Desastre aéreo ocorrido em julho de 1989 no estado americano de Iowa deixou 111 mortos e marcou para a sempre a vida do pequeno Spencer Bailey
Spencer Bailey tinha apenas três anos e onze meses quando sobreviveu a um grande desastre aéreo sobre os campos de milho de Sioux City, Iowa, em julho de 1989. Hoje prestes a completar 40 anos, o americano diz não ter lembranças do incidente, mas uma fotografia do sobrevivente, ainda garotinho nos braços de um guarda nacional, o cerca desde então.
Recentemente, Spencer voltou ao local do acidente, à antiga pista 22 do aeroporto, para encarar o passado. O asfalto, agora rachado e tomado por ervas daninhas, parece, para ele, uma metáfora viva. "Há uma espécie de bela metáfora que reflete literalmente o tipo de cicatrizes e a natureza temporal do trauma persistente. Mas também ser capaz de superar isso." De acordo com a revista People, a tragédia do voo 232 da United Airlines matou 111 pessoas, incluindo a mãe de Bailey, Frances.
Os anos se passaram, Bailey cresceu, tornou-se jornalista e escritor. Fascinado pelo tempo, cofundou a empresa de mídia The Slowdown (A desaceleração) e criou o podcast Time Sensitive (Sensível ao Tempo). Também publicou, em 2020, o livro In Memory Of: Designing Contemporary Memorials (Em Memória: Projetando Memoriais Contemporâneos), no qual analisa formas de homenagear tragédias e memórias.
"Minha mãe tinha 36 anos, então este ano marca a quantidade de tempo que ela passou na Terra", disse Spencer na época do lançamento. "Obviamente, carrego minha mãe comigo. Sou muito grato por esses três anos e 11 meses que tivemos juntos, mas não tenho memória deles."
Seu irmão mais velho, Brandon, contou-lhe como Frances envolveu os filhos com os braços no momento do impacto, quando a cauda do avião se rompeu e suas poltronas foram ejetadas. Brandon sobreviveu com ferimentos graves enquanto que o caçula entrou em coma por cinco dias.
O pai, Brownell, e o irmão gêmeo de Spencer, Trent, não estavam no voo, já que haviam viajado antes. Quando a notícia do acidente chegou, a tia que esperava os passageiros no aeroporto ficou em choque. Brownell correu para o hospital, já sabendo que Brandon havia sobrevivido, mas não tinha certeza sobre Spencer — até que alguém mencionou a foto que começava a circular na imprensa.
A imagem, mais tarde transformada em estátua, tornou-se símbolo de sobrevivência, mas também pesou sobre Spencer como uma fama imposta.
"Eu nunca me reconheci naquela foto", afirma. "Parecia sobrenatural. Parecia algo que foi impingido a mim, uma pequena forma de celebridade que eu nunca pedi." Ao visitar o memorial do acidente pela primeira vez em 1994, sentiu que aquela representação não pertencia a ele. "Parecia sobrenatural", diz.
A tragédia inspirou livros, documentários e até um filme para a televisão — A Thousand Heroes, com Charlton Heston. Spencer não participou diretamente dessas produções, mas aprendeu muito por meio delas. Descobriu, por exemplo, que uma passageira chamada Lynn Hartter o encontrou entre os destroços e o entregou ao tenente-coronel Dennis Nielsen, da Guarda Nacional. "Deus salvou a criança. Eu só a carreguei", disse Nielsen anos depois.
No ano passado, quando o sobrevivente e sua companheira, Emma, voltavam de uma viagem ao Japão, enfrentaram três horas de turbulência severa. "Outros passageiros estavam gritando, chorando e vomitando, e minha esposa e eu conseguimos manter a calma. Mas quando o avião pousou em Minneapolis ... Eu ainda estava tremendo", relatou.
Spencer também viveu uma outra experiência envolvendo uma aeronave anos depois do acidente. O americano trabalhava na revista Esquire, em Nova York, quando avistou, do 21º andar da Hearst Tower, o famoso pouso de emergência do capitão Sully Sullenberger no rio Hudson. Ele afirmou ter tido uma sensação muito estranha na ocasião.
Apesar das perdas, a família Bailey encontrou um novo caminho. Brownell, hoje com 71 anos, nunca se casou novamente. Agora, ele é avô de quatro netos: Brandon tem duas filhas; Trent, um filho e uma filha.
Em 18 de julho de 2023, um dia antes do aniversário do acidente, Spencer pediu Emma em casamento. "Por muito tempo, toda vez que o dia 19 de julho chegava, era um poço de emoção. E agora, toda vez que chega o dia 18 de julho, também é um poço de emoção — mas é o nascimento dessa nova vida e desse novo amor", conta o recém-casado. "E há algo realmente poético para mim no fato de que essas duas datas agora estão lado a lado."