Reinhold Mack, que trabalhou com o Queen nos anos 1980, descreve o afastamento silencioso do astro e a amizade íntima que compartilhavam
Freddie Mercury sempre foi sinônimo de energia, ousadia e presença de palco — mas nos bastidores, seus últimos anos foram marcados por silêncio, afastamento e uma dor que ele optou por esconder dos mais próximos. É o que revela Reinhold Mack, produtor que trabalhou com o Queen de 1980 a 1987, e que se tornou mais do que um colaborador: um amigo íntimo e quase uma família substituta para o astro.
Em entrevista ao 'The Post', Mack lembra com carinho da convivência intensa com Mercury durante os anos dourados da banda. "Ele jogava tênis de mesa, futebol com as crianças, nadava... e nos levava para os melhores restaurantes, pelo menos duas vezes por semana", contou o produtor, cujo filho, John Frederick, teve o próprio artista como padrinho. Em homenagem a ele, o cantor dedicou "Made in Heaven", faixa de seu álbum solo Mr. Bad Guy, lançado há exatamente 40 anos, em 29 de abril de 1985.
Mas à medida que a AIDS avançava silenciosamente, Freddie começou a se isolar, reduzindo as visitas aos amigos e até os telefonemas. "Ele tinha um coração tão grande que não queria que o víssemos se deteriorar… basicamente, encolher e morrer", lembra Mack. Mesmo ao telefone, Mercury tentava preservar a imagem de força.
Ele dizia: 'Não, não, estou bem'. Mas nós sabíamos. Foi doloroso e constrangedor, porque ninguém queria admitir".
Juntos, a dupla foi responsável por hits como "Crazy Little Thing Called Love", gravada de forma quase improvisada em 1980. "Tomamos umas cervejas, ele pegou o violão e simplesmente tocou o início da música. E foi assim que tudo começou", conta.
O sucesso continuaria com "Another One Bites the Dust", cuja versão final foi moldada com ajuda de Mack em parceria com o baixista John Deacon — mesmo quando a maioria da banda duvidava da música. Mercury, ao ouvir, aprovou na hora: "Isso é bem no meio da cena clubber — e eu gosto disso".
O som dançante e ousado de "Another One Bites the Dust" também inspiraria Freddie em sua empreitada solo, Mr. Bad Guy, produzido por Mack. No entanto, ao ser questionado sobre como seria o cantor hoje, aos 70 ou mais, o produtor é honesto.
Ele dizia que não queria estar no palco bufando, correndo por aí com camisas finas. Envelhecer era uma chatice para ele. Então, não sei quanto tempo ele teria durado".
Freddie Mercury faleceu em 1991, aos 45 anos, deixando um legado artístico inigualável — e, para alguns poucos sortudos como Reinhold Mack, memórias íntimas de um gênio que amava com intensidade, mas que também preferiu partir em silêncio.