A pintora mexicana foi reconhecida em vida pelo trabalho surrealista e recheado de sensibilidade
A artista plástica Frida Kahlo, cuja principal produção se deu na primeira metade do século 20, exala até hoje sentimentos de ternura e consternação em quem se depara com a sua arte.
Menina da classe média alta mexicana, Magdalena Carmem Frida Kahlo Calderónnasceu em 6 julho de 1907, filha de um pai alemão e mãe mexicana. Sua condição de saúde, que já era frágil por conta de uma poliomielite infantil, se agravou a partir dos 18 anos, quando um acidente de ônibus quebrou vários de seus ossos e prejudicou a coluna vertebral para sempre.
Apesar de ter sofrido imensamente com a sua saúde, a garota demonstrou um vigor sem precedentes lutando pela sua recuperação e criando, a partir daí, uma nova e reconfortante atividade que seria a ponte entre seus dilemas e o mundo exterior: a pintura.
Além da prática artística — que se tornou um vetor eficiente para a manutenção de sua sanidade mental — foi uma séria ativista de esquerda, militando em encontros e manifestações do partido comunista mexicano, do qual era membro.
Afeiçoada à arte popular de seu país, Frida foi aos poucos construindo um universo próprio autoral e exclusivo ao redor de si: da casa onde morava, passando pelo seu modo de vestir, escolhas gastronômicas e opções políticas, a artista surrealista dizia que suas escolhas refletiam a realidade e não seus sonhos.
O encontro com o já consagrado muralista Diego Rivera, na década de 1920, foi uma tábua de salvação para ela, que era 18 anos mais jovem que ele. Com uma carreira já consolidada, Diego não apenas incentiva Frida a seguir na atividade, mas também apresenta para ela o meio artístico da época, abrindo portas.
Porém, acima de tudo, o casal tem uma parceria muito alinhada: o relacionamento aberto é respeitado, ele dá suporte emocional a ela, e seguem em seu amor incondicional.
Durante a sua carreira, Frida participou de exposições em galerias em Nova York, Paris e também no México, sendo a Exposição Coletiva de Surrealismo na Galeria de Arte Mexicana um momento decisivo para o seu reconhecimento. Em 1939, o Museu do Louvre, em Paris, adquire um autorretrato, intitulado “O Quadro”.
Desde então, suas obras se encontram em numerosas coleções particulares ao redor do mundo e, em novembro de 2021, a tela Diego Y Yo, de 1949, foi arrematada por U$ 34,9 milhões, tornando-se a obra de arte latino-americana vendida pelo maior lance em um leilão — organizado pela Casa Sotheby’s, em Nova York.
O comprador foi o colecionador argentino de arte latino-americana Eduardo Costantini, fundador do Malba — Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires — que a exibirá em 2022.
Artista transgressora, com severas limitações físicas e relacionamentos fora do padrão da sua época, Frida tem cada vez mais sido vista como uma mulher avançada e feminista. O seu exemplo de vida e superação é um horizonte aberto para discussões sobre a necessidade de expressão, inclusão e liberdades individuais.
Nas décadas depois de sua morte, a sua força feminina, o caráter altivo e a sua resiliência têm recebido novos olhares e significado.
Saiba mais sobre as bandeiras que as novas gerações empunham a partir da vida e obra da pintora no podcast a seguir, o primeiro de uma série sobre o legado de “Frida, arte, dores e paixões”.