Vencedor de duas categorias na última edição do Oscar, Zona de Interesse caiu em polêmica com a Fundação de Sobreviventes do Holocausto dos EUA
Um dos filmes mais elogiados dos últimos meses, Zona de Interesse venceu duas categorias na última edição do Oscar. De Jonathan Glazer, o filme retrata a vida de uma família nazista ao lado do campo de concentração de Auschwitz, na Segunda Guerra.
No entanto, foi justamente a premiação que causou polêmica com a Fundação de Sobreviventes do Holocausto dos Estados Unidos (HSF). Ao vencer a categoria 'Filme Internacional', Glazer aproveitou o recebimento da estatueta dourada para criticar a guerra travada pelo Hamas e Israel na Faixa de Gaza.
Através de uma carta aberta publicada no site da organização, o seu presidente, David Schaecter, 94 anos, lamentou as palavras ditas por Jonathan Glazerno palco do Oscar.
Schaecter disse que sentiu 'angústia' ao ver o diretor de 'Zona de Interesse' equiparando o grupo extremista Hamas com Israel. A carta também foi assinada pelo comitê executivo.
"Assisti com angústia no domingo à noite, quando ouvi você usar a plataforma da cerimônia do Oscar para equiparar a brutalidade maníaca do Hamas contra israelenses inocentes com a difícil, mas necessária autodefesa de Israel diante da barbárie contínua do Hamas. Seus comentários foram factualmente imprecisos e moralmente indefensáveis", publicou ele.
David Schaecter, vale destacar, passou três anos no campo de concentração de Auschwitz e um ano em Buchenwald. Em sua visão, o diretor deveria sentir 'vergonha' em usar o Holocausto para criticar Israel.
"Você fez um filme sobre o Holocausto e ganhou um Oscar. E você é judeu. Bom para você. Mas é vergonhoso que você presuma falar em nome dos seis milhões de judeus, incluindo um milhão e meio de crianças, que foram assassinados apenas por causa da sua identidade judaica", destaca o texto.
No palco do Oscar, Glazer destacou que a 'desumanização leva ao pior cenário' e chamou atenção para o desenrolar do conflito entre Israel e o Hamas.
"Todas as nossas escolhas foram feitas para refletir e confrontar-nos no presente - não para dizer 'vejam o que eles fizeram no passado', mas, sim, 'vejam o que nós fazemos agora'. Nosso filme mostra como a desumanização conduz ao seu pior. Ela moldou todo o nosso passado e presente", disse o diretor.
"Neste momento, estamos aqui como pessoas que refutam o seu judaísmo e o Holocausto, sequestrados por uma ocupação que levou muitas pessoas inocentes ao conflito, sejam os israelenses vítimas do 7 de outubro ou as vítimas do ataque em Gaza. Como podemos resistir?", afirmou ele.