Embora Lee Harvey Oswald seja apontado como único responsável pelo assassinato de JFK, Jim Garrison acreditava numa conspiração para matá-lo
Quando John Fitzgerald Kennedy foi assassinado durante um comício por Dallas, em 22 de novembro de 1963, Lee Harvey Oswald foi apontado como único responsável pela morte do presidente americano.
Alegando ser apenas um bode expiatório de algo maior, Oswald foi morto por Jack Ruby apenas dois dias depois, em 24 de novembro, antes mesmo de ser levado à Justiça. O cenário levou a diversas teorias da conspiração e a busca incessante de Jim Garrison pela verdade.
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Ambicioso, o promotor público de Nova Orleans se após às conclusões polêmicas e controversas da Comissão Warren sobre o atirador solitário e acreditava que a morte de JFK era parte de uma conspiração.
Em 1º de março de 1967, Garrison prendeu e acusou o empresário de Nova Orleans, Clay Shaw, de conspirar para assassinar o presidente Kennedy. Shaw foi levado a um julgamento no Tribunal Criminal de Nova Orleans. Exatos dois anos depois, um júri levou menos de uma hora para declará-lo inocente. Clay Shaw segue comoa única pessoa levada a julgamento pelo assassinato de JFK.
Antes de chegarmos ao julgamento de Clay Shaw, primeiro precisamos entender a rede de supostas ligações que o fizeram ser alvo das investigações. Um ponto principal dessa história começa em Nova Orleans, no mesmo dia do assassinato de JFK.
Na ocasião, Guy Banister deu uma coronhada em Jack Martin durante uma discussão acalorada. Nos dias seguintes, Martin disse às autoridades e repórteres que Banister estava frequentemente na companhia de um homem chamado David Ferrie que, segundo Martin, poderia estar envolvido no assassinato de John F. Kennedy, conforme aponta o Relatório final de assassinatos da HSCA.
À polícia de Nova Orleans, Martin alegou que Ferrie conhecia Lee Harvey Oswald desde que eles serviram juntos na Patrulha Aérea Civil de Nova Orleans. Além disso, apontou que Ferrie "deveria ter sido o piloto de fuga no assassinato". Jack Martin também revelou que David Ferrie viajou até Dallas na noite anterior ao assassinato — algo que David alegou ser apenas por assuntos comerciais.
Essas informações chegaram até Jim Garrison, que rapidamente prendeu Ferrie e o levou até o FBI para ser investigado. O órgão entrevistou David e Martin algumas vezes, mas considerou Jack pouco confiável e liberou Ferrie sem conseguir progredir na acusação.
Vale ressaltar que, uma investigação posterior, do Comitê Seleto da Câmara dos Estados Unidos sobre Assassinatos, concluiu que a "investigação geral do FBI no momento do assassinato não foi completa".
Jim Garrison voltou as atenções para o caso em 1966, dois anos depois da morte de Guy Banister por ataque cardíaco. Ainda assim, ele entrevistou Jack Martin, que alegou que Guy e seus associados estavam envolvidos no roubo de armas e munições de arsenais e no tráfico de armas — Garrison acreditava que eles faziam parte de uma rede de contrabando de armas que fornecia armas aos cubanos anti-Castro.
Conforme Garrison continuou sua investigação, ele se convenceu de um grupo de ativistas de direita (que incluia Ferrie, Banister e Clay Shaw) estavam envolvidos em uma conspiração com elementos da Agência Central de Inteligência (CIA) para matar o presidente Kennedy.
A motivação seria a raiva pela política externa de Kennedy, especialmente os esforços de para encontrar uma solução política, em vez de militar, em Cuba e no Sudeste Asiático. Jim também acreditava que o trio conspirou para incriminar Oswald como um bode expiatório no assassinato de JFK, conforme relatado pelo New Orleans States em 17 de fevereiro de 1967.
Para completar o cenário, uma semana depois da divulgação da manchete, David Ferrie, então seu principal suspeito, foi encontrado morto em seu apartamento devido a um aneurisma cerebral. Garrison suspeito que o homem foi assassinado como queima de arquivo, apesar do relatório do legista apontar que sua morte foi devido a causas naturais.
Segundo Garrison, no dia em que a notícia da investigação foi divulgada, Ferrie ligou para seu assessor, Lou Ivon, e avisou: "eu sou um homem morto", descreve em seu livro 'On the trail of the assassins: my investigation and prosecution of the murder of President Kennedy'. Mas onde Clay entra nessa história?
