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Notícias / Império Romano

Seca desencadeou rebelião e invasão bárbara na Grã-Bretanha romana

Novo estudo revela que seca catastrófica de três anos na Britânia Romana desencadeou rebelião massiva e invasões bárbaras na região

Éric Moreira
por Éric Moreira

Publicado em 29/04/2025, às 11h30

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Ruínas do Castelo de Milecastle 39, na Muralha de Adriano - Getty Images
Ruínas do Castelo de Milecastle 39, na Muralha de Adriano - Getty Images

Em um novo estudo, pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, descobriram que uma seca catastrófica que durou três anos acarretou em uma rebelião massiva na Grã-Bretanha romana. Conhecido como "Conspiração Bárbara", esse período foi marcado por dificuldades climáticas, fragilidades políticas e militares, o que culminou em fome e na invasão de bárbaros na região.

A partir de registros de anéis de carvalho do sul da Grã-Bretanha e do norte da França, os pesquisadores reconstruíram as condições climáticas entre os séculos 4 e 6 na região. E no estudo, publicado na revista Climatic Change, os pesquisadores apontaram que os verões de 364, 365 e 366 d.C., em especial, foram bastante secos e com poucas chuvas, com precipitação média na estação de crescimento de apenas entre 28 a 37 milímetros, enquanto o mais usual seria 51 milímetros. 

Com isso, as culturas locais de trigo e cevada foram amplamente impactadas. "Três secas consecutivas teriam tido um impacto devastador na produtividade da região agrícola mais importante da Grã-Bretanha romana", afirma em comunicado o professor Ulf Büntgen, do Departamento de Geografia de Cambridge. "Como nos contam os escritores romanos, isso resultou em escassez de alimentos, com todos os efeitos desestabilizadores sociais que isso acarreta".

Invasões bárbaras

Com a escassez de alimentos, por volta de 367 d.C. a região da Britânia Romana enfrentou condições severas de fome. Em sua Res Gestae, o historiador romano Amiano Marcelino inclusive descreveu que a população da Grã-Bretanha passava por "condições extremas de fome", em uma crise que impactou o exército e levou a deserções ao longo da Muralha de Adriano, o que deixou a província vulnerável a invasões.

Foi após esse período que os pictos do norte, os escoceses da Irlanda a oeste e os saxões, que vinham do continente europeu ao sul, chegaram à região. Com isso, comandantes de alto escalão do Império Romano foram capturados ou mortos, e tropas romanas até mesmo se aliaram aos invasores, repercute o Archaeology News.

A situação na região só se acalmou por volta de 369 d.C., quando o imperador Valentiniano I conseguiu restaurar alguma ordem. Ainda assim, os danos já haviam sido muito extensas àquela altura, e a administração romana acabou abandonando a Grã-Bretanha por completo por volta de 410 d.C..

Charles Norman, doutorando em Cambridge e principal pesquisador envolvido no estudo, explicou em comunicado que até mesmo registros escritos da época já reconheciam a "Conspiração Bárbara", mas não havia muitas evidências arqueológicas que a explicasse até agora. "Nossas descobertas fornecem uma explicação para o catalisador deste grande evento", afirma Norman.

Além disso, os pesquisadores também alertam à relação entre clima e conflito desde a antiguidade, que pode ajudar a compreender os tempos modernos. Tatiana Bebchuk, de Cambridge, afirmou: "A relação entre clima e conflito está se tornando cada vez mais clara em nossa época. Condições climáticas extremas levam à fome, o que pode levar a desafios sociais, que eventualmente levam a conflitos declarados".