'Os Reis de Tupelo' conta a chocante história real de Paul Kevin Curtis, envolvendo teorias da conspiração e tentativa de envenenar o presidente
Publicado em 12/12/2024, às 20h00
Nesta quarta-feira, 11, chegou à Netflix a minissérie documental alucinante 'Os Reis de Tupelo: Crime e Conspiração nos EUA', que busca esclarecer os fatos em torno da controversa figura de Paul Kevin Curtis, cuja história impressiona por envolver teorias da conspiração e uma prisão por supostamente tentar envenenar o então presidente norte-americano, Barack Obama.
Curtis era apenas um imitador de Elvis Presley da cidade de Tupelo, no Mississippi — onde o rei do rock nasceu —, que em abril de 2013 teve sua vida revirada depois que sua casa foi invadida por dezenas de veículos da polícia, além de investigadores federais, acusando-o de enviar cartas a autoridades do governo contaminadas com um veneno letal.
Dividido em apenas três episódios, o documentário revela como acreditar em teorias da conspiração levou o Curtis a se envolver em uma série de problemas e brigas, que resultaram em sua dramática prisão no ano de 2013; e ainda os esforços posteriores que ele enfrentou, para tentar limpar o próprio nome. Confira a seguir a verdadeira história de Paul Kevin Curtis:
Assim como muitos outros moradores de Tupelo, Curtis cresceu idolatrando Elvis Presley. Até mesmo se dedicou a ser mais um dos inúmeros "imitadores de Elvis" da região, trabalhando com o seu irmão, Jack.
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Eventualmente, Curtis conseguiu iniciar um negócio de limpeza consideravelmente bem-sucedido, o que lhe permitiu uma renda mais estável para sustentar sua esposa e filhos. Chegou ao ponto de a empresa até mesmo fechar contrato com o maior hospital rural dos Estados Unidos, o North Mississippi Medical Center.
Porém, certo dia, enquanto limpava o local, Paul se deparou com um freezer cheio de partes de corpos e, embora o hospital dissesse que se tratava de um procedimento padrão como parte do compromisso com a doação de órgãos, ele começou a buscar incessantemente por teorias da conspiração sobre tráfico de órgãos.
A determinação de Curtis em lidar com o tráfico de órgãos que tanto acreditava foi tamanha, que ele buscou Steve Holland, um membro da Câmara dos Representantes do Mississippi, solicitando que ele patrocinasse um projeto de lei em que se comprometia a lutar contra o tráfico de órgãos.
No entanto, Holland achou o projeto de lei absurdo, recusando-o. Isso, aliado ao fato de ele ser dono das maiores funerárias do Mississippi, levou Paul a suspeitar que se tratava de uma conspiração massiva.
Após falhar com Holland, ele até mesmo buscou o senador do Mississippi, Roger Wicker, mas este lhe respondeu em carta que, por mais que admirasse o projeto, não poderia patrociná-lo; e então sugeriu que ele contatasse ninguém menos que Holland para patrocinar o projeto. A atitude apenas alimentou as teorias infundadas do homem.
Para piorar, Curtis foi preso, acusado de agressão após uma discussão com o assistente de um promotor público. A juíza que trabalhou no caso era, justamente, Sadie Collins, mãe de Steve Holland.
Ele se considerou incapaz de encontrar representação, e acabou condenado a seis meses de prisão — onde nada fez além de se concentrar e alimentar as conspirações em sua mente.
Porém, tudo mudou em abril de 2013, quando cartas contendo ricina — uma espécie de veneno letal presente nas sementes da mamona — foram recebidas pela juíza Sadie Holland, pelo senador Roger Wicker e pelo então presidente dos EUA, Barack Obama. E com um detalhe: todas estavam concluídas com "eu sou KC [que poderia significar 'Kevin Curtis'] e aprovo esta mensagem".
Ninguém queria me ouvir antes. Ainda faltam peças. Talvez eu tenha sua atenção agora, mesmo que isso signifique que alguém deva morrer. Isso deve parar. Ver um erro e não expô-lo é se tornar um parceiro silencioso", estava escrito nas cartas.
Por isso, em apenas dois dias as autoridades chegaram na casa de Curtis e, no dia 17 de abril daquele ano, ele acabou preso como suspeito de tentar envenenar, entre várias autoridades políticas, o próprio presidente.
Porém, quando questionado sobre seu conhecimento de ricina, Paul disse que não comia arroz há anos ("ricina" em inglês se pronuncia "ricin", o que é sonoramente bastante parecido com "rice", que significa "arroz"). Pela resposta tão evidente de que o suspeito desconhecia o tema, as suspeitas começaram a cair.
Durante as investigações, as autoridades também olharam o histórico do computador de Curtis, e não descobriram nada relacionado à ricina. Pelo contrário, foi revelado que o homem era um democrata de longa data, e também um grande fã de Obama, de forma que provavelmente não tentaria matá-lo.
Por isso, Curtis foi libertado da prisão em somente seis dias, e teve todas as acusações contra si removidas.
Logo, as investigações levaram os policiais a outro morador de Tupelo: James Everett Dutschke, um instrutor de taekwondo, também imitador, mas de Wayne Newton, e mais importante, grande rival de Curtis.
Segundo a Revista Time, os dois costumavam brigar nas redes sociais, e não demorou para que as provocações se tornassem pessoais, com difamações online e públicas de um sobre o outro constantemente.
Tudo que eles faziam era antagonizar um ao outro; e por isso, sabendo da obsessão do rival por teorias da conspiração, Dutschke deu um jeito de se livrar do imitador de Elvis o incriminando.
Quando agentes da polícia revistaram a casa de Dutschke, em 23 de abril daquele ano, encontraram evidências incontestáveis em seu computador, incluindo cinco testes positivos de ricina em sua casa. Ele acabou preso quatro dias depois, em 27 de abril, e sentenciado a 25 anos de prisão.
Após toda essa experiência impressionante, Curtis conseguiu finalmente limpar seu nome, e começou a tentar recuperar aquilo que perdeu ao longo de sua vida, em especial a família. Ele também jurou deixar de abandonar completamente as teorias da conspiração, para se reconectar com a família.
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