Nova pesquisa sugere que os antigos egípcios podem ter representado visualmente a Via Láctea em obras de arte de caixões funerários e tetos de túmulos
Publicado em 01/05/2025, às 13h30 - Atualizado em 02/05/2025, às 06h56
Em uma mistura fascinante entre egiptologia e astronomia, um novo estudo encabeçado pelo Dr. Or Graur, Professor Associado de Astrofísica na Universidade de Portsmouth, descobriu evidências reveladoras que sugerem que os antigos egípcios podem já ter representado visualmente a Via Láctea em obras de arte em caixões funerários e tetos de túmulos.
A pesquisa contraria as teorias predominantes sobre como a deusa do céu, Nut, era retratada, apontando que a representação de sua imagem pode ter incorporado elementos do céu noturno, incluindo a galáxia.
Uma das principais figuras da mitologia egípcia, Nut é frequentemente retratada como uma mulher nua, coberta de estrelas, curvando-se da maneira protetora sobre o deus da terra, Geb.
Frequentemente sua imagem foi usada em tampas de caixões, simbolizando os céus e o ciclo da vida e da morte. Acreditava-se que ela devorava o Sol todas as noites e o dava à luz ao amanhecer, enfatizando sua função cósmica.
Para o estudo, publicado recentemente no Journal of Astronomical History and Heritage, Graur analisou 125 imagens de Nut de uma lista de 555 caixões egípcios antigos, muitos datando de quase 5.000 anos.
Embora grande parte deles a mostre de maneira usual, uma exceção fascinante foi encontrada no caixão externo de Nesitaudjatakhet, uma devota de Amon-Rá que morreu há cerca de 3.000 anos.
Nele existe uma curva preta, espessa e ondulada, que percorre o corpo estrelado de Nut, indo dos pés às pontas dos dedos — uma característica incomum, não comumente encontrada na arte egípcia em caixões.
“Acredito que a curva ondulada representa a Via Láctea e pode ser uma representação da Grande Fenda — a faixa escura de poeira que corta a faixa brilhante de luz difusa da Via Láctea”, disse o Dr. Graur, conforme repercute o portal Archaeology News.“Comparar esta representação com uma fotografia da Via Láctea mostra a semelhança gritante.”
Detalhes semelhantes também foram encontrados em tumbas presentes no Vale dos Reis, incluindo as de Ramsés IV, VI e IX, assim como no teto da tumba de Seti I.
As curvas dividem cenas cosmológicas, especialmente nos Livros do Dia e da Noite, onde as figuras arqueadas de Nut são retratadas lado a lado. Segundo o pesquisador, essas características visuais reforçam ainda mais sua teoria de que os antigos egípcios podem ter associado tais curvas à Via Láctea.
Mais curioso ainda é que as características onduladas também estão presentes em obras de arte cosmológicas das culturas indígenas americanas, como exemplos de Navajo, Hopi e Zuni, onde representam a Via Láctea.