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Matérias / Senna

Senna: Saiba como foi o acidente que deixou marcas no rosto de Niki Lauda

Mostrado em Senna, da Netflix, Niki Lauda sofreu acidente que quase tirou sua vida, em 1976, e foi grande admirador de Ayrton: 'Ele foi o melhor'

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
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Publicado em 04/12/2024, às 18h00

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Acidente com Niki Lauda em 1976 - Getty Images e Reprodução/Video
Acidente com Niki Lauda em 1976 - Getty Images e Reprodução/Video

Sucesso da Netflix, a minissérie 'Senna' relembra a trajetória do ídolo da Fórmula Um e tricampeão mundial Ayrton Senna. Dividida em seis episódios, a trama resgate desde a infância do piloto brasileiro até sua ascensão na principal categoria do automobilismo e o trágico acidente que tirou sua vida no GP de San Marino, em 1º de maio de 1994

A produção também revela detalhes das relações amorosas de Senna, registra os bastidores conturbados da F1 que ele viveu contra Alain Prost e resgata personagens históricos de sua trajetória. 

+ Senna: Veja os bastidores da rivalidade de Ayrton com Alain Prost

Embora tenha pouco tempo de tela, um deles chama a atenção: Niki Lauda (interpretado por Johannes Heinrichs). Também tricampeão na F1, em 1975, 1977 e 1984, o austríaco é considerado um dos maiores pilotos da história da categoria — sendo o único a vencer o campeonato mundial tanto pela Ferrari quanto pela McLaren. 

Niki Lauda
Niki Lauda: Ficção e realidade - Divulgação/Netflix e Getty Images

Em 1976, porém, Lauda sofreu um grave acidente durante uma corrida, que deixou marcas permanentes em seu rosto. Relembre o episódio!

Acidente quase fatal

Naquele ano, no dia 1º de agosto, era disputado o Grande Prêmio da Alemanha de Fórmula Um, no circuito Nordschleife de Nurburgring — conhecido também como 'Inferno Verde'. A data ficou marcada pelo grave acidente envolvendo Niki Lauda, que praticamente nasceu de novo.

Naquela altura, Niki lutava pelo seu bicampeonato mundial, liderando a competição daquele ano com 58 pontos. Já seu rival, o britânico James Hunt, da McLaren, era o segundo colocado com 35. A Ferrari de Lauda havia começado o ano com larga vantagem, mas o desempenho de Hunt melhorou nas corridas seguintes e o tornou um postulante ao título. 

Conforme recorda matéria do portal Motorsport, antes do início da corrida, uma forte chuva atingiu o autódromo, quase como um alerta para os pilotos — visto que, em condições normais, o circuito já era perigosíssimo. Niki Lauda bem que tentou o adiamento da prova, mas uma votação entre os pilotos optou pela manutenção da corrida. 

Logo na segunda volta, depois da curva Bergwerk, a suspensão da Ferrari de Niki quebrou e o piloto foi praticamente jogado à direita do traçado, em direção ao guard rail. Em chamas, o carro do austríaco retornou à pista e ainda foi atingido pelo alemão Harald Ertl e pelo norte-americano Brett Lunger.

Carro de Niki Lauda após o acidente - Getty Images

Já o italiano Aurturo Merzario conseguiu desviar e deixou seu veículo para ajudar o colega, no momento em que a Ferrari já era consumida pelas chamas. Lauda só foi retirado do cockpit após inalar uma grande quantidade de fumaça tóxica. Ele ainda sofreu graves queimaduras na cabeça e contusões no peito. 

Por conta do episódio, ele acabou perdendo parte da orelha direita. Quando chegou ao hospital, foi induzido ao coma como medida preventiva. Apesar de ter corrido um sério risco de vida, ele acabou retornando à F1 após apenas seis semanas; no GP da Itália, em Monza.

Lauda ainda participaria de mais três Grandes Prêmios naquele ano, incluindo o decisivo no Japão, disputado em Fuji. Apesar das chances de título, em virtude das fortes chuvas, ele optou por abandonar a prova logo no início — escolhendo por sua segurança. 

Relatos de Lauda

Em 28 de setembro de 1976, semanas após o acidente que quase tirou sua vida, Niki Lauda foi entrevistado pelo jornal O Globo, onde deu mais detalhes do episódio. Conforme recorda o veículo brasileiro, o austríaco chegou a receber extrema-unção no hospital. 

Na entrevista, Lauda falou sobre sua decisão de voltar às pistas quanto antes: "Muita gente acha que foi uma loucura minha voltar tão depressa às corridas. Com um rosto assim como fícou o meu — que mais parece o de um fantasma que o de um ser humano —, as pessoas esperavam que eu fosse desistir de uma vez. Essa gente é do tipo que provavelmente se sentiria muito feliz se, por motivo de doença, pudesse ficar em casa e não Ir trabalhar".

"Só me sinto bem estando ativo, tendo o que fazer e com planos na cabeça. Trabalhar é uma necessidade para mim. Tive esse acidente no trabalho e agora é natural que meu objetivo seja recuperar-me logo, com toda a ajuda que me for possível conseguir da medicina moderna. Uma vez resolvido a continuar, quanto antes eu voltasse, melhor. Por isso resolvi correr em Monza", apontou.

Sobre o acidente, relatou ter recordações incompletas. "Não me lembro de nada que aconteceu na corrida ao fim da primeira volta, depois que parei nos boxes para trocar o pneu e sai novamente. Cheguei a correr ainda uns dez quilômetros antes de bater, mas estão apagados na memória. Só voltei a ter lembranças a partir do ruído do helicóptero quando levantou vôo".

O piloto Niki Lauda - Getty Images

O austríaco ainda recordou de como foi se ver no espelho após o acidente, ainda quando estava no hospital: "Mostraram-me o meu rosto num espelho. Não podia acreditar no que estava vendo. A aparência era a de um animal grotesco: cabeça e pescoço haviam inchado ao triplo do tamanho natural. Diante de tal monstro, ninguém poderia admitir que se tratasse de um ser humano". 

Explicaram-me que era porque eu me expusera a uma temperatura de 800 graus quando o carro pegou fogo; o corpo, como medida de proteção, bombeara uma quantidade excessiva de líquido para as partes queimadas. Continuava a inchar visivelmente enquanto me olhava no espelho. Cerrei os olhos e estive cego durante cinco dias. Sentia tudo à minha volta como uma enorme massa de coisa nenhuma".

Senna e Lauda

Em 25 de agosto de 1985, Niki Lauda venceu o Grande Prêmio da Holanda, aquela que foi sua última vitória dentro da categoria. Naquela mesma prova, Senna conquistou a terceira colocação, quando ainda defendia a Lotus. 

Lauda e Senna - Getty Images

Embora a trajetória dos dois pilotando juntos tenha sido curta, o austríaco sempre demonstrou um carinho muito grande pelo ídolo brasileiro. Como recorda o Globo Esporte, Lauda considerava Senna o melhor piloto que já viu correndo

Ele foi o melhor e mais carismático piloto que a F1 já teve. Senna tinha personalidade, era rápido e tinha muito carisma. Não é à toa que ele ganhou tudo", disse à Reuters.

Niki Lauda faleceu aos 70 anos, em 20 de maio de 2019, vítima de problemas renais. Em agosto do ano anterior, ele havia sido internado para um transplante de pulmão e apresentava uma boa recuperação, mas seu estado de saúde passou a se deteriorar.