A popularidade de Charles II dependeria da sua interação com a opinião pública
A restauração da monarquia foi marcada com a ascensão de Charles II, filho de Charles I e que, durante o Commonwealth, viveu no exílio em países como Escócia e França. Convidado pelo Exército e o parlamento para reocupar o trono que pertencia à sua família, foi proclamado rei aos 30 anos de cidade, em maio de 1660,inaugurando um período de maior estabilidade política entre os britânicos, também conhecido como período de restauração.
Ciente das dificuldades políticas e econômicas enfrentadas pelo seu pai, Charles II era mais habilidoso no trato com as questões políticas e militares e procurou exercer uma habilidade política que seu progenitor não tinha. Embora os algozes de seu pai tenham sido punidos, o novo rei seguiu uma política de tolerância religiosa e promoveu nos primeiros anos de seu reinado uma maior divisão de poder com os parlamentares.
“Carlos II vai entender que não ficará no trono caso não faça concessões. É quando surgem os partidos políticos, a Inglaterra se reafirma como potência naval e sua Corte é brilhante, pois se livra da ditadura puritana de Cromwell”, diz Francisco José Pereira das Neves Vieira, doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em realeza britânica, que também destaca o espírito mais livre do segundo Carlos em comparação aos seus antecessores.
“Havia muita festa em Londres, teatros e as casas de jogos foram reabertas. Ele provavelmente era católico, mas não vai confrontar a Igreja da Inglaterra e nem a da Escócia. Logo, é um rei contemporizador”, completa Vieira. Mesmo assim, os primeiros anos do seu reinado não foram fáceis, tendo sido obrigado a enfrentar uma peste bubônica que dizimou quase um quinto da população londrina, equivalente acerca de 75 mil óbitos, em 1665.
Como se não bastasse, no mês de setembro do ano seguinte ocorreu o grande incêndio de Londres, que destruiu parte considerável da capital inglesa, que ainda estava assentada nos moldes medievais de arquitetura e urbanismo, o que contribuiu para o espalhamento rápido das chamas. Registros da época apontam que, pelo menos, 100 mil pessoas ficaram desabrigadas– mas esse número pode ter sido bem maior.
O reinado de Charles II também foi marcado pelo início da colonização e do comércio entre a Inglaterra e a Índia, e a América do Norte, sendo que os britânicos capturaram a cidade de Nova Amsterdã dos holandeses, em 1664, e a rebatizaram de Nova York. Em 1673, os holandeses ainda retomariam o controle da cidade norte-americana, mas ela foi definitivamente entregue aos ingleses cerca de um ano depois, após a derrota holandesa na Terceira Guerra Anglo-Holandesa (1672-1674).
Foi também um momento especial nas relações entre a Inglaterra e Portugal e suas colônias, incluindo o Brasil. Segundo a historiadora Ana Luiza Martins, no livro 'Brasil-Grã-Bretanha: uma relação de cinco séculos' (Editora do Autor), as relações entre Portugal e Inglaterra, que remontavam ao século 12, foram fortificadas com o casamento entre Carlos II e a infanta portuguesa Catarina de Bragança, ocorrido em 1662.
E houve repercussão política e econômica no Brasil, então subordinado aos portugueses. “Com essa ligação oficial, os comerciantes britânicos estabelecidos em Portugal – e não eram poucos – podiam negociar diretamente com os portos do Brasil, fato absolutamente inédito no quadro colonial português”, descreve a autora. “E mais: concediam a quatro famílias inglesas o direito de instalar-se em três portos brasileiros: Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro”.
A historiadora Ana Luiza explica que a descoberta das minas de ouro no Brasil tornou a colônia ainda mais interessante para a Europa, já que os minerais preciosos extraídos de Minas Gerais, principalmente ouro e diamantes, serviam para honrar os déficits de importação de Portugal com a Inglaterra.
“Ao longo do século 18, o carreamento de ouro brasileiro para o Império Britânico, via Portugal, alimentaria momento significativo da Revolução Industrial, em curso na Inglaterra”, acrescenta. Apesar de ser mais habilidoso do que o seu progenitor na relação entre poderes, Charles II não se livrou dos embates com o parlamento ao longo do seu reinado, a ponto de dissolvê-lo em 1681.
Assim como ocorreu no período de seu pai, as discussões eram provocadas por questões religiosas – os membros do parlamento não aceitavam a tolerância desejada pelo rei aos católicos –, aumento de verbas por meio de reajuste de impostos e pela política externa de Carlos II, considerada muito alinhada à França.
O segundo Carlosmorreu em fevereiro de 1685 em Whitehall, convertendo-se ao catolicismo no leito de morte. Embora tenha deixado pelo menos 12 filhos ilegítimos com amantes, a quem agraciou com títulos da nobreza, não deixou nenhum herdeiro oficial ao trono – herdado pelo seu irmão, Jaime (James), que se tornou Jaime II da Inglaterra e Jaime VII da Escócia.
Essa reportagem foi extraída da matéria de capa da Aventuras na História, que resgata a saga dos reis Charles I e Charles II. Confira aqui a primeira parte da reportagem.