Fóssil de fragmentos ósseos encontrado em uma caverna antiga na Espanha desafia teorias sobre a evolução humana no continente europeu
Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 12/03/2025, às 18h30 - Atualizado em 13/03/2025, às 18h27
Pesquisadores anunciaram a descoberta de fragmentos de ossos em uma caverna na Espanha, que revelam o rosto humano mais antigo conhecido na Europa Ocidental.
Os restos fossilizados, achados na caverna Sima del Elefante, perto de Atapuerca, em Burgos, constituem a bochecha esquerda e o maxilar superior de um humano adulto de uma espécie extinta que viveu na Península Ibérica entre 1,1 milhão e 1,4 milhão de anos atrás.
A descoberta sugere que, pelo menos, duas formas de humanos primitivos ocuparam a região no início do Pleistoceno, quando a caverna estava localizada em uma floresta úmida, rica em vida selvagem e atravessada por rios e córregos. "Este artigo apresenta um novo ator na história da evolução humana na Europa", disse a Dra. Rosa Huguet, da Universidade de Rovira i Virgili, em comunicado postado na revista Nature.
Os restos mortais são mais primitivos do que o Homo antecessor, cujos restos foram encontrados na caverna Gran Dolina. Dada a incerteza sobre a identidade do fóssil, a equipe designou a espécie Homo erectus. Informalmente, os pesquisadores apelidaram o fóssil de "Pink", em homenagem ao Pink Floyd.
A Dra. María Martinón-Torres, diretora do Centro Nacional de Pesquisa sobre Evolução Humana em Burgos, destacou que Pink tinha uma estrutura nasal mais plana do que o Homo antecessor, que compartilha o rosto de aparência mais moderna e os ossos nasais proeminentes do Homo sapiens.
“O formato do rosto é distinto do de Homo antecessor (e de H. sapiens) em características como o nariz menos proeminente e as maçãs do rosto menos delicadas, assemelhando-se mais a alguns fósseis de H. erectus", afirmou à CNN Chris Stringer, líder de pesquisa sobre evolução humana no Museu de História Natural de Londres, que não participou da pesquisa. “Mas acho que os autores estão certos em relacionar cautelosamente os achados de Elefante à espécie H. erectus. Eles são muito incompletos para qualquer conclusão definitiva.”
Stringer considerou o fóssil "uma descoberta muito importante". Escavações em Sima del Elefante revelam um quadro de bosques exuberantes há mais de 1,1 milhão de anos, com ferramentas de quartzo e sílex, além de ossos de animais com marcas de corte de abate.
Segundo o 'The Guardian', a descoberta do fóssil Pink representa um marco importante na compreensão da evolução humana na Europa. "Este é mais um passo para entender os primeiros europeus", disse o Dr. José María Bermúdez de Castro, codiretor do Projeto Atapuerca, no comunicado.
"Agora sabemos que esta primeira espécie tinha uma aparência que lembrava os espécimes incluídos por muitos no Homo erectus. No entanto, os restos do sítio Sima del Elefante têm uma combinação muito particular de características. Mais fósseis devem ser encontrados em outros sítios contemporâneos para chegar a uma conclusão mais robusta sobre a identidade desta espécie".