Escavação em complexo da Idade do Ferro na Costa do Carmelo, em Israel, revelou produção industrial de corante roxo entre 1.100 e 600 a.C.
Publicado em 19/04/2025, às 15h05
Recentemente, arqueólogos encontraram na Costa do Carmelo, em Israel, um grande complexo industrial da Idade do Ferro que produzia o luxuoso corante roxo, que outrora era reservado exclusivamente a membros da realeza e aos sumos sacerdotes. A descoberta ocorreu em Tel Shiqmona, perto da atual Haifa, a refere-se a um local que operou em escala comercial entre 1.100 a.C. e 600 a.C., durante o Primeiro Templo em Jerusalém.
A pesquisa, publicada na PLOS ONE, foi liderada pelo Dr. Golan Shalvi, do Instituto Zinman de Arqueologia da Universidade de Tel Aviv e da Universidade de Chicago, e também pela professora Ayelet Gilboa. As escavações foram feitas por uma equipe colaborativa entre diferentes instituições dos Estados Unidos e de Israel.
Hoje, conforme repercute o Archaeology News, Tel Shiqmona é reconhecido como o único sítio arqueológico do Oriente Próximo em que já foi encontrado um registro contínuo de oficinas de corante roxo. Essa descoberta conta com evidências de ferramentas, escala e métodos utilizados durante a produção, além da extração da púrpura de Tirânia, uma preciosa tinta derivada do muco de moluscos marinhos.
Entre as descobertas mais significativas da produção de corante, estão enormes cubas de cerâmica, algumas que inclusive ainda preservavam resquícios de tinta roxa. Os pesquisadores estimam que, durante o auge da produção de corante na região, até entre 15 e 20 dessas cubas — que tinham um metro de altura e 80 centímetros de largura nas aberturas, com capacidade para 350 litros — poderiam ser usadas simultaneamente, enfatizando a escala industrial de produção.
Ao todo, foram descobertos 176 artefatos relacionados à produção de corantes na área, dos quais 135 ainda preservavam pigmento roxo. Entre eles, estão pedras de moer, conchas de moluscos, e outras ferramentas de processamento.
O professor Zohar Amar, coautor do estudo, da Universidade Bar-Ilan, explica que o corante roxo — chamado de "argaman" em hebraico — era produzido a partir da exposição do muco esverdeado de caracóis marinhos ao ar, que causava uma reação química que os deixava roxos.
Esses pigmentos eram ligados quimicamente aos tecidos em processos de várias etapas, mas o clima úmido da área destruiu qualquer tecido que poderia ter resistido ao tempo. No entanto, a presença de materiais roxos no seco Vale de Timna sugere que Tel Shiqmona pode ter sido inclusive a fonte desse corante.
Conforme repercute o Archaeology News, o corante roxo é mencionado em várias referências bíblicas, o que demonstra a importância da pigmentação na sociedade da época. Fios roxos e azuis, por exemplo, eram parte dos materiais sagrados na construção do Tabernáculo, segundo o Livro do Êxodo, e esse corante também é mencionado na inscrição do rei assírio Senaqueribe, de cerca de 690 a.C..
Por fim, vale mencionar que Tel Shiqmona já foi escavado anteriormente, sendo uma área explorada por arqueólogos desde a década de 1960, mas a maior parte do material industrial deste período seguiu desconhecida até recentemente.
O Dr. Shalvi e sua equipe retornaram ao local para realizar novos estudos sobre sua estratigrafia e reanalisar materiais mais antigos, e acabaram confirmando que a produção de corante começou na área por volta de 1.100 a.C., o que se intensificou com a ascensão do Reino de Israel e, posteriormente, ressurgiu com o período assírio, antes de declinar com a conquista babilônica por volta de 586 a.C., que trouxe consigo um amplo colapso econômico e a destruição do Primeiro Templo em Jerusalém.