Achado com mais de 6 mil ossos de mais de 50 animais data da Idade do Ferro, e é relativo à civilização mais antiga do Mediterrâneo Ocidental
Recentemente, escavações no sítio arqueológico Casas del Turuñuelo, na Espanha, revelaram evidências raras e impressionantes relacionadas às práticas de sacrifício de animais no século 5 a.C., ainda durante a Idade do Ferro. O achado é referente à antiga civilização Tartessiana, considerada por muitos a primeira a se formar no Mediterrâneo Ocidental.
Conforme o estudo publicado através da revista científica PLOS ONE, os arqueólogos desenterraram um total de 6.770 ossos, pertencentes a, pelo menos, 52 animais — 41 cavalos, seis vacas, quatro porcos e um cachorro. Além disso, também foi descoberta matéria vegetal queimada no local, o que sugere que o fogo fosse um elemento importante nos rituais de sacrifício.
Conforme descrevem os autores no estudo, a disposição em que os animais estavam enterrados sugere que eles foram distribuídos em três partes. As duas primeiras, no caso, são de animais que foram simplesmente mortos e enterrados; já na terceira, é notável que os animais foram mortos para servir como alimento.
É possível que os animais enterrados na terceira camada tenham sido abatidos para servir em algum tipo de banquete ou uma festa entre aquela civilização, tendo os restos mortais depositados na cova como se fossem "símbolos do evento."
O que mais chama atenção no achado, e que também justifica sua raridade, é que é bastante incomum evidências físicas de sacrifícios de animais na região, embora seja relatada em registros escritos.
María Pilar Iborra Eres, a coautora do estudo, alega à PopSci que o sítio arqueológico é importante especialmente por sua "excelente conservação do edifício e de seu conteúdo. Neste caso, o acúmulo de restos ósseos que testemunham atividades rituais."
Outro fator que dá importância à descoberta é a civilização a qual ela pertence: os Tartessos. Segundo a All That's Interesting, esse povo habitou a região da Península Ibérica entre os séculos 9 e 5 a.C., auge da Idade do Ferro. Uma curiosidade sobre esse povo é que eles detinham de seu próprio sistema de escrita, o Tartessiano, que contava com cerca de 97 inscrições.
Os Tartessos eram frequentemente mencionados em escritos da Grécia antiga e do Oriente Próximo, sendo mais referidos como habitantes de uma cidade portuária e quase mítica. Éforo de Cime, um importante historiador grego, certa vez escreveu sobre "um mercado muito próspero chamado Tartessos, com muito estanho transportado por rio, bem como ouro e cobre das terras celtas."
Por mais que a história dos Tartessos ainda seja repleta de lacunas, é praticamente um consenso entre historiadores que eles foram a primeira civilização do Mediterrâneo Ocidental. Porém, vale mencionar, na época dos romanos, esse povo já havia desaparecido sem deixar muitos vestígios ou uma razão clara para tal.
O que se sabe, porém, é que a cultura Tartessa era principalmente baseada no mar. Logo, encontrar vestígios deles no interior da Europa sugere que eles possivelmente estavam "fugindo de alguma coisa. Eles sentiram que seus deuses se voltaram contra eles. Então eles construíram esses salões de banquete e fizeram sacrifícios para apaziguá-los. Aparentemente não funcionou", conta o arqueólogo Richard Freund ao Atlas Obscura.