Considerado um 'fóssil vivo', o celacanto pertence a um grupo de peixes que pouco mudou desde os tempos pré-históricos; saiba mais!
Pela primeira vez na história, cientistas registraram imagens de um celacanto-indonésio (Latimeria menadoensis) em seu habitat natural. O feito raro ocorreu em outubro de 2024, durante um mergulho nas profundezas da costa das Ilhas Molucas, na Indonésia. Os detalhes da descoberta foram divulgados apenas em abril deste ano, em artigo publicado na revista Scientific Reports.
Considerado um “fóssil vivo”, o celacanto pertence a um grupo de peixes que pouco mudou desde os tempos pré-históricos. Há milhões de anos nadando nas águas profundas do planeta, ele representa um elo raro com a fauna marinha do passado remoto.
“Os celacantos são indiscutivelmente um dos vertebrados marinhos mais emblemáticos e importantes do ponto de vista evolutivo”, afirmam no artigo os autores do estudo, liderados por Alexis Chappuis, pesquisador do Centro de Estudos Colaborativos em Ecossistemas Aquáticos do Leste da Indonésia.
Até hoje, apenas duas espécies desse peixe enigmático são conhecidas: a africana Latimeria chalumnae, do Canal de Moçambique, e a indonésia Latimeria menadoensis, que habita os mares entre Sulawesi e a Nova Guiné Ocidental.
Por segurança, os pesquisadores optaram por não divulgar a localização exata do encontro, a fim de proteger o animal de eventuais distúrbios provocados pelo turismo.
Com 1,1 metro de comprimento, o celacanto foi avistado a cerca de 144 metros de profundidade, fora de cavernas e saliências — locais tidos como seus esconderijos diurnos naturais.
O espécime manteve a nadadeira dorsal completamente ereta durante todo o tempo, comportamento que pode indicar estado de alerta ou uma reação defensiva.
Surpreendentemente, o mesmo indivíduo foi visto novamente no dia seguinte, na mesma área, permitindo que os cientistas o identificassem com base em seu padrão de cores único. Segundo os pesquisadores, o avistamento abre a possibilidade de que uma nova população desses peixes esteja vivendo na região.
Embora ainda seja cedo para confirmar essa hipótese, os cientistas consideram improvável que um único celacanto esteja isolado em uma área tão extensa quanto o arquipélago das Molucas.
“Esta é uma boa notícia para a conservação de uma espécie altamente vulnerável”, afirmam os autores, em fala repercutida pela Revista Galileu. A presença do celacanto indonésio em uma nova área sugere que sua distribuição pode ser maior do que se acreditava.
A descoberta também renova o apelo por políticas de conservação mais eficazes. Atualmente, todas as populações conhecidas de celacantos enfrentam ameaças provocadas pela ação humana, como pesca predatória e impactos do turismo.
O risco é que surjam novas ameaças com o avanço de atividades turísticas não regulamentadas e focadas no celacanto, que podem ser altamente lucrativas, mas prejudiciais”, alertam os autores do estudo, conforme repercute a Galileu.
A história do celacanto é, por si só, surpreendente. Por muito tempo, acreditou-se que ele tivesse desaparecido junto com os dinossauros, há cerca de 65 milhões de anos.
Essa visão mudou em 1938, quando um animal da espécie africana foi capturado por acaso na costa da África do Sul. A versão indonésia só foi reconhecida oficialmente décadas depois, em 1997, após ser identificada em um mercado de peixes.
Agora, com o primeiro registro fotográfico de um espécime vivo em seu ambiente natural, os celacantos voltam ao centro das atenções científicas — não como relíquias do passado, mas como criaturas resilientes que ainda nadam entre nós.