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Matérias / Religião

5 Curiosidades sobre papas

Um papa, uma religião, um poder e muitas dúvidas. Confira a seguir uma série de respostas para perguntas nem sempre tão simples!

Izabel Duva Rapoport Publicado em 19/04/2025, às 10h00

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O Papa Francisco - Getty Images
O Papa Francisco - Getty Images

São Pedro é considerado o primeiro papa da Igreja Católica. Segundo a ACI Prensa, tudo começou após ele receber de Jesus o Supremo Poder Pontifício; instituindo assim a primeira ordem eclesiástica e a oração do Pai Nosso.

Desde então, o Vaticano já teve 266 papas, sendo Francisco o último entre eles. Mas, ao longo da história, já tivemos um papa negro? E a Igreja já teve mais de um papa ao mesmo tempo? Confira 5 cuirisidades sobre os papas!

1. Mais de um papa ao mesmo tempo?

Por cinco ocasiões, os católicos tiveram dois e até três papas ao mesmo tempo. Foram os chamados antipapas. A confusão geralmente acontecia por rixas na disputa da sucessão do pontificado. 

Foi assim em 418, quando Eulálio tentou tirar o trono de Bonifácio I, e também em 687, quando os dois adversários, Paschal e Teodoro, levaram a pior. Não conseguiam obter o consenso do clero: foram substituídos por Sérgio I, um papa mais moderado. 

Os Quatro doutores da Igreja representavam com atributos dos Quatro Evangelistas - Getty Images

O período de maior confusão foi no século 14, depois que Clemente V mudou a sede da Igreja para Avignon, na França. A mudança resultou em quatro décadas do cisma da Igreja, quando as duas sedes, em Avignon e Roma, afirmavam abrigar um papa. A rixa foi resolvida em 1409, com a escolha de um terceiro pontífice, Alexandre V, no Concílio de Pisa.


2. Já houve um papa negro?

A Igreja Católica já teve três papas africanos. Vítor I (189-198), Melquíades (311-314) e Gelásio I (492-496) assumiram numa época de relações estreitas entre a Igreja e o Oriente. Alexandria, Cartago e Hipona eram cidades-chave para o domínio cristão — e cargos relevantes foram destinados a homens dessas regiões. 

"Até o século 5, houve um forte intercâmbio entre a Itália e o norte da África", descreve o bispo gaúcho, de Novo Hamburgo, Zeno Hastenteufel, especialista em história da Igreja e autor das obras 'História da Igreja Antiga e Medieval I' e 'O Catecismo ao Alcance de Todos' entre outras.

Mas, embora fossem africanos, os papas não eram negros."

Por causa da mistura de raças na região, é mais provável que eles fossem mestiços — pardos, num termo usado hoje no censo brasileiro. A confirmação é difícil, pois não há referências da época.

"Os primeiros papas só foram retratados séculos depois, em imagens que não passam de uma representação simbólica", afirmou o teólogo Fernando Altemeyer, do Departamento de Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). 

Desde então, o posto de líder da Igreja foi predominantemente ocupado por europeus, sobretudo os italianos. E o negro mais próximo de se tornar papa na Igreja foi o cardeal nigeriano Francis Arinze, que foi muito cotado em 2013 para substituir Bento XVI — o polonês que anunciou sua aposentadoria dando lugar ao papa Francisco

No fim das contas, em vez de estrear um negro na chefia do Vaticano, entrou o primeiro papa latino-americano.



3. Por que a sede do cristianismo não está em Jerusalém?

Após a morte de Jesus, o cristianismo ainda não havia se separado do judaísmo em Jerusalém. Era visto como uma das correntes seguidas pelos judeus na região — e que exigia práticas como circuncisão e restrições alimentares. 

É então que entram em cena Pedro e Paulo, que liberam os novos cristãos dessas regras e levam a nova fé para Roma, sede do maior império da época — lá, eles foram assassinados e se tornaram os primeiros mártires da Igreja. 

Enquanto o cristianismo conquistava adeptos em Roma, Jerusalém era desfigurada após uma série de guerras. "A cidade foi destruída duas vezes, o que dificultou a formação de um centro organizado, capaz de agregar os novos fiéis", diz a professora, Liz Carmichael, que se refere aos episódios de 70 e 135, quando a região foi queimada pelos romanos. 