Com Ferrie morto, Garrison começou a concentrar sua atenção em Clay Shaw, que era diretor do International Trade Mart. Garrison prendeu Shaw em 1º de março de 1967, acusando-o de fazer parte de uma conspiração no assassinato de John F. Kennedy.
A principal fonte da acusação era o vendedor de seguros Perry Russo, que testemunhou ter comparecido em uma festa no apartamento de David Ferrie. Por lá, ele foi apresentado a Lee Harvey Oswald (que teria sido identificado pelo nome de Leon Oswald) e a Clay Bertrand (a quem ele identificou como Clay Shaw no tribunal).
Na festa, Ferrie, Leon e Bertrand discutiram o assassinato de JFK. Segundo o depoimento de Russo, a conversa incluiu planos para a "triangulação do fogo cruzado" e álibis para os participantes.
A procura pelo tal de Clay Bertrand já vinha desde os tempos da Comissão Warren, que recebeu a informação que o advogado de Nova Orleans, Dean Andrews, enquanto estava hospitalizado por pneumonia, recebeu um telefonema de Bertrand no dia seguinte ao assassinato, pedindo que ele voasse para Dallas para representar Oswald.
Porém, posteriormente, segundo relatórios do FBI, Andrews alegou que suposto telefonema de Clay Bertrand era fruto de sua imaginação devido aos efeitos de sua enfermidade. Andrews testemunhou à Comissão Warren que a razão pela qual ele disse isso ao FBI foi por causa do assédio do órgão.
Por fim, em seu livro, Jim Garrison aponta que após uma longa busca pelo bairro de French Quarter, de Nova Orleans, sua equipe foi informada pelo barman da taverna Cosimo's que Clay Bertrand era o pseudônimo que Clay Shaw usava.
Meus homens começaram a encontrar uma pessoa após a outra no French Quarter que confirmou que era de conhecimento geral que 'Clay Bertrand' era o nome pelo qual Clay Shaw atendia", escreveu.
Shaw, por sua vez, negou qualquer envolvimento numa conspiração para assassinar JFK, se dizendo um grande apoiador do presidente morto: "Eu era um grande admirador de Kennedy. Eu achava que ele tinha dado à nação uma nova guinada depois dos anos um tanto monótonos de Eisenhower".
Eu sentia que ele estava vitalmente preocupado com questões sociais, o que também me preocupava. Eu achava que ele tinha juventude, imaginação, estilo e disposição. No geral, eu o considerava um presidente esplêndido", declarou.
Em 1º de março de 1969, após 54 minutos, o júri declarou Clay Shaw inocente das acusações. Ele morreu aos 61 anos, em 15 de agosto de 1974, vítima do câncer de pulmão metastático — sendo um fumante inveterado a maior parte de sua vida.
Mais revelações sobre Clay vieram à tona em 1979, quando Richard Helms, ex-diretor da CIA, testemunhou sob juramento que Shaw tinha sido feito parte do Serviço de Contato Doméstico (DCS) da CIA, onde atuou voluntariamente fornecendo informações de suas viagens ao exterior, principalmente para a América Latina.
Durante as investigações, Garrison já havia apontando supostas ligações de Clay com órgão, fomentando ainda mais uma possível conspiração do governo norte-americano na morte de JFK.
Na década de 1960, havia temores reais de que regimes comunistas se espalhariam e dominariam o mundo. Tanto é que os Estados Unidos apoiou golpes militares em diversos países do cone sul.
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Acontece que entre 1948 e 1956, Shaw foi consultor da CIA no Serviço de Contato Doméstico sobre as negociações comerciais de americanos no exterior. A ideia era apontar a comunidade de inteligência americana para qualquer possível atividade soviética que pudesse minar os interesses dos EUA. O DCS era um programa ultrassecreto, e Shaw fez 33 relatórios à agência.
Clay, por conta disso, fez diversas viagens ao exterior, o que aumentou ainda mais as desconfianças de Garrison. Como o DCS era um programa ultrassecreto, então Garrison não sabia de nada sobre ele durante sua investigação. Já a CIA, preocupada que a acusação de Shaw revelaria o programa doméstico, fez um acobertamento em relação a seu envolvimento com o órgão.
Em uma entrevista de 1992, Edward Haggerty, que foi juiz no julgamento de Clay Shaw, declarou: "Eu acredito que ele [Shaw] estava mentindo para o júri. Claro, o júri provavelmente acreditou nele. Mas eu acho que Shaw fez um bom trabalho de trapaça".