Na terceira temporada, 'chefões' assumem papel mais brutal e inspiram reflexão sobre desigualdade, polarização política e poder concentrado
Round 6 acompanha competidores desesperados — membros da classe trabalhadora e dos mais pobres — que entram em jogos mortais para tentar escapar das garras do capitalismo.
Embora os jogadores mais cruéis atraiam a ira do público, o criador Hwang Dong-hyuk deixa claro que a verdadeira culpa pelo derramamento de sangue recai sobre uma seita de super-ricos: os VIPs.
Introduzidos no sétimo episódio da primeira temporada, intitulado “VIPS”, eles são seis homens milionários que assistem às rodadas finais como se estivessem em um espetáculo. Mas, na recém-lançada terceira temporada, esses VIPs assumem um papel muito mais ativo — e brutal.
Eles tiram as máscaras, entram no jogo e matam os outros com as próprias mãos”, contou Hwang à revista Time.
No episódio 3, os VIPs trocam seus trajes de gala e máscaras de animais por uniformes rosa e metralhadoras, caçando pessoalmente os “perdedores” da rodada.
Ao contrário da primeira temporada, eles não têm medo de revelar suas identidades, simbolizando um novo momento em que os donos do poder mostram-se abertamente.
Hwang diz que essa mudança foi inspirada pela realidade atual: “No passado, quem controlava o sistema ficava escondido. Hoje, principalmente nos EUA, essas pessoas se mostram sem pudor e quase declaram: ‘Somos nós que mandamos em tudo’.”
O criador de Round 6 aponta como a crescente visibilidade de bilionários se conecta ao cenário global de desigualdade e polarização. Em 2020, havia cerca de 2.000 bilionários somando US$ 8 trilhões (R$ 48 Tri) em patrimônio; em 2025, são mais de 3.000, com US$ 16 trilhões (R$ 96 Tri) — riqueza superior ao PIB de qualquer país, exceto EUA ou China.
Embora os VIPs não sejam baseados em pessoas reais, alguns deles lembram figuras como Donald Trump e Elon Musk.
Depois de escrever a terceira temporada, pensei: ‘Alguns VIPs se parecem com Elon Musk’”, disse Hwang, mencionando a figura do bilionário que domina manchetes e influência política.
Para ele, a inspiração vem da crescente concentração de riqueza e dos eventos que acentuam a divisão social, como a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, instigada por Trump. “Ver a intensidade da divisão política nos EUA foi chocante”, diz.
Essa polarização aparece simbolicamente no jogo: os sobreviventes votam entre continuar ou encerrar a disputa, mas, em um sistema criado pelos VIPs, as regras incentivam conflitos internos enquanto os poderosos permanecem intocáveis.
Na terceira temporada, o processo de votação se intensifica e revela os limites da democracia em uma sociedade extremamente desigual. Jogadores são levados a votar até na execução de um bebê, ilustrando como a democracia pode ser distorcida quando moldada pelos interesses de poucos.
“Antes, mesmo com conflitos, olhávamos para um futuro comum. Agora, achamos que a visão do outro não é apenas diferente, mas errada”, reflete Hwang. Diante de um mundo polarizado e dominado por algoritmos e IA, o criador de Round 6 deixa no ar uma pergunta inquietante: “As eleições ainda são um sistema eficaz?”