Em 2023, um portal americano divulgou uma entrevista gravada em 1976, pouco antes de sua morte, em que revela detalhes curiosos da vida; confira!
Clarice Lispector, nascida em 1920 na Ucrânia e naturalizada brasileira, foi uma escritora que se destacou por sua voz única e marcante na literatura brasileira. Sua obra transcende gêneros e categorias, desafiando e encantando leitores até hoje.
Entre seus romances mais famosos estão "Perto do Coração Selvagem", "O Segundo Dia" e "A Hora da Estrela", obras que exploram temas como a identidade feminina, a solidão existencial e a busca pelo sentido da vida.
Lispector também se dedicou à escrita de contos, crônicas e poemas, sempre com um olhar agudo e sensível sobre o mundo ao seu redor.
Sua morte em 1977, aos 53 anos, ainda hoje desperta tristeza em fãs e admiradores. No entanto, o que permanece viva é sua obra atemporal, que continua a inspirar e desafiar leitores em todo o mundo.
Inclusive, em 2023, uma entrevista rara, gravada em 1976, foi publicada em um portal de notícias americano. O que a ilustre autora teria dito na conversa? Confira:
A conversa inédita foi revelada pela revista "New Yorker" dos Estados Unidos, em 13 de fevereiro de 2023. O diálogo foi registrado quatorze meses antes de seu falecimento, em dezembro de 1977.
O bate-papo foi conduzido por Marina Colasanti e Affonso Romano de Sant’Anna, com João Salgueiro, então diretor do Museu da Imagem e do Som no Rio de Janeiro. O artigo intitulado "A Lost Interview with Clarice Lispector" ("Uma Entrevista Perdida com Clarice Lispector", em tradução livre) foi escrito por Benjamin Moser, também conhecido pela biografia "Clarice".
Moser explicou que chegou até a entrevista após conversar com Tânia Lispector Kaufmann, irmã de Clarice. Moser disse que discutia com Tânia uma entrevista enviada a ele em 2006 por Julio Lerner.
Conforme o G1, a irmã da autora comentou que não apreciava essa entrevista, pois, Clarice parecia cansada e próxima da morte. A seguir, está o que a escritora disse na entrevista:
Clarice compartilhou que seus pais fizeram uma parada em uma vila na Ucrânia enquanto estavam fugindo, e foi lá que ela nasceu. "Cheguei ao Brasil com dois meses de idade. Me chamar de estrangeira é bobagem".
Sant'anna observou que as pessoas a confundiam com uma estrangeira devido ao seu sotaque. Em resposta, ela explicou:
É por causa do 'R'. Eles acham que é sotaque, mas não é. É língua presa", disse. "Podia cortar, mas, dizem, é um lugar muito úmido, dificilmente cicatriza".
A autora também revelou que não tinha consciência de sua má condição financeira no passado.
"Não faz muito tempo, eu perguntei a Elisa, minha irmã mais velha, se a gente algum dia passou fome. Ela disse 'quase'. Porque tinha, no Recife, numa praça, um homem que vendia uma laranjada na qual a laranja tinha passado longe, tudo aguado, e um pedaço de pão. Isso era nosso almoço".
Assim que aprendeu a ler, ela mencionou que devorava os livros. Clarice também compartilhou suas primeiras tentativas de escrita, quando enviava textos para a seção infantil de um jornal.
Eu me cansei de enviar minhas histórias, mas elas nunca as publicaram, e eu sabia por quê. Porque os outros começavam assim: 'Era uma vez, etc, etc'. E os meus eram sensações".
Clarice trabalhou em jornais como "A Noite" e "Diário da Tarde", além da revista "Senhor". "Eu sou tímida e arrojada. Eu sou tímida, mas me lanço", disse ela ao recordar sua primeira publicação na revista "Vamos Lêr!", quando tinha em torno de 15 anos.
A escritora discorreu sobre sua obra, incluindo seu primeiro livro, "Perto do Coração Selvagem", e "A Paixão Segundo G.H.". Ela também abordou as traduções de suas obras e sua relação com textos publicados.
"Eu não releio. Isso me dá náuseas. Quando está publicado, é como um livro morto. Eu não quero mais ouvir falar dele", disse. "Eu leio, eu acho estranho, eu acho ruim, e é por isso que eu não leio. Eu também não leio traduções que eles fazem dos meus livros para não me irritar".