Descoberto em 2017, durante escavações no sítio de uma tumba chinesa de 2.200 anos, arqueólogos encontraram os manuscritos médicos de Mawangdui
Em 2017, arqueólogos examinavam o sítio de uma tumba chinesa de 2.200 anos. Por lá, os pesquisadores encontraram muito mais do que restos mortais: eles também identificaram aquele que pode ser o mais antigo registro de estudo do corpo humano que se tem conhecimento.
Conforme repercutiu o Live Science na época, dentro dos túmulos no sítio de Mawangdui, no centro-sul da China, foi encontrado um texto chinês escrito em seda. As tumbas pertenciam ao Marquês Dai e sua família. O cadáver da esposa do Marquês, Xin Zhui, também conhecida como Lady Dai, é famoso como uma das múmias mais bem preservadas do mundo.
Os registros passaram a ser conhecidos como manuscritos médicos de Mawangdui — e se tornaram foco de um estudo publicado em setembro de 2020 no periódico The Anatomical Record.
O texto antigo possui descrições anatômicas do corpo humano, sendo as mais antigas já encontrada por pesquisadores. Por conta disso, decifrar seu conteúdo se tornou uma tarefa um tanto quanto complicada.
As habilidades necessárias para interpretá-los são diversas, exigindo que o pesquisador, em primeiro lugar, leia o original em chinês e, em segundo lugar, realize investigações anatômicas que permitam uma revisão das estruturas às quais os textos se referem", diz o estudo.
Além disso, os autores do antigo texto chinês também usaram o termo "meridiano" nos escritos — que, comumente, é associado à acupuntura; fazendo referência ao tratamento médico que se concentra na regulação do fluxo sanguíneo dentro do corpo.
Assim, os pesquisadores interpretaram o termo como sendo uma referência a um grande vaso sanguíneo que se estende por diferentes partes do corpo. Um exemplo disso foi o trecho que descreve um meridiano localizado "no centro da palma da mão, segue ao longo do antebraço entre os dois ossos, seguindo em linha reta ao longo dos tendões, viaja abaixo do tendão até o bíceps, até a axila e se conecta com o coração", seguindo o caminho da artéria ulnar.
Em outra parte, o texto descreve um "meridiano" no pé que "começa no dedão do pé e percorre a superfície medial da perna e da coxa. Conecta-se ao tornozelo, joelho e coxa. Ele percorre os adutores da coxa e cobre o abdome". O que corresponderia à localização da veia safena.
As descobertas são notáveis por dois motivos. Primeiro, dada a idade dos túmulos, que remontam à Dinastia Han, entre 206 a.C. e 220 d.C., os textos são, sem dúvida, os mais antigos prontuários médicos conhecidos descrevendo a anatomia humana no mundo.
Como observa o artigo, o texto chinês "representa o mais antigo atlas anatômico sobrevivente, projetado para fornecer uma descrição concisa do corpo humano para estudantes e profissionais de medicina na China antiga".
Até então, acreditava-se que o mais antigo prontuário médico escrito sobre a anatomia humana tivesse origem na Grécia. Historiadores acreditavam que médicos gregos antigos, como Herófilo e Erasístrato — ambos que viveram antes da Dinastia Han — haviam provavelmente escrito esses textos médicos antigos. Mas grande parte destes textos se perderam e só são conhecidos pelo que outros escritores antigos escreveram sobre eles.
Depois, estudo também serviu para desmistificar o antigo mito de que não havia fundamento científico para a "anatomia da acupuntura"; visto que o texto médico reflete conexões óbvias com a prática ancestral, oferecendo evidências de que os médicos que escreveram sobre acupuntura estavam trabalhando com base em observações reais do corpo humano.
Porém, não está claro quais foram os corpos usados para o estudo. Os pesquisadores acreditam que as análises anatômicas tenham sido obtidas a partir da dissecação de corpos de criminosos.
Conforme relata o All That Interesting, na China antiga os restos mortais humanos eram considerados sagrados, mas a honra de preservar o próprio corpo possivelmente não era concedida àqueles que vinham das camadas mais baixas da sociedade.
Por fim, o estudo enfatizou que as informações recuperadas da descoberta também demonstram a "perspectiva eurocêntrica na medicina". Estudos anteriores frequentemente negligenciaram a pesquisa de práticas antigas de culturas não ocidentais, apesar de sua longa história de práticas médicas.
Durante escavações em 2017, no sítio de uma tumba chinesa de 2.200 anos, arqueólogos encontraram aquele que pode ser o mais antigo registro de estudo do corpo humano que se tem conhecimento: os Manuscritos médicos de Mawangdui.