Durante décadas, acreditava-se que a maior parte da água do planeta veio de impactos ocasionais com objetos do sistema solar
Um novo estudo sobre a composição de um meteorito encontrado na Antártida pode alterar a compreensão científica sobre como a Terra adquiriu sua água.
Pesquisadores identificaram sulfeto de hidrogênio em um tipo de rocha espacial semelhante aos corpos que formaram o planeta, sugerindo que a Terra pode ter se formado já com os ingredientes necessários para produzir água — e não apenas a partir de colisões com asteroides, como se pensava.
As descobertas, publicadas em 16 de abril na revista Icarus, mostram que os condritos enstatíticos — meteoritos secos e rochosos, com composição semelhante à da Terra — contêm mais hidrogênio do que o esperado, ligado ao enxofre em forma de sulfeto de hidrogênio.
Isso indica que a Terra pode ter contido hidrogênio desde sua formação”, disse James Bryson, cientista planetário da Universidade de Oxford e coautor do estudo, em entrevista ao site Live Science.
Ele ressalta que o hidrogênio teria sido suficiente para reagir com o oxigênio presente na Terra primitiva e formar grandes quantidades de água.
Durante décadas, acreditava-se que a maior parte da água do planeta veio de impactos ocasionais com objetos do sistema solar exterior, impulsionados pela gravidade de Júpiter.
No entanto, essas colisões são consideradas eventos raros e dependentes de condições específicas. Agora, a nova hipótese sugere que a água pode ter surgido como subproduto da própria formação planetária.
Apesar da empolgação, nem todos os especialistas estão convencidos. O meteorologista Conel Alexander, da Carnegie Institution for Science, alerta ao portal que os condritos enstatíticos são altamente reativos ao entrarem em contato com água terrestre. Ele aponta que o meteorito estudado pode ter sido contaminado por gelo ou água derretida da Antártida antes de ser analisado.
Para eliminar qualquer dúvida, Alexander defende à Live Science a necessidade de uma amostra recém-chegada do espaço, manipulada em ambiente completamente isolado. “O ideal seria que um condrito de enstatita caísse na Terra e fosse imediatamente preservado sem contato com água ou oxigênio”, afirmou.
Mesmo com essas incertezas, o estudo amplia o debate sobre a origem da água na Terra e aponta para a possibilidade de que planetas rochosos em outros sistemas também possam se formar com potencial para abrigar oceanos — e, por consequência, vida.