Descoberta reforça a importância dos rituais com substâncias psicoativas na formação política e simbólica das antigas civilizações
Arqueólogos descobriram no Peru uma sala secreta usada há cerca de 2.500 anos por elites locais em rituais com substâncias psicoativas. O espaço, fechado por volta de 500 a.C. no sítio arqueológico de Chavín de Huántar, revelou 23 artefatos feitos de ossos e conchas, contendo resíduos de tabaco e de uma droga alucinógena natural, a dimetiltriptamina (DMT).
Segundo estudo publicado nesta segunda-feira, 5, na revista PNAS, os artefatos incluem tubos de rapé esculpidos — possivelmente a partir das asas de falcões peregrinos — usados para inalação nasal. Os objetos estavam localizados em áreas de acesso restrito, sugerindo que o uso das drogas era reservado a membros da elite durante cerimônias religiosas.
Os tubos são análogos às notas enroladas com as quais personagens cheiram cocaína em filmes”, explicou o arqueólogo Daniel Contreras, da Universidade da Flórida, à Live Science.
Esta é a primeira evidência direta do uso ritual de drogas em Chavín de Huántar, centro cerimonial que floresceu entre 1200 a.C. e 400 a.C., muito antes do surgimento do Império Inca.
A presença controlada de substâncias alucinógenas, segundo os pesquisadores, pode ter contribuído para justificar hierarquias sociais por meio de experiências místicas exclusivas.
Uma das maneiras pelas quais a desigualdade foi naturalizada foi por meio da criação de experiências cerimoniais impressionantes”, afirmou Contreras.
Os autores sugerem que essa prática pode ter influenciado transições sociais mais amplas nos Andes antigos, como a passagem de sociedades igualitárias para impérios hierárquicos como Tiwanaku, Wari e Inca.
A análise microbotânica dos resíduos revelou ainda a presença de raízes de espécies selvagens de tabaco (Nicotiana) e da vilca (Anadenanthera colubrina), cujas sementes e folhas contêm DMT — o mesmo composto encontrado no chá de ayahuasca.
A descoberta reforça a importância dos rituais com substâncias psicoativas na formação política e simbólica das antigas civilizações andinas.