'Paranoia', de D. J. Caruso, e 'Janela Indiscreta', de Alfred Hitchcock, foram centro de possível polêmica de plágio há mais de uma década; entenda!
Publicado em 20/05/2024, às 20h00
No século 18, o químico francês Antoine Lavoisier ficou conhecido por sua máxima "na natureza, nada se cria, tudo se transforma". Já em tempos mais modernos, muitos adaptaram a citação para "na arte, nada se cria, tudo se copia". Pois bem, às vezes essas tentativas de "copiar" podem acabar acarretando dores de cabeça.
Por exemplo, em alguns casos, filmes clássicos e de diretores renomados podem, e sempre vão, inspirar novos cineastas com produções mais contemporâneas. Mas há pouco mais de uma década, um longa dirigido por D. J. Caruso chamou atenção com uma trama semelhante a outro da década de 1950, dirigido pelo famoso Alfred Hitchcock. Entenda!
Um rapaz, confinado em sua própria casa, toma como um passatempo observar constantemente sua vizinhança; porém, tudo começa a ficar estranho quando começa a suspeitar que seu vizinho seja um assassino. Essa é a premissa de 'Janela Indiscreta', de Hitchcock... E também de 'Paranoia', de Caruso.
'Paranoia', no caso, chamou atenção na última semana após chegar à Netflix, configurando entre os filmes mais assistindo pelos brasileiros. Nele, quem acompanhamos é o jovem Kale (interpretado por Shia LaBeouf), que, em prisão domiciliar, se sente cada vez mais triste e solitário desde a morte do pai.
Já em 'Janela Indiscreta', p protagonista é o fotógrafo profissional L. B. Jeffries (James Stewart), que está confinado em seu apartamento após quebrar a perna durante o trabalho e, sem muitas formas de se entreter, começa a vasculhar a vida de seus vizinhos. Lançado mais de 50 anos antes de 'Paranoia', este filme é um dos maiores clássicos de Alfred Hitchcock, lenda do terror e do suspense.
É inegável que ambos os filmes possuem uma base narrativa parecida. Porém, em 2008, pouco após o lançamento de 'Paranoia', o diretor de "Paranoia" foi envolvido em uma queixa judicial que iria além da inspiração, acusando-o de plágio.
Segundo o The Guardian, o processo foi iniciado pelo Sheldon Abend Revocable Trust, grupo que administra o patrimônio do falecido autor Cornell Woolrich. O que ele tem a ver com toda essa confusão?
Acontece que foi ele que publicou, pela primeira vez, em 1942, o conto 'It Had to be Murder' ('Tinha que ser assassinato', em português), que assumidamente por Hitchcock foi base para 'Janela Indiscreta', de 1954. 'Paranoia', por sua vez, não teria uma autorização.
No entanto, apesar da queixa, a juíza Laura Taylor Swan, responsável por julgar o caso, decretou que "os roteiros principais são semelhantes apenas em um nível superficial e geral, de forma que não podem ser protegidos".
"Enquanto 'Paranoia' é abundante em subtramas, a história original não tem nenhuma", acrescentou a juíza na época. "O cenário e o clima da história original são estáticos e tensos, enquanto o cenário e tom de 'Paranoia' é muito mais dinâmico e temperado com humor e romance adolescente".
De qualquer forma, embora 'Janela Indiscreta' e 'Paranoia' tenham sido recebidos de maneiras diferentes — sendo o primeiro considerado um dos suspenses mais seguros e provocativos de Hitchcock, e outro uma mera "versão adolescente e mole de 'Janela Indiscreta'" —, ambos os filmes possuem próprio mérito, e com narrativas adequadas para épocas e públicos diferentes.