Francisco, falecido na última segunda-feira, 21, não se encontrava com irmã desde 2013, quando assumiu a liderança da Igreja Católica
O papa Francisco, falecido aos 88 anos, tinha apenas uma irmã viva: María Elena Bergoglio. A caçula da família, que é 12 anos mais nova e vive na Argentina é a última sobrevivente dos cinco filhos do casal Mario Jorge Bergoglio e María Regina Sívori. Jorge Mario, o primogênito, foi seguido por Oscar (1938–1997), Marta Regina (1940–2007), Alberto (1942–2010) e, por fim, María Elena — conhecida pelos familiares como Mariela.
Ela e Francisco não se viam desde 2013, ano em que ele foi eleito chefe da Igreja Católica. Embora tenha renovado o passaporte com esperança de visitá-lo em Roma, sua frágil saúde e a recomendação médica a impediram de fazer a longa viagem. Desde então, passou a viver sob cuidados de freiras em Buenos Aires. Do outro lado, Francisco também nunca retornou à Argentina, em parte por conta das responsabilidades do papado e em parte por tensões com líderes políticos de seu país natal.
De acordo com informações do portal UOL, o último encontro entre os irmãos aconteceu um dia antes da partida de Jorge Mario para Roma, onde participaria do conclave que acabaria por escolhê-lo papa. Na despedida, Mariela disse: "Te vejo quando voltar" — acreditando, como ele, que aquela viagem teria volta. Mas a notícia de sua eleição chegou pela televisão.
A caçula ainda revelou que chegou a rezar para que os cardeais não o escolhessem. "Eu não queria que meu irmão partisse. Foi uma posição em que fui um pouquinho egoísta", confessou em entrevista à CNN.
Apesar da distância física, a relação entre os dois permaneceu forte. Logo após a fumaça branca sinalizar a escolha do novo papa, Francisco ligou para a irmã. Pediu que ela ligasse para o restante da família em seu nome.
“Se eu ligar para todo mundo, vou esvaziar os cofres do Vaticano”, brincou. Mariela se emocionou com o telefonema, lembrando que o filho atendeu e, ao ouvir “oi, tio”, sentiu como se o mundo tivesse desabado sobre ela. "Estávamos muito emocionados os dois. Ele contou que as coisas aconteceram assim e não havia nada mais que fazer a não ser aceitar. Ele parecia bem, não transmitia nenhuma preocupação, ao contrário, transmitia muita alegria."
Apesar da distância física, os dois mantinham conversas semanais e trocavam cartas. Mariela guardava lembranças vívidas dos tempos em que ele era apenas o irmão mais velho. "Ele adora fazer suas lulas recheadas ou os risotos de cogumelos que aprendeu de uma receita herdada de nossa avó italiana."
Quando ele foi nomeado cardeal por João Paulo II, Mariela o acompanhou a Roma. Mesmo com vidas distintas, permaneciam presentes um na vida do outro. Em momentos difíceis, como durante o divórcio dela, Francisco foi um apoio constante.
Pouco depois da eleição de Jorge Mario, Mariela chegou a ser internada e, desde então, raramente falou publicamente sobre o irmão. Em uma entrevista ao jornal italiano La Repubblica, compartilhou lembranças da infância, o gosto do papa por futebol — especialmente pelo San Lorenzo —, tango, ópera e Édith Piaf. Disse também que a mãe relutou inicialmente com o chamado de Jorge ao seminário, por medo de perder o filho.
Ainda assim, Mariela previu com clareza o tipo de papa que ele se tornaria. Em entrevista à revista Hola, declarou: "Conhecendo-o, sinto que ele fará mudanças na Igreja. Não só porque ele é um homem de integridade, com um forte caráter e convicções admiráveis, mas porque ele terá o apoio de todos nós através das orações. Desde que me lembro, ouvia o Jorge nos pedindo para rezar por ele. Acho que é como ele pavimentou o seu caminho."
Nos últimos anos, o artista plástico Gustavo Massó ajudou a diminuir a distância entre os dois. Em uma visita ao Vaticano, entregou a Francisco uma escultura da mão de Mariela acompanhada de uma gravação de sua voz, dizendo: "Olha, eu gostaria de estar com você e te abraçar. Acredite, estamos nos abraçando. Apesar das distâncias, estamos muito próximos." A homenagem emocionou profundamente o papa.