Com um julgamento que chegou a ter os próprios filhos como testemunhas de acusação, Collins foi uma das últimas na Austrália a ser condenada à forca
Nascida em 1847 em Belltrees, na Austrália, Louisa era filha de imigrantes. Seu pai havia sido enviado para a Austrália como condenado. Diante de uma infância sem regalias, a jovem tinha seis irmãos que, juntos, viviam em condições de instabilidade financeira e parental devido aos excessos do pai e dificuldades de adaptação da mãe.
Aos 14 anos, a garota foi enviada para a casa de um advogado em Merriwa, onde trabalharia e doméstica e ficaria alojada para diminuir custos na família. Quando estava próxima de completar sua maioridade, teve a oportunidade de garantir o conforto ao casar com Charles Andrews, um açougueiro regional que auxiliava sua família por anos.
O casamento não era interessante para a jovem; o rapaz era 13 anos mais velho e em depoimento posterior, ainda foi chamado de “entediante” por Louisa. Porém, foi convencida pela mãe a se unir com o rapaz por seu poder aquisitivo e possibilidade de gerar uma renda para o casal.
A primeira vítima
Louisa e Charles tiveram nove filhos juntos, com dois falecidos ainda na infância. Com o aumento dos membros na família, o casal precisou se realocar em um espaço maior para abrigar as crianças. Em 1886, se mudaram para Botany, um subúrbio em Sydney, e o marido começou a trabalhar como lavador de lã, utilizando produtos químicos.
Com um salário menor no novo emprego, Charles teve a ideia de completar a renda da família oferecendo a hospedagem em um dos quartos da casa. A ideia pareceu ainda melhor quando um colega do novo trabalho, Michael Collins, decidiu alugar o quarto e residir junto a família. Em dezembro do mesmo ano, o açougueiro descobriu que Collins e Louise tinham um caso e expulsou o colega da casa.
A decisão pareceu não agradar a esposa, que preferiu não se manifestar. Quando o ano de 1887 iniciou, Charles Andrews aproveitou a proposta de um seguro de vida oferecido pelo trabalho e assinou um testamento em 31 de janeiro. Nos três dias seguintes, o homem adoeceu e agonizou com fortes dores estomacais com cólicas, vômitos e diarreia. No dia 2 de fevereiro, o açougueiro não resistiu e faleceu aos 53 anos.
Coincidência?
Na mesma semana do falecimento, a viúva solicitou o resgate do valor do seguro de vida do marido. A surpresa, no entanto, ocorreu com a reaproximação do amante; Collins auxiliou a moça com os papéis do testamento e prosseguiu o relacionamento como se nada houvesse ocorrido.
Dois meses após o funeral, Louise se casou com Michael, aderindo o sobrenome Collins. A revelação da traição se tornou mais explicita com a descoberta de que a moça estava no quarto mês de gestação durante o casamento. A criança nasceu ainda em 1887, mas faleceu na infância e foi enterrada num túmulo sem identificação.
Já Michael começou a apresentar os mesmos sintomas de Charles na metade de 1888, após um ano de casado. Em 8 de julho, ele faleceu. Em ambas as ocasiões, recorreu ao seguro afirmando que os sintomas apresentados eram relacionados ao acesso a produtos químicos da fábrica onde os dois trabalharam.
Motivos cruzados
Um dos filhos mais velhos do primeiro casamento, Arthur, manifestou dúvidas em relação ao motivo do falecimento de seu pai e apresentou a denúncia ao tribunal australiano, provando com depoimentos e laudos médicos que o pai era um home saudável, chegando a trabalhar 15 horas por dia quando necessário.
O inquérito foi reaberto, mas sem a possibilidade de realização de autópsias. Em júri popular, Louise e os filhos foram convocados para depor. A testemunha chave foi May Andrews, filha única do primeiro casamento de Michael, que afirmou ter visto uma embalagem de veneno de rato à base de arsênico, letal para o consumo humano.
Após três julgamentos sem testemunhas para sua defesa, o quarto julgamento pôde concluir que ambos faleceram em decorrência de um envenenamento da esposa e a condenou, em janeiro de 1889, à pena de morte, sendo a última mulher a ser enforcada no estado de Nova Gales do Sul.
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