Estudo realizado por equipe internacional analisou múmia de vigário e revelou método de embalsamamento até então não documentado; confira!
Publicado em 02/05/2025, às 11h18 - Atualizado em 12/05/2025, às 17h37
Um time internacional de pesquisadores analisou uma múmia bem preservada de uma pequena vila austríaca, no que é considerado o primeiro relato de um tipo de embalsamamento até então não documentado.
Durante séculos, diversas culturas ao redor do mundo embalsamaram seus mortos, o que gerou uma grande variedade de métodos conforme a região, fazendo com que algumas técnicas se tornassem mais conhecidas do que outras. A avaliação do corpo trouxe à tona uma abordagem inédita de mumificação, descrita em artigo publicado nesta quinta-feira, 1, na revista Frontiers in Medicine.
"A múmia excepcionalmente bem preservada na cripta da igreja de St. Thomas am Blasenstein é o cadáver de um vigário paroquial local, Franz Xaver Sidler von Rosenegg", afirmou Andreas Nerlich, autor principal do projeto, em comunicado. "Segundo os registros históricos, ele morreu em 1746".
Segundo informações do portal Galileu, uma investigação indicou que o "excelente estado de preservação" da múmia se deve a um método incomum de embalsamamento, realizado através do preenchimento do abdômen, via canal retal, com lascas de madeira, galhos e tecido. A composição parece conter ainda cloreto de zinco, utilizado para promover a secagem interna.
A equipe fez análises extensas, incluindo tomografia computadorizada, autópsia focal e datação por radiocarbono. A parte superior do corpo estava totalmente preservada, enquanto a cabeça e as extremidades inferiores apresentavam deterioração post-mortem considerável.
Durante a análise, os pesquisadores identificaram materiais incomuns acumulados nas cavidades abdominal e pélvica. Ao abrir o corpo, encontraram lascas de madeira de abeto, fragmentos de galhos e diversos tecidos, como linho e cânhamo — todos materiais acessíveis na época e região.
Segundo os cientistas, foi essa mistura de elementos que manteve o corpo em boas condições. “Claramente, as lascas de madeira, os galhos e o tecido seco absorveram grande parte do fluido dentro da cavidade abdominal”, explicou Nerlich.
Esse método, baseado na inserção de materiais pelo reto, difere dos procedimentos mais conhecidos, nos quais o corpo é aberto para preparação. "Acreditamos que esse tipo de preservação pode ter sido muito mais difundido, mas não reconhecido em casos em que processos contínuos de decomposição pós-morte podem ter danificado a parede do corpo", afirmou Nerlich.
Dentro da múmia, os cientistas encontraram uma pequena esfera de vidro com furos em ambas as extremidades — possivelmente parte de um tecido monástico. Como apenas uma conta foi achada, presume-se que tenha se perdido durante a preparação do corpo.
Embora há muito tempo se especulasse que a múmia fosse de Franz Xaver Sidler von Rosenegg, a origem dos rumores era incerta. Agora, a nova análise confirmou a teoria, apontando que a morte ocorreu entre 1734 e 1780, quando o vigário tinha entre 35 e 45 anos — datas que coincidem com sua trajetória de vida.
Os exames também indicaram que o religioso tinha uma dieta de alta qualidade, rica em grãos da Europa Central, produtos de origem animal e, possivelmente, peixes de água doce. Perto do fim da vida, ele pode ter enfrentado escassez alimentar, talvez como consequência da Guerra da Sucessão Austríaca.
A ausência de sinais de estresse no esqueleto condiz com a rotina de um padre que não realizava atividades físicas intensas. Foram encontradas também evidências de tabagismo de longa data e de tuberculose pulmonar no período final de sua vida.
"Temos algumas evidências escritas de que cadáveres eram 'preparados' para transporte ou disposição prolongada dos mortos, embora nenhum relatório forneça uma descrição precisa", concluiu Nerlich. "É possível que o transporte do vigário para sua abadia natal tenha sido planejado, o que pode ter falhado por razões desconhecidas".