Nova série na Netflix, 'O Eternauta' se baseia em HQ escrita pelo argentino Héctor Germán Oesterheld, que foi perseguido durante a ditadura
Publicado em 30/04/2025, às 17h30
Nesta quarta-feira, 30, chegou ao catálogo da Netflix a nova série 'O Eternauta', uma produção de ficção científica inspirada na história em quadrinhos de mesmo nome publicada originalmente em 1957, escrita pelo argentino Héctor Germán Oesterheld.
"Após nevasca mortal matar milhões de pessoas, John Salvo e um grupo de sobreviventes enfrentam ameaça alienígena controlada por força invisível. À beira da extinção, quem sobreviveu precisa desvendar o mistério; ou desaparecer para sempre", segundo a sinopse da série, que conta com seis episódios.
Por mais que uma ideia bastante comum entre os entusiastas de ficção científica seja imaginar que essas obras sejam construídas pensando no futuro, na verdade, o que elas fazem diz muito mais respeito sobre o presente e às prospecções para o futuro próximo de quando são criadas.
E no caso de 'O Eternauta', Héctor Germán Oesterheld foi até bastante objetivo com sua alegoria, colocando uma ameaça alienígena no lugar daquilo que viria a ameaçar seu país: o regime militar.
Inclusive, o destino do escritor foi selado de maneira bastante trágica, sendo um entre os vários "desaparecidos" da Argentina, que acabaram sendo vitimadas pelos militares.
Nascido no dia 23 de junho de 1919, Héctor Germán Oesterheld era filho de imigrantes. Seu pai, Fernando, era um alemão, enquanto sua mãe, Elvira Ana Puyol, era do País Basco.
Com o passar do tempo, ele estudou e se graduou em geologia na Faculdade de Ciências Exatas e Naturais da Universidade de Buenos Aires e, em 1948, se casou com Elsa Sánchez, com quem teve quatro filhas: Estela, Diana, Martina e Beatriz.
Durante sua juventude, Oesterheld chegou a simpatizar com o Partido Comunista, mas eventualmente se desiludiu, ao perceber que o grupo havia se afastado dos trabalhadores e do povo, e se aliado a setores da oligarquia, do imperialismo e do liberalismo positivista. Por isso, o autor acabou se aproximando de setores mais combativos do peronismo, integrando a organização político-militar Montoneros.
Durante o ano de 1968, dedicou-se a criar histórias em quadrinhos sobre Che Guevara — uma figura que seria repudiada pelos militares — e, em 1973, conduzido pelos Montoneros, publicou a tirinha 'A Guerra dos Antares'.
Posteriormente, também criou '450 Anos de Guerra contra o Imperialismo', e se tornou um nome importante, de maneira cultural, para o movimento esquerdista da época.
Porém, em 24 de março de 1976, ocorreu no país o Golpe de Estado que deu início à ditadura, depondo a então presidente Isabel Perón. E sob o domínio dos militares, devido ao conteúdo das obras de Oesterheld, não só ele como suas filhas foram sequestrados e, inclusive, desaparecidos, em 27 de abril de 1977.
Vale mencionar ainda que duas das garotas estavam grávidas no momento do sequestro, e que também foram sequestrados, assassinados e desaparecidos três dos genros do autor: Raúl Araldi, Alberto Oscar Seindus e “O Basco” Mórtola.
De longe, a obra mais conhecida de Oesterheld é 'O Eternauta', que se desenvolve a partir de uma nevasca mortal acompanhada de uma invasão extraterrestre, que força os terráqueos a se isolarem e buscarem meios de autoabastecimento. Com o tempo, forma-se a "resistência", grupos de pessoas que se organizam para tentar combater a "ocupação".
Dessa forma, o que Oesterheld acabou criando com 'O Eternauta' foi basicamente um prelúdio do que aconteceria na Argentina quase duas décadas depois. Sua obra recria de certa forma as invasões imperialistas ministradas pelos Estados Unidos na América Latina, que buscavam eliminar as autoridades constitucionais e os ideais revolucionários contrários ao imperialismo.
No fim, essa operação americana — que ficou conhecida pela história como Operação Condor — deixou um saldo de 400 mil mortos em toda a América Latina e Caribe. E é surpreendente como, em 'O Eternauta', Oesterheld empregou terminologias e elementos bastante característicos à linguagem da época, com expressões como "companheiros", "irmandade", "solidariedade", "guerra" e "sobreviventes", repercute a revista Opera Mundi.
Infelizmente, após ser sequestrado pelos militares, Oesterheld e suas filhas entraram para a longa lista dos "detidos-desaparecidos" da Argentina. Seu desaparecimento ocorreu logo após o lançamento da segunda parte de 'O Eternauta', e a última vez em que foi visto vivo foi ainda no fim de 1977 ou início de 1978, ano em que se presume que foi assassinado.
Para conhecer mais sobre o grande sucesso dos quadrinhos argentinos, assista 'O Eternauta', já disponível na Netflix!
Nesta quarta-feira, 30, chegou ao catálogo da Netflix a nova série 'O Eternauta', inspirada em grande clássico das histórias em quadrinhos da América do Sul. A obra foi publicada originalmente na década de 1950 pelo argentino Héctor Germán Oesterheld, que inclusive foi preso e desaparecido durante a ditadura militar em seu país, devido aos conteúdos subversivos de suas criações.