Documento atribuído ao rei Otto I, conhecido como o fundador do Sacro Império Romano-Germânico, narra uma curiosa história
No ano passado, um estudo conduzido por um pesquisador da Universidade de Exeter investigou um documento histórico atribuído ao rei Otto I, conhecido como o fundador do Sacro Império Romano-Germânico.
O texto, que até então era datado de 942 d.C., foi reanalisado e agora se acredita ter sido escrito em 950 d.C., quatro anos após a morte da rainha Edith de Wessex.
A rainha Edith, que se casou com Otto em 930, desempenhou um papel crucial na aliança entre os reinos saxões. Após a ascensão de Otto ao trono em 936, ela foi coroada rainha e juntos tiveram dois filhos. Infelizmente, Edith faleceu em 946 de maneira súbita, o que deixou Otto profundamente abalado.
Mesmo tendo contraído novo matrimônio após a morte da primeira esposa, Otto foi sepultado ao lado de Edith na Catedral de Magdeburg, evidenciando a importância duradoura dela em sua vida.
O documento em questão expressa a intenção do rei de doar terras à Igreja em troca da "salvação da alma" de sua amada falecida.
“Quando comecei a examinar essa peça, tive um momento 'Eureka' porque, em poucos minutos, ficou claro que os estudiosos modernos haviam errado a datação e que ela era, na verdade, um tributo à falecida esposa do rei e ao filho sobrevivente”, disse Levi Roach, especialista em história da Europa Ocidental na Idade Média, em comunicado.
O especialista Levi Roach, que analisou o documento, destacou que o texto não é um registro comum da época. Ele apresenta uma singularidade ao enfatizar a preocupação do monarca com o bem-estar de Edith e do filho do casal, Liudolf.
"Não é de forma alguma um documento real padrão”, enfatizou Roach. “A passagem sobre a salvação das almas, com sua forte ênfase em cuidar da primeira esposa do governante e de seu filho Liudolf, é claramente fora do comum e já foi notada por historiadores do século 20, que pensaram que poderia sugerir alguma forma de crise ou doença não documentada, como Edith sofrendo um aborto espontâneo.”
Originalmente atribuído a um notário em Magdeburg com data de 966, o documento gerou confusão entre os estudiosos, uma vez que Otto já havia se tornado imperador e não apenas rei naquela época.
Anteriormente, o pesquisador prussiano Theodor Sickel havia reavaliado o texto e datado-o para 942. Contudo, ao examinar outro documento do mesmo notário, Roach encontrou inconsistências que indicavam que ambos poderiam ter sido redigidos simultaneamente em 950.
Roach argumenta que é improvável que o notário tenha cometido erros semelhantes em dois documentos diferentes.
A datação de documentos na Idade Média representa um desafio para os historiadores porque eles ainda não eram feitos de acordo com o calendário gregoriano, como é amplamente usado hoje", ele explica.
Esse novo entendimento sobre o documento revela não apenas aspectos do relacionamento entre Otto e Edith, mas também fornece uma visão mais ampla sobre a importância que a rainha teve na vida do rei.
“Embora eles tenham sido casados por um período muito mais curto do que Otto com sua segunda esposa, é ao lado de Edith que ele seria enterrado. Este foi claramente um amor que durou através dos tempos", disse ele.