Durante o Renascimento, valores humanistas como o individualismo e a criatividade eram norteadores do movimento, o que levou ao surgimento de possíveis autorretratos ocultos
Até hoje, um dos períodos artísticos mais inovadores e valorizados é o renascimento. Na Itália, surgiram os nomes essenciais para compreender a história da arte, como Leonardo da Vinci, Michelangelo Buonarroti, Rafael Sanzio, Donatello e Caravaggio.
Na época, o que influenciava não só a arte, como a própria sociedade e outros campos científicos era o humanismo, o antropocentrismo, o individualismo, o universalismo, o racionalismo, o cientificismo e a valorização da Antiguidade Clássica. Além disso, foi também nesse tempo que surgiu a máxima "cada pintor pinta a si mesmo".
De fato, vários autorretratos famosos foram produzidos por grandes artistas do renascimento. No entanto, muitos deles preferiram fazer essas representações de maneiras mais sutis, inserindo seus próprios rostos nas obras.
Com isso em mente, confira a seguir cinco famosos artistas renascentistas que teriam deixado autorretratos em suas obras:
+ Outro talento surpreendente de Michelangelo que muitos não conhecem;
Um exemplo, mais ao norte europeu, conhecido de autorretrato oculto é a pintura 'O Casal Arnolfini', do pintor flamengo — nascido onde hoje é a Bélgica — Jan van Eyck.
Essa obra exibe o então rico comerciante Giovanni Arnolfini e sua esposa Giovanna Cenami, no entanto, o que se destaca é um pequeno espelho convexo na parede atrás do casal.
Isso porque, no objeto, é possível notar duas figuras adicionais na sala, além do casal. O gesto de saudação exibido pelo noivo é retribuído por um dos homens, visível apenas pelo espelho.
Além disso, o pintor escreveu no topo do quadro, em latim, a frase "Johannes de Eyck fuit hic" (que significa "Jan van Eyck esteve aqui"). Estes indícios criaram a teoria de que os homens exibidos no espelho fossem o próprio van Eyck e seu assistente, explica a CNN Internacional.
O pintor francês Jacques-Louis David é, indiscutivelmente, uma figura importante na história da França revolucionária. Apoiador da Revolução Francesa, importante na derrubada da monarquia, ele jurou lealdade a Napoleão, tornando-se, inclusive, o pintor e mestre de propaganda do imperador. Tanto que foi ele quem fez o famoso — e colossal, com seus 6,21 m x 9,79 m — retrato 'A Coroação de Napoleão'.
Hoje encontrada no Grande Salão do Louvre, a pintura fascina pelo tamanho, que permite que o visitante passe horas observando todos os seus detalhes, de forma que ele quase se sente parte da multidão retratada.
E, no meio dessa multidão, também está o próprio David, representado no camarote elevado do teatro, esboçando aquele momento que ainda pintaria.
Quando se fala de Renascimento, é quase impossível não mencionar alguns grandes nomes da arte da Itália. Uma obra quase que obrigatória deste movimento é o afresco 'Escola de Atenas', pintado na parede do Palácio Apostólico do Vaticano por Rafael. Nela, é possível observar dezenas de pensadores que ocupam um grande salão de mármore.
Segundo o colega pintor italiano Giorgio Vasari, Rafael retratou vários de seus contemporâneos artísticos como filósofos.
Bramante, por exemplo, é Euclides ou Arquimedes; Leonardo da Vinci possivelmente foi modelo para Platão; já Michelangelo pode ser aquele que inspirou o rosto de Heráclito. E o próprio Rafael não ficaria de fora: ele está atrás do arco na extremidade direita do afresco, ao lado de Ptolomeu e Zoroastro.
Michelangelo, inclusive, também teria deixado seu rosto em uma obra. Contratado para pintar o teto da Capela Sistina, onde criou a emblemática 'A Criação de Adão', sua representação secreta está em outro afresco bastante conhecido: 'Juízo Final'.
Segundo a CNN Internacional, no centro da extensa pintura, é possível observar São Bartolomeu segurando um traje vazio de pele flagelada, com um rosto vazio e sem olhos.
Nesse caso, engana-se quem imagina que o pintor se colocou no lugar do santo: ele usou sua própria imagem como base, na verdade, para a sofrida figura arrebatada.
+ A história da fascinante escultura 'David', de Michelangelo
Ao longo de sua breve vida de 38 anos, Caravaggio se autorretratou várias vezes, sob diferentes disfarces, sendo frequentemente lembrado como aquele que inspira a figura do deus romano do vinho, Baco.
Em seu último ano de vida, ele produziu um quadro que retrata o vitorioso herói bíblico Davi segurando a cabeça decepada de Golias — ao todo, ele fez três pinturas do episódio.
Porém, assim como Michelangelo, ele não escolheu representar-se em um lugar de glória, como o jovem e belo Davi.
Em vez disso, ele utilizou de sua própria imagem para produzir o Golias derrotado. Também especula-se que quem inspirou o rosto de Davi foi Cecco, seu assistente.