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Matérias / Ayrton Senna

Herói das pistas: Como foi a primeira vitória de Ayrton Senna no Brasil?

Dono de muitas vitórias, Ayrton conquistou dois títulos internacionais antes de conseguir um no Brasil, mas a corrida foi cheia de desafios; confira!

por Isabelly de Lima

Publicado em 30/04/2024, às 19h00 - Atualizado em 01/05/2024, às 14h09

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O piloto Ayrton Senna - Getty Imagens
O piloto Ayrton Senna - Getty Imagens

No dia 1º de maio de 1994, o mundo se despedia de um dos maiores pilotos da história do automobilismo: Ayrton Senna. Sua morte trágica no Grande Prêmio de San Marino, na Itália, aos 34 anos, deixou um vazio imenso no esporte e nos corações de milhões de fãs ao redor do mundo.

Senna era mais do que um piloto, era um ícone, um símbolo de superação, talento e paixão. Sua pilotagem agressiva e precisa, aliada à sua inteligência e carisma, o transformou em um dos esportistas mais populares e admirados de todos os tempos. Inclusive, um dos momentos mais marcantes de sua carreira, com certeza, foi sua vitória no autódromo de Interlagos em 1991.

Essa corrida foi tão importante para ele que até mesmo a minissérie da Netflix, “Senna” inspirada na vida do piloto dará destaque para tal momento, que ocorreu em 24 de março de 1991, rendendo o primeiro lugar do Grande Prêmio de Interlagos. Veja o trailer da produção que mostra a preparação do atleta para a corrida em questão:

Entretanto, como, de fato, aconteceu essa corrida? Como Ayrton conquistou sua primeira grande vitória no Brasil? Confira a seguir:

GP do Brasil de 91

A corrida do Grande Prêmio do Brasil de 1991 ficou marcada como um evento histórico para Ayrton Senna, que finalmente alcançou a vitória em sua terra natal. No entanto, o percurso se mostrou mais desafiador do que o previsto. Para compreender totalmente o desenrolar dos acontecimentos, é necessário contextualizá-los.

Senna estava realmente aflito nessa disputa - Getty Imagens

Ayrton Senna já havia conquistado dois títulos mundiais, mas nunca havia triunfado em seu país. Seu histórico anterior no GP do Brasil incluía um segundo lugar em 1986, um terceiro lugar em 1990 e outros resultados menos favoráveis, como o décimo primeiro lugar em 1989 e desclassificações e abandonos nos anos seguintes.

O incidente notável em 1990, quando Senna liderava a corrida até colidir com um carro mais lento, pilotado por Satoru Nakajima da equipe Tyrrell, destacou-se como um momento emblemático. Essa colisão o forçou a ir para os boxes, permitindo que seu principal rival na época, Alain Prost, assumisse a liderança e eventualmente vencesse a corrida.

O cenário mudou em 1991. A temporada começou em Phoenix (EUA), onde Senna venceu, com Prost (Ferrari) em segundo lugar. Contudo, Prost não seria um adversário significativo naquele ano devido aos problemas de desempenho da equipe italiana. Em vez disso, a McLaren enfrentaria uma nova rival, a Williams, com Nigel Mansell e Riccardo Patrese, embora nenhum dos carros da Williams tivesse completado a primeira etapa até então.

O piloto Riccardo Patrese - Getty Imagens

Com o passar do tempo, a Williams emergiu como uma forte concorrente na temporada, impulsionada por diversos fatores. Um desses fatores foi o motor Renault V10, que após dois anos de desenvolvimento pela equipe, revelou-se superior aos motores Honda V12 utilizados anteriormente pela McLaren, de acordo com o portal Terra.

Preocupação para Senna

Isso representou uma preocupação para Senna, especialmente considerando a mudança da Ferrari para o motor V12. Os japoneses haviam alterado seu motor, uma decisão que, mais tarde, se revelaria um erro significativo, especialmente a partir de 1992.

No que diz respeito à corrida em si, durante a sessão de qualificação, Senna demonstrou sua habilidade ao conquistar a pole position, superando Patrese por 0,383 segundos e Mansell por 0,451 segundos. Na largada das 71 voltas da corrida, Senna manteve a liderança, enquanto Mansell rapidamente assumiu a segunda posição, demonstrando um ritmo forte.

A vantagem de Senna nas retas, onde a McLaren se destacava, permitiu-lhe manter a liderança, enquanto Mansell tentava alcançá-lo. A batalha continuou até a volta 25, quando Mansell fez sua parada nos boxes na tentativa de superar Senna através da estratégia de parar antes e retornar à pista com pneus mais novos (conhecida como undercut).

Ayrton Senna e sua equipe na partida em questão, em 1991 - Getty Imagens

No entanto, a parada nos boxes da Williams não foi executada com eficiência, resultando em uma perda de tempo significativa. Senna, por sua vez, conseguiu fazer sua parada na volta 27 e voltou à pista ainda na liderança, com uma vantagem de 8,047 segundos sobre Mansell.

Mansell gradualmente reduziu a diferença para Senna, mas problemas de câmbio começaram a afetar ambos os pilotos nas últimas voltas da corrida.

Problemas na pista

Na realidade, Patrese não estava tentando ultrapassar Senna. Tanto o piloto quanto a equipe Williams acreditavam que Senna estava apenas controlando o ritmo da corrida. Essa percepção foi reforçada pela aparente tranquilidade da McLaren, que não indicava quaisquer problemas enfrentados por Ayrton.

Patrese só ficou ciente dos problemas de Senna na volta 65 e então decidiu aumentar o ritmo. A diferença entre os dois diminuiu para apenas 5,446 segundos faltando três voltas para o final. Não está claro quando Senna perdeu a primeira e a segunda marchas, mas ele estava usando apenas a sexta marcha nas voltas finais, com tempos na casa de 1m28s.

Porém, nos momentos decisivos, Ayrton conseguiu realizar duas voltas com tempos na casa de 1m25s. Ele começou a manipular a embreagem nas saídas de curva para aumentar a rotação do motor, permitindo-lhe administrar o carro com apenas uma marcha funcional.

Patrese também enfrentou problemas com o câmbio nas duas últimas voltas, resultando em tempos de volta de 1m24s, enquanto anteriormente estava na casa de 1m21s. Para intensificar ainda mais o drama, uma leve garoa transformou-se em uma chuva forte na última volta.

Vitória de Ayrton

Apesar das adversidades, Senna conseguiu vencer, expressando uma mistura de felicidade e exaustão através do rádio. Um oficial entregou-lhe a bandeira do Brasil, uma cena que se tornaria icônica e que foi repetida por Lewis Hamilton no GP de São Paulo de 2021.

Senna levantando a bandeira do Brasil após vitória - Getty Imagens

Senna segurou a bandeira por alguns instantes antes de devolvê-la. Alguns fiscais tentaram empurrar o carro para fazê-lo pegar, mas Senna estava tão exausto que quase desmaiou no carro e precisou ser removido pela equipe médica. Mesmo assim, ele subiu ao pódio e teve dificuldades para erguer o troféu, mas permaneceu lá.

É importante ressaltar que Senna era extremamente focado e foi o primeiro piloto a dar grande importância à preparação física, alterando os padrões da época. Isso certamente contribuiu para sua capacidade de resistir. É justo dizer, inclusive, que outro piloto naquela temporada dificilmente teria alcançado o que o brasileiro realizou.