Construída no século 15, a Capela Sistina guarda curiosidades que revelam sua importância religiosa, histórica e artística até os dias hoje
A Capela Sistina é um local que impressiona. Localizada no coração do Vaticano, ela voltou a ocupar o centro das atenções nos últimos dias, já que é ali, desde 1878, que tradicionalmente acontecem os conclaves — as votações secretas que definem quem será o novo papa.
Nos últimos dias, milhões de fiéis e curiosos ao redor do mundo viraram seus olhos para o local aguardando o momento em que a famosa fumaça branca subiria da chaminé, anunciando o sucessor do papa Francisco. O cardeal norte-americano Robert Prevost foi eleito, assumindo o nome de Leão XIV.
Mas, muito além de sua importância religiosa e política, a Capela Sistina é uma joia do Renascimento que fascina pela grandiosidade de sua arte. Como bem avisou o pensador alemão Goethe no século 19: "até que você veja a Capela Sistina, não terá a menor ideia do que o ser humano é capaz de fazer."
A seguir, descubra cinco curiosidades sobre esse tão impressionante lugar.
É quase inacreditável imaginar que Michelangelo tenha pintado o teto da Capela Sistina contra a própria vontade. Ele, que se considerava mais um escultor do que pintor, se sentia deslocado diante de um projeto tão grandioso.
Quando o papa Júlio II o convidou para decorar a abóbada da capela, o artista estava imerso na criação do túmulo do próprio pontífice e não demonstrava entusiasmo pela tarefa. Tentou recusá-la duas vezes antes de ceder.
De acordo com o portal G1, pouco depois do início do trabalho, em 1508, Michelangelo escreveu um poema ao amigo Giovanni di Pistoia, no qual expressava suas dores físicas e frustrações com a empreitada. Queixava-se da postura tortuosa que precisava manter, das câimbras constantes e até da tinta que caía em seu rosto.
Minha pintura está morta. Defende-a por mim, Giovanni, protege minha honra. Não estou no lugar certo, não sou pintor", desabafou.
Trabalhando majoritariamente sozinho, ele passou anos sobre andaimes a 18 metros do chão, de cabeça inclinada para cima, pintando cerca de 3.300 metros quadrados de teto. O resultado, no entanto, é uma das maiores obras-primas da história da humanidade — um feito de genialidade e resistência.
Entre as inúmeras cenas do teto, uma se destaca por sua fama e simbolismo: A Criação de Adão. A imagem de dois dedos quase se tocando — o de Deus e o de Adão — tornou-se um ícone da cultura ocidental. Segundo a historiadora Catherine Fletcher, essa é "uma das poucas pinturas que se vê em todos os lugares", ao lado da Mona Lisa.
Além do impacto visual, a obra é notável por sua originalidade. Michelangelo retratou Deus como uma figura poderosa e atlética, cercado por figuras envoltas em um manto vermelho. Uma delas chama atenção: uma mulher que observa Adão com atenção.
Desde o século 19, estudiosos sugerem que essa figura seria Eva, representada antes mesmo de sua criação. Outros acreditam que seja a Virgem Maria, e que a criança ao seu lado — tocada sutilmente por Deus — seria o menino Jesus.
Muitos se surpreendem ao saber que a Capela Sistina não foi sempre como conhecemos hoje. Quando o papa Sisto IV ordenou sua construção, em 1480, Michelangelo ainda era criança. O teto, antes de ser transformado, era azul com estrelas douradas, obra de Piermatteo d'Amelia.
Além dele, artistas renomados como Sandro Botticelli, Pietro Perugino, Cosimo Rosselli e Domenico Ghirlandaio (mestre de Michelangelo) também participaram da decoração inicial. Esses pintores criaram, nas paredes laterais da capela, um ciclo narrativo com episódios do Antigo e do Novo Testamento, retratando a vida de Moisés e de Jesus Cristo.
Das 14 pinturas originais nas paredes, 12 permanecem preservadas. As duas que se perderam foram substituídas quando Michelangelo pintou O Juízo Final na parede do altar, atendendo a um pedido do papa Clemente VII. Com isso, parte das obras iniciais, incluindo uma imagem da Virgem entre os apóstolos, foi removida.
Pintado 25 anos depois do teto, O Juízo Final é outra obra monumental de Michelangelo. Ele já tinha 60 anos quando aceitou o desafio de retratar o apocalipse e a eternidade. Em um fundo azul, mais de 300 figuras humanas — muitas nuas — giram ao redor de um Cristo que julga os vivos e os mortos.
A nudez, no entanto, causou escândalo. Biagio da Cesena, mestre de cerimônias do Vaticano, criticou a obra como indecente. A resposta de Michelangelo foi pintá-lo como o juiz do inferno: nu, com uma serpente mordendo suas partes íntimas.
Após a morte do artista, o Concílio de Trento determinou que as figuras fossem cobertas, e coube a Daniel da Volterra, um antigo assistente, pintar as famosas "roupas" que valeram a ele o apelido de Il Braghettone ("o criador de calcinhas").
Durante a restauração entre as décadas de 1980 e 1990, os restauradores optaram por remover parte das roupas adicionadas, mas mantiveram algumas como testemunho das censuras impostas no século 16.
É fascinante lembrar que, enquanto Michelangelo pintava o teto da Capela Sistina em Roma, um outro mundo florescia a milhares de quilômetros dali. No topo das montanhas dos Andes, Machu Picchu, símbolo máximo do Império Inca, estava em plena atividade.
A cidade foi construída por volta de 1450 e permaneceu habitada até meados de 1530 — exatamente o período em que a Capela Sistina foi decorada pelos grandes mestres italianos. As duas civilizações, embora tão distintas e distantes, criaram manifestações culturais impressionantes quase simultaneamente.