Pesquisadores descobriram detalhes sobre a dieta e o comportamento do peixe, que viveu na costa leste da Austrália há cerca de 15 milhões de anos
Escavações no sítio de McGraths Flat, na costa leste da Austrália, revelaram uma nova espécie de peixe pré-histórico: o Ferruaspis brocksi. Além do esqueleto fossilizado, os pesquisadores encontraram vestígios do conteúdo estomacal do animal, revelando detalhes sobre sua dieta e comportamento há cerca de 15 milhões de anos. A descoberta foi publicada nesta segunda-feira, 18, na revista The Journal of Vertebrate Palaeontology.
O F. brocksi é considerado um parente distante do eperlano australiano (Retropinna semoni), espécie típica das águas doces do país. O estado excepcional de preservação do fóssil permitiu um estudo minucioso não apenas de seu esqueleto, mas também de tecidos moles, como o estômago. Nele, cientistas identificaram restos de larvas de mosquitos, insetos e pequenos bivalves, confirmando que essa era a base alimentar do pequeno peixe.
O nome Ferruaspis brocksi foi escolhido em homenagem a Jochen Brocks, professor da Universidade Nacional Australiana (ANU), que participou de descobertas importantes no local. O termo "Ferru" faz alusão ao ferro, abundante na rocha que preservou o fóssil. A excelente conservação surpreendeu os especialistas, que encontraram a nova espécie de maneira inesperada durante as explorações no sítio.
De acordo com informações do portal Galileu, McGraths Flat é classificado como um lagerstätte, ou seja, um sítio paleontológico com fósseis de preservação excepcional. Próximo dali, pesquisadores já haviam identificado fósseis jurássicos com mais de 200 milhões de anos.
Segundo Matthew McCurry, do Museu Australiano e da UNSW Sydney, “os fósseis encontrados neste local se formaram entre 11 e 16 milhões de anos atrás e fornecem uma janela para o passado”. Ele destacou que a região foi, um dia, uma floresta tropical temperada, rica em vida nos Planaltos Centrais da Austrália.
Entre os detalhes preservados no fóssil, os cientistas encontraram até um parasita: um jovem mexilhão de água doce chamado glochidium, preso à cauda do peixe. Esses moluscos utilizam peixes como meio de transporte, fixando-se em suas guelras ou caudas para se deslocarem ao longo dos rios.
Os pesquisadores também conseguiram determinar a coloração original do Ferruaspis brocksi graças à análise de organelas fossilizadas chamadas melanossomos. Foi possível reconstruir seu padrão de cor: dorso escuro, barriga clara e duas listras laterais ao longo do corpo.
“Os melanossomas fossilizados permitiram anteriormente que os paleontólogos reconstruíssem a cor das penas, mas os melanossomas nunca foram usados para reconstruir o padrão de cor de uma espécie de peixe extinta há muito tempo”, disse Michael Frese, da Universidade de Canberra.
Essa descoberta amplia o conhecimento sobre a evolução dos peixes da família Osmeriformes, à qual pertence o eperlano australiano. Os cientistas acreditam que as informações obtidas podem ajudar a entender como esses peixes chegaram ao continente e quais mudanças sofreram ao longo do tempo. Além disso, a presença de fósseis em rochas ricas em ferro pode indicar novos locais promissores para futuras escavações paleontológicas.
+ Confira aqui o artigo completo publicado no The Journal of Vertebrate Palaeontology.