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Matérias / Eunice Paiva

Conheça o documentário com Eunice Paiva que nunca foi exibido nos cinemas

'Eunice, Clarice, Thereza' foi filmado em 1978, e gira em torno de três viúvas de presos políticos durante a ditadura militar; conheça!

Éric Moreira
por Éric Moreira

Publicado em 12/03/2025, às 19h00 - Atualizado em 20/03/2025, às 07h08

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Eunice Paiva em fotografia e em cena do documentário 'Eunice, Clarice, Thereza' - Arquivo pessoal / Reprodução
Eunice Paiva em fotografia e em cena do documentário 'Eunice, Clarice, Thereza' - Arquivo pessoal / Reprodução

Um dos filmes mais comentados dos últimos meses, 'Ainda Estou Aqui', de Walter Salles, venceu o prêmio de Melhor Filme Internacional no Oscar. Com o sucesso, um documentário intimamente relacionado a essa história, mas que nunca foi exibido nos cinemas, foi restaurado, digitalizado, e em breve estará disponível gratuitamente.

Enquanto 'Ainda Estou Aqui' gira em torno de Eunice Paiva, viúva de Rubens Paiva, preso político durante os anos da ditadura militar, o documentário, 'Eunice, Clarice, Thereza', reúne depoimentos marcantes de três viúvas de presos políticos da ditadura militar: Eunice Paiva, Clarice Herzog e Thereza de Lourdes — casadas com Rubens Paiva, Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho, respectivamente.

Eunice Paiva, Clarice Herzog e Thereza Fiel / Crédito: Reprodução/Instagram/@idfb_cinelimite

Eunice, Clarice, Thereza

Filmado em 1978, ainda durante a ditadura militar, e dirigido e criado por Joatan Vilela Berbel, o documentário reúne relatos marcantes e objetivos das três mulheres, que naquele momento já eram viúvas e ainda viviam o auge da repressão.

Justamente pela época em que foi produzido, nunca foi exibido em cinemas. Em vez disso, ficou mais conhecido em sindicatos, cineclubes e grupos de movimentos sociais, desempenhando um papel crucial na mobilização civil conta a ditadura, em seus anos finais.

Rubens Paiva, marido de Eunice, era um engenheiro e ex-deputado, e pai de Marcelo Rubens Paiva, autor de 'Ainda Estou Aqui'; Clarice, por sua vez, é viúva do jornalista Vladimir Herzog, que foi assassinado pelos militares, mas teve sua morte forjada para parecer suicídio, um caso alarmante da época; já Thereza é viúva de Manoel Fiel Filho, operário assassinado no DOI-CODI do II Exército/SP em 17 de janeiro de 1976.

Rubens Paiva, Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho, respectivamente / Crédito: Domínio Público / Comissão da Verdade do Estado de São Paulo via Wikimedia Commons

Agora, com o sucesso de 'Ainda Estou Aqui', uma cópia preservada do documentário, esquecida por anos no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, foi restaurada e digitalizada. 

Relato de Eunice

A primeira a falar no curta-metragem é Eunice, conforme repercute O Globo. No depoimento, ela descreve que a rotina da família era "uma alegria total", até o fatídico dia 20 de janeiro de 1971, quando um grupo de militares bateu na porta de sua casa para prender seu marido.

A empregada entra, muito assustada: ‘Doutor, tem uns homens na porta querendo falar com o senhor’. (...) Entraram seis homens com metralhadoras", conta a viúva de Rubens Paiva em 'Eunice, Clarice, Thereza'.

Na manhã seguinte, Eunice e uma de suas filhasMaria Eliana, com apenas 15 anos — também foram levadas ao DOI-CODI.

"Tentei saber primeiro a razão daquilo tudo. A prisão do Rubens, a minha prisão, que era para mim um verdadeiro absurdo", prosseguiu. "Finalmente consegui saber que naquela altura eles estavam interessadíssimos em resolver o sequestro do embaixador suíço, do qual ainda não tinham nenhuma pista".

Fotografia da família Paiva / Crédito: Arquivo pessoal

Desaparecimento de Rubens

Quando voltou para casa, Eunice começou a luta pela qual sua trajetória ficou marcada, e acabou narrada em 'Ainda Estou Aqui': tentar descobrir o paradeiro de seu marido.

No entanto, como sabemos, em agosto daquele mesmo ano o Superior Tribunal Militar negou um habeas corpus afirmando que Rubens já não estava mais preso, alegando que ele teria fugido. Naquele momento, Eunice entendeu que o companheiro já estava morto.

Não havia mais o que fazer, a resposta era sempre a mesma", desabafou. "Foi a época em que mais sumiu gente, mais se prendeu gente, mais se matou gente. As pessoas eram presas, e de repente as famílias recebiam os cadáveres em caixões lacrados, que não podiam ser abertos".

Apenas por isso, sem considerar ainda os demais depoimentos, tendo sido o filme lançado em 1980, "nem adiantava mandar para a Censura, porque jamais seria aprovado", segundo explicou Berbel mais recentemente ao colunista Bernardo Mello Franco, do O Globo.

Agora, com a restauração, o rico projeto finalmente poderá ser assistido. A versão restaurada de 'Eunice, Clarice, Thereza', que, inclusive, contou com o auxílio do diretor no processo, estará disponível no site da plataforma Cinelimite. Depois, o diretor ainda planeja exibir o documentário também nos cinemas, pela primeira vez.

Aos interessados, 'Eunice, Clarice, Thereza' estará disponível gratuitamente no site Cinelimite entre os dias 24 de março e 7 de abril.