O naufrágio do Titanic, ocorrido na madrugada de 15 de abril de 1912, deixou cerca de 1.500 mortos — e muitos corpos só seriam encontrados semanas depois
A madrugada de 15 de abril de 1912 ficou marcada na história como a data do naufrágio do navio Titanic. O cenário foi devastador: cerca de 1.500 pessoas perderam a vida na tragédia e centenas de corpos foram vistos flutuando nas águas geladas do Atlântico Norte, muitos deles com coletes salva-vidas.
Impulsionados pelas correntes marítimas, alguns desses cadáveres foram localizados dias — ou até semanas — depois da tragédia. Outros, no entanto, nunca foram encontrados.
Embora a causa oficial das mortes tenha sido, em muitos casos, registrada como afogamento, especialistas acreditam que a maioria das vítimas morreu por hipotermia. Afinal, o frio intenso do Atlântico era implacável.
Na época, os pouco mais de 700 sobreviventes foram resgatados pelo RMS Carpathia, que seguiu, do local do naufrágio, direto para Nova York. A missão de recuperar os mortos ficou a cargo de outros navios.
O primeiro deles foi o Mackay-Bennett, fretado pela White Star Line, que zarpou de Halifax, no Canadá, em 17 de abril. Equipado com caixões e toneladas de gelo, ele encontrou, já no segundo dia de buscas, um aglomerado de cerca de 100 cadáveres.
A cena, de acordo com a revista Smithsonian, era tão surreal que um tripulante disse ter demorado a acreditar que eram corpos, pois pareciam apenas nadadores adormecidos.
A embarcação recolheu 190 corpos e enterrou outros 116 no mar. Já os navios Minia e Montmagny, também enviados de Halifax, conseguiram resgatar 21 corpos, dos quais 3 foram sepultados no Atlântico.
Outros navios que cruzaram a região, como o transatlântico alemão Bremen, relataram ter visto dezenas de corpos flutuando entre os destroços, presos a portas ou espreguiçadeiras. Porém, sem meios para recolhê-los, seguiram viagem.
Mesmo semanas após o naufrágio, corpos ainda eram encontrados a centenas de quilômetros do local do desastre. Em 13 de maio, o navio Oceanic avistou um bote salva-vidas do Titanic — o Desmontável A — a cerca de 320 quilômetros do ponto do afundamento. Dentro dele, estavam três corpos já em decomposição. A tripulação recolheu os cadáveres, os envolveu em lona e os sepultou no mar.
Outro corpo, o de James McGrady, comissário de bordo, foi encontrado em 26 de maio por um barco caçador de focas chamado Algerine. Seu corpo chegou à terra em 8 de junho, tornando-se o último oficialmente recuperado e levado à terra. Nos dias seguintes, mais dois corpos foram avistados e identificados a partir de objetos pessoais nos bolsos. Eles, que flutuavam a centenas de milhas do local do naufrágio, foram sepultados no mar.
Os jornais da época noticiaram que a família de John Jacob Astor IV — o passageiro mais rico do Titanic e um dos homens mais ricos do mundo naquele período — pretendia organizar uma expedição particular em busca de seu corpo, disposta a investir até um milhão de dólares.
No entanto, a iniciativa se tornou desnecessária quando, em 26 de abril, o navio Mackay-Bennett comunicou por telégrafo que havia recuperado os restos mortais de Astor. A identificação foi possível graças a pertences pessoais encontrados com ele, incluindo um relógio de bolso de ouro com monograma, que acabaria sendo leiloado por quase US$ 1,5 milhão em abril de 2024.
A classe social, como em vida, também influenciou o destino final das vítimas. Enquanto 42% dos passageiros da terceira classe foram sepultados no mar, apenas 6% dos da primeira classe tiveram o mesmo fim. O capitão do Mackay-Bennett justificou, na época, que os corpos de homens “proeminentes” deveriam ser levados à terra, por conta de seguros, heranças e questões legais.
Os corpos recolhidos foram levados a Halifax, onde chegaram em carroças puxadas por cavalos até um depósito de gelo adaptado como necrotério. Lá, foram enfileirados para reconhecimento. Muitos permaneceram anônimos, como o bebê de 19 meses enterrado como “uma criança desconhecida”, e apenas identificado décadas depois, graças a exames de DNA.
Mais de um século após a tragédia, cerca de 1.200 vítimas do Titanic ainda seguem desaparecidas. Os destroços do navio foram encontrados apenas em 1985, a 3.800 metros de profundidade e, desde então, nenhum corpo humano foi localizado no local.
A pressão das águas, a decomposição e o tempo tornaram improvável a preservação dos restos mortais. Segundo especialistas, o que pode haver por lá hoje em dia são apenas fragmentos de ossos ou fios de cabelo, invisíveis a olho nu.