Ideia inesperada do professor e engenheiro Pietro Teatini promete dar um "fôlego" de cerca de 50 anos à cidade dos canais na Itália; entenda!
Publicado em 07/05/2025, às 08h59
Conhecida como "cidade flutuante", Veneza é uma das cidades que mais atraem turistas em toda a Itália e do mundo; mas, apesar de sua fama ser de que ela flutua, na verdade, ela sofre com um problema oposto: ela afunda.
Somente no último século, estima-se que Veneza afundou cerca de 25 centímetros; e enquanto isso, em paralelo, o nível do mar da região subiu quase 30 centímetros desde 1900. Com isso, enchentes são cada vez mais constantes, e a cidade passa por um lento e contínuo processo de afogamento em suas próprias águas — o que aumenta o encanto da cidade para os visitantes, que querem vê-la antes de ser tarde demais.
Porém, um conceituado engenheiro italiano acredita ter encontrado uma forma inusitada para, pelo menos por algum tempo, salvar Veneza.
Todos os anos, o governo italiano investe milhões de euros para operar barreiras móveis contra as marés extremas que, de tempos em tempos, assolam Veneza. Porém, o que Pietro Teatini, professor associado de hidrologia e engenharia hidráulica da Universidade de Pádua, sugere é especialmente ousado: elevar toda a cidade.
Inspirado em reservatórios subterrâneos de hidrocarbonetos encontrados no Vale do Pó — que armazenam gás natural durante o verão para uso no inverno, e que, quando cheios, provocam uma elevação na altura do solo da região —, ele pensou que Veneza pode ser reerguida, curiosamente, "injetando" mais água.
Veneza afundou entre os anos 1950 e 1970 por causa da extração de água em Marghera", explica Teatini, conforme repercute a CNN Brasil. "Então pensamos: por que não fazer o contrário? Criar poços para injetar água em vez de retirá-la".
Dessa forma, o projeto propõe a perfuração de cerca de 12 poços dispostos em um círculo de 10 quilômetros de diâmetro ao redor de Veneza, e injetar água abaixo de Veneza, que não escaparia devido a uma espessa camada de argila subterrânea.
No entanto, esse projeto não é nada simples, sendo necessário um projeto-piloto anterior para comprovar que a ideia pode realmente funcionar, repercute a CNN Brasil. Mas, caso tudo corresse bem, a água se espalharia pelos aquíferos subterrâneos, elevando a área ao redor de Veneza, bem como a própria cidade.
Vale destacar que levantar Veneza sobre um "colchão d'água" pode parecer o prelúdio de uma catástrofe, e realmente, caso algum engano aconteça, pode ser um verdadeiro desastre para a cidade. Porém, Teatini garante que, caso feito com cuidado, o projeto é seguro.
Queremos uma elevação de no máximo 20 a 30 centímetros justamente para não provocar rachaduras", explica o engenheiro. "Se houver rachaduras, é um desastre. A ideia é manter uma pressão baixa, com aditivos que expandem o solo sem rompê-lo".
Mesmo assim, caso o projeto avance e dê certo, Teatini reforça que essa é apenas uma solução temporária. Isso porque 30 centímetros seria o limite seguro para se elevar a cidade, e ainda, para evitar uma sobrecarga dos aquíferos, o ritmo de bombeamento de água teria que cair até cinco vezes ao longo de 10 anos — caso o bombardeamento seja interrompido, o solo voltaria a se contrair. Porém, os estimados 50 anos que a ideia pode garantir à Veneza pode ser suficiente para o desenvolvimento de novos métodos.
De qualquer forma, agora o projeto ainda precisa passar por maiores avaliações para determinar a possibilidade de realizá-lo. Porém, o que Teatini pontua é que o que ele visa é simplesmente preservar esse local tão singular do mundo:
"[...] é uma cidade única — não existe outro lugar como Veneza. E é por isso que acredito que precisamos preservá-la em seu ambiente original: sua lagoa. Veneza no alto de uma colina não seria Veneza; no meio de um lago tampouco seria. Se for possível, ela deve continuar onde sempre esteve, entre os pântanos, com suas gôndolas e vaporettos", afirma o engenheiro.
"Como italiano que vive aqui, poder ver essa cidade maravilhosa todos os dias é um privilégio — e acho que devemos fazer o possível para preservá-la o máximo de tempo que conseguirmos", conclui Teatini.