Fotografia do Vaticano - Getty Images

Depois da segunda devastação, as ruínas deram lugar a uma cidade pagã, batizada de Aelia Capitolina. Após o imperador romano Constantino se converter ao cristianismo, no século 4, a sede do império se tornou também a sede da nova fé. Para os cristãos do Ocidente, Roma passou a ser considerada a cidade-referência. 

Essa decisão foi tomada unindo aspectos políticos e religiosos", afirma Richard McBrien, autor da 'Enciclopédia do Catolicismo'. 

A fundação do Vaticano demarcou não só uma área sagrada como também o fim de um conflito entre o Estado italiano e a Igreja Católica Apostólica Romana. No Tratado de Latrão, de 1929, o ditador Benito Mussolini reconheceu a soberania do Vaticano.

A Igreja (então liderada pelo papa Pio XI), por sua vez, aceitou devolver as possessões adquiridas durante as Cruzadas e assentiu que, a partir de então, Roma seria capital do Estado.


4. Por que se fala em infalibilidade papal?

Em 1869, Giovanni Maria Mastai-Ferreti, o papa Pio IX, convocou o primeiro Concílio do Vaticano para discutir temas que incomodavam a Igreja Católica. Do concílio, que contou com 700 bispos, saíram 51 propostas doutrinais, das quais apenas duas foram promulgadas.

Uma delas foi a Pastor Aeternus — a constituição dogmática aprovada em janeiro de 1870 que tornou oficial a infalibilidade do papa. Dentro dos preceitos de fé e moral, o papa está livre de erro, pois recebe de Deus as revelações divinas. 

Em outras palavras: o papa, representante de Deus na Terra, não erra nunca. Outra proposta aprovada no concílio: a Imaculada Conceição da Virgem Maria, pelo qual a mãe de Jesus foi concebida sem pecado original. 

O princípio da infalibilidade papal é antigo. Desde o século 14, já se falava que a Igreja era infalível — e o papa, como seu representante, também. Em meados do século 17, durante o Renascimento, quando ideias liberais ganharam força, países como França, Itália e Espanha tendiam a restringir o poder político do clero. 

Em 1864, Pio IX já havia promulgado o Syllabus, documento que condenava tendências características dos tempos modernos. A infalibilidade papal foi mais uma tentativa de conter o avanço do racionalismo e, sobretudo, do liberalismo político", afirmou o professor Etienne Higuet

Por ironia, Pio IX foi o último pontífice a reinar nos chamados Estados Pontifícios. A maior parte deles foi incorporada ao nascente estado italiano em 1860.


5. E se o papa tivesse se manifestado contra o nazismo?

Hora do almoço num dia de calor de 1942. O papa Pio XII entra cabisbaixo na cozinha do Vaticano, carregando duas folhas de papel. Vai até o fogão à lenha e queima os papéis onde havia escrito seu manifesto contra a política nazista de Adolf Hitler. A ideia inicial era que o texto fosse publicado no jornal L’Osservatore Romano daquela tarde. 

É melhor permanecer em silêncio diante do público e fazer o que for possível em particular", disse ele à única pessoa presente naquele momento, irmã Pasqualina Lehnert — conforme ela revelou em 1999. 

Se as palavras de Pio XII tivessem sido publicadas, é provável que o curso da Segunda Guerra tivesse tomado um rumo diferente, certamente com menos pessoas perseguidas e executadas. Aquele foi um dos momentos em que a Igreja poderia ter levantado a voz contra o genocídio perpetrado sob as ordens de Hitler

Papa Pio XII - Domínio Público

Mas por que Pio XII optou pelo silêncio? Dias antes, o papa teria sido informado de que um protesto de bispos alemães havia causado a perseguição e a deportação de 40 mil católicos de origem judia. O medo do papa era que seu posicionamento aberto contra Hitler pudesse despertar ainda mais a ira do Führer, a ponto de outras centenas de milhares de católicos passarem a ser perseguidos pelo regime do ditador alemão. 

Entretanto, alguns estudiosos afirmam que, caso o santo padre tivesse se manifestado contra o Holocausto, muitas vidas poderiam ter sido salvas. Hitler não compraria briga contra a Igreja romana porque um terço do povo alemão, inclusive ele mesmo, era católico. Se o papa tivesse declarado sua oposição a Hitler, é possível que a reação contra o nazismo tivesse aumentado fortemente, acelerando o fim da guerra.