"Sua morte foi o final da minha história com a Fórmula 1", disse Prost sobre a perda de Senna em 1º de maio de 1994
Publicado em 01/05/2023, às 07h00 - Atualizado em 30/04/2024, às 17h08
A temporada de 1994 da Fórmula 1 seria diferente para Ayrton Senna. Acostumado a grandes exibições, o piloto brasileiro passaria a conviver sem um fator de motivação: o seu rival Alain Prost.
Dentre as maiores rivalidades da categoria, ou até mesmo do esporte, de modo geral, poucas foram tão grandiosas quanto os embates entre Ayrton Senna e o francês Alain Prost. Companheiros de equipe entre 1988 e 1989, Senna e Prost viveram uma verdadeira Guerra Fria nos bastidores da McLaren.
Prost, porém, havia se aposentado em 1993 e passou a trabalhar como comentarista naquela temporada. No fatídico 1º de maio, há exatos 30 anos, quando Senna sofreu um acidente fatal na sétima volta do Grande Prêmio de San Marino, Alain estava participando de uma transmissão: "Sua morte foi o final da minha história com a Fórmula 1".
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Companheiros de equipe na McLaren, entre 1988 e 1989, a rivalidade entre Ayrton Senna e Alain Prost surgiu justamente em San Marino. Quem recorda o fato é o jornalista Livio Oricchio em entrevista exclusiva ao podcast do SportBuzz, parceiro do Aventuras na História.
"A relação entre eles [Senna e Prost] foi tensa e se tornou em um clima de guerra depois do Grande Prêmio de San Marino, em 1989. Quando eles começaram a segunda temporada juntos, havia um acordo entre eles: um não poderia ultrapassar o outro na primeira volta", aponta Livio.
Oricchio, entretanto, recorda que Ayrton largou atrás de Alain e, quando os dois pilotos se aproximaram da tosa (nome dado a uma curva do circuito), o piloto brasileiro passou seu colega de equipe.
Depois da corrida, nós conversamos com ele e o Ayrton disse: 'Eu não posso ficar atrás de um cara que é muito lento'. E o Prost ficou desconcertado, porque o acordo não foi cumprido", recordou o jornalista. "Então, o clima de guerra começou".
A partir daí, um verdadeiro clima de Guerra Fria surgiu entre os dois nos bastidores da McLaren. Para se ter ideia, embora estivessem na mesma equipe, os engenheiros não compartilhavam detalhes sobre o desenvolvimento dos carros dos pilotos.
"Talvez o Prost um pouco mais, até porque o Ayrton compensava a desvantagem no talento e na coragem. Então, o ambiente ruim começou em San Marino, em 1989", salientou Livio.
A tensão se tornou maior no fim de 1989 e início da temporada de 1990, quando Prost mudou de escuderia. Neste período, se tornaram normais alguns acidentes envolvendo os dois pilotos.
"Em Suzuka, em 1989, o Prost fecha o Ayrton deliberadamente para provocar o acidente entre ambos, mas isso na chegada da chicane a 90 quilômetros por hora. Diferente do que o Ayrton fez no ano seguinte, quando o Prost estava na Ferrari, depois da largada, na primeira curva, na sexta marcha, ele dá um toque na rabeira do Prost e ali os dois poderiam até ter morrido", ressalta. "E isso não sou eu que falo, o Ayrton confirmou isso".
Na temporada de 1993, Alain Prost conquistou seu tetracampeonato como piloto. Mas uma vitória de Ayrton Senna, no GP de Adelaide — o último circuito do ano —, tirou o francês do sério.
Livio Oricchio recorda que entrevistou Prost um mês depois da morte de Senna e que o piloto relembrou esse momento, quando Ayrton lhe puxou para o lugar mais alto do pódio — curiosamente, foi a última vez que o brasileiro conseguiu tal feito.
Ao recorda o momento, Prost disse para Livio: "Ele [Ayrton] me pegou pelo braço e me puxou para primeiro. Eu tive vontade de empurrar ele".
O Prost gritava e até falava alto: 'Isso não se faz'."
Na sétima volta do Grande Prêmio de San Marino de 1994, Ayrton Senna perdeu o controle de sua Williams após um problema mecânico e bateu na famosa curva Tamburello, em Ímola, a uma velocidade de 216 quilômetros por hora. Sua morte foi confirmada horas depois.
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O documentário Últimos Dias de um Ícone - Ayrton Senna recorda um acontecimento único daquele trágico final de semana e resgata um momento de afeto entre o piloto brasileiro e seu rival.
Com uma câmera on board, Ayrton deu uma volta pelo circuito e deixou um recado para o francês: "Para começar, gostaria de mandar um bom dia em particular para meu amigo Alain [Prost]. Sentimos sua falta, Alain".
Ao El País, o francês recordou que a relação entre eles havia melhorado após sua aposentadoria. "Lembro que, antes da corrida, ele veio às cabines de televisão para falar comigo. Não era algo habitual. Todos que estavam ali ficaram calados. Nesses momentos, o piloto só pensa em se concentrar, mas ele veio e se sentou ao meu lado. O mais surpreendente é que não queria falar de nada muito importante".
Depois de comer, pouco antes da largada, fui aos boxes da Williams e conversamos por uns dois minutos antes de ele entrar no carro. Esta foi a última vez”, ressentiu.
"Ayrton e eu temos um vínculo. Sua morte foi o final da minha história com a Fórmula 1. Ninguém pode falar de Ayrton sem mencionar meu nome, e ninguém pode falar de mim sem mencionar o dele", completou Prost.
Para Livio Oricchio, a rivalidade entre os dois proporcionou não só momentos memoráveis dentro do esporte, mas também a possibilidade da evolução entre os pilotos. "Os dois colocavam a briga, para os seus respectivos países, em dois termos: o piloto do bem e o piloto do mal. Para a equipe foi fantástico, porque eram excepcionais".
O Ayrton cresceu por ter a referência de um piloto de equipe que era excepcional e extremamente estrategista, mas o Prost também cresceu. As referências que eles tinham eram as maiores possíveis. Eles eram os melhores da época", concluiu.
A entrevista exclusiva na íntegra que o jornalista Livio Oricchio concedeu ao podcast do SportBuzz, parceiro do Aventuras na História, pode ser vista no vídeo abaixo. Confira!