Os Manuscritos de Seda Zidanku, considerados os mais antigos do tipo já encontrados, foram devolvidos à China após 79 anos
Um conjunto de manuscritos filosóficos com mais de dois milênios de história retornou recentemente à China, encerrando uma longa jornada no exterior. Os Manuscritos de Seda Zidanku, datados de cerca de 300 a.C., chegaram a Pequim na madrugada de 18 de maio, vindos de Washington, D.C., a bordo de um avião que transportava essa carga rara e valiosa.
Os fragmentos, escritos em seda e considerados os mais antigos do tipo já encontrados na China, foram formalmente devolvidos pelo Museu Nacional de Arte Asiática (NMAA) do Smithsonian durante uma cerimônia realizada na Embaixada da China, marcando o fim de uma ausência de 79 anos.
A entrega dos manuscritos à Administração Nacional do Patrimônio Cultural da China foi resultado de uma cooperação entre o museu e autoridades chinesas. Segundo Chase F.Robinson, diretor do NMAA, essa iniciativa reflete o compromisso da instituição com uma administração ética e com a preservação do patrimônio cultural global.
"Essas relações nos permitem servir como um recurso global e nacional para entender as artes e culturas da Ásia e sua interação com a América, no passado e no presente", declarou Robinson à revista Smithsonian.
Os Manuscritos de Seda Zidanku, também conhecidos como Volumes II e III, foram doados anonimamente ao museu em 1992, dentro de uma cesta de bambu. Já o Volume I, considerado o mais completo, permanece em posse privada e não foi incluído na devolução.
Esses textos pertencem ao período dos Reinos Combatentes e são considerados um raro guia de adivinhação, oferecendo valiosos registros sobre a antiga filosofia, religião e práticas cotidianas da China antiga.
O Volume II contém representações do calendário lunar e instruções sobre tabus e práticas sazonais, enquanto o Volume III, disposto em um formato circular incomum e lido no sentido horário, pode conter conselhos militares sobre ataques e defesas de cidades.
Para o professor Li Ling, da Universidade de Pequim, os manuscritos são tão relevantes para a história chinesa quanto os Manuscritos do Mar Morto são para as religiões abraâmicas.
Os fragmentos foram saqueados na década de 1940 de uma tumba próxima à cidade de Changsha, na província de Hunan. Após serem adquiridos por um colecionador chinês e repassados ao americano John Hadley Cox, os textos acabaram nos Estados Unidos, onde permaneceram por décadas.
O paradeiro dos manuscritos por parte desse período ainda apresenta lacunas, como apontou Robinson ao Art Newspaper, mas os pesquisadores chineses têm se empenhado em preencher essas ausências históricas.
A devolução ocorre em um momento em que o Smithsonian adota uma nova política de restituições éticas, implementada em 2022, voltada a corrigir aquisições consideradas incompatíveis com os padrões museológicos atuais. Embora os manuscritos nunca tenham sido exibidos ao público, eles foram amplamente estudados e preservados, e continuarão acessíveis a estudiosos por meio de versões digitais mantidas pelo museu.
Os manuscritos serão exibidos ao público no Museu Nacional da China a partir de julho. Durante a cerimônia de devolução, o embaixador chinês Xie Feng destacou que mais de 40 artefatos foram repatriados dos EUA à China somente neste ano.