de filmes ou documentários sobre o naufrágio do RMS Titanic. "Porque esse é o navio em que meu pai afundou. Embora eu não me lembrasse de nada sobre ele, eu ainda ficaria emocionada. Eu pensava: 'Como ele caiu? Ele afundou com o navio ou pulou no mar?'", explicou.
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Depois que Millvina, a mãe e irmão chegaram a Nova York no dia 18 de abril, eles retornaram à Inglaterra, dessa vez a bordo do RMS Adriatic. Então, a família se estabeleceu na fazenda dos pais de Eva em New Forest, próximo a Southampton. Millvina teve, então, grande parte de sua vida como uma anônima, sendo apenas uma entre os sobreviventes do Titanic.
Durante a guerra, ela trabalhou como cartógrafa, e, apenas mais velha, abraçou sua ligação com o RMS Titanic. Logo começou a ministrar uma série de palestras, e eventualmente ficaria mais conhecida não só por ser uma sobrevivente, mas também por pertencer a esse grupo cada vez mais seleto de pessoas.
Apesar disso, em dado momento da vida, ela viu-se em problemas para pagar os custos de seu quarto no lar de idosos. Desesperada, vendeu vários objetos ligados a sua história com o Titanic. Com a ajuda do autor e fotógrafo irlandês Don Mullan, recebeu cerca de US$ 30 mil em doações de James Cameron, Kate Winslet e Leonardo DiCaprio.
Em 13 de maio de 2009, ela gravou entrevista com Fionola Meredith, do Belfast Telegraph, aos 97 anos, da casa de repouso onde vivia em Southampton. Dezoito dias depois, porém, ela faleceu, após contrair pneumonia.
