Encontrado na costa do Quênia, um naufrágio curioso pode ter relação com o explorador Vasco da Gama; entenda a pesquisa
Um navio submerso coberto por corais, descoberto na costa do Quênia, pode ser o "São Jorge", um galeão que naufragou há 500 anos, teorizam pesquisadores.
A embarcação, encontrada nas proximidades de Malindi, em 2013, está possivelmente ligada a Vasco da Gama, o navegador português que contornou a África para alcançar a Índia no final do século XV e início do século XVI.
Caesar Bita, arqueólogo subaquático dos Museus Nacionais do Quênia, investigou o local após receber informações de pescadores locais. Entre os achados, estavam presas de elefante e lingotes de cobre. Assim, em março deste ano, Bita convidou Filipe Castro, arqueólogo marítimo da Universidade de Coimbra, em Portugal, para analisar o sítio.
Recentemente, Castro, Bita e seus colegas publicaram uma análise no Journal of Maritime Archaeology, sugerindo que o navio pode ser o São Jorge, parte da última expedição de Vasco da Gama, que afundou em 1524.
"Acredito que este é um naufrágio único," afirmou Castro ao Live Science. "É um tesouro."
A embarcação está localizada a cerca de 500 metros da costa e repousa a apenas seis metros de profundidade. Segundo o Live Science, é um dos oito naufrágios portugueses conhecidos desse período encontrados na região.
"É maior do que imaginávamos para um navio do início do século XVI", explicou Castro à Artnet. "É enorme. A primeira sensação que você tem quando olha para ele é que vai levar tempo para escavá-lo. Com cuidado, observando os detalhes".
Em 1497, o rei de Portugal encarregou da Gama de encontrar uma rota naval da Europa para a Ásia, levando-o a navegar pelo Cabo da Boa Esperança na África do Sul. Sua viagem possibilitou o comércio marítimo entre Europa e Índia, inaugurando uma era dourada para Portugal.
Da Gama liderou mais duas expedições à Índia em 1502 e 1524; esta última incluía o São Jorge. O navegador não retornaria dessa viagem: adoeceu e faleceu na Índia em 24 de dezembro de 1524.
Se o naufrágio for realmente o São Jorge, poderá ser um dos mais antigos naufrágios europeus no Oceano Índico, embora "não tenhamos certeza," conforme Castro declarou ao Live Science.
Os pesquisadores esperam confirmar suas suspeitas através de uma pesquisa arqueológica nos recifes de corais ao redor. O navio está majoritariamente coberto por coral, mas Castro e outros mergulhadores conseguiram escavar madeiras do casco e estrutura da embarcação abrindo trincheiras.
Caso o naufrágio não seja o São Jorge, os pesquisadores cogitam que possa ser o Nossa Senhora da Graça, outra embarcação portuguesa que afundou em 1544 (não associada a da Gama).
Contudo, se for o São Jorge, possui "valor histórico e simbólico significativo como testemunho físico da presença da terceira armada de Vasco da Gama em águas quenianas", repercute uma declaração da Universidade de Coimbra divulgada em abril.
Sean Kingsley, arqueólogo marítimo e editor da revista Wreckwatch, destacou ao Live Science que identificar os restos preservados do São Jorge seria como encontrar "poeira estelar arqueológica